Integrantes do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres do CBMMG se juntam aos bombeiros do Rio e de mais 13 estados para ajudar nas buscas
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press
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A trag�dia provocada pelas fortes chuvas de ter�a-feira em Petr�polis, no Rio de Janeiro, mobiliza o pa�s inteiro nas buscas pelas v�timas e no amparo aos sobreviventes, enquanto o desastre apresenta n�meros cada vez mais dram�ticos: na noite de ontem, o total de mortos chegava a 136 e mais 200 pessoas estavam desaparecidas. Uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) seguiu ontem para cidade fluminense. Eles se juntam aos 500 bombeiros do Rio e a um contingente de aproximadamente 80 militares provenientes de mais 13 estados para integrar essa a��o emergencial. Al�m disso, uma associa��o de ajuda humanit�ria de Minas, a Humus, tamb�m presta aux�lio no local.
Enquanto as chances de encontrar pessoas com vida se reduzem, as autoridades ainda lidam com a dificuldade de identificar e liberar os corpos e, assim, diminuir um pouco o sofrimento das fam�lias. Em meio ao luto, o medo ainda paira sobre a cidade, que voltou a ser castigada pelas chuvas. O Instituto M�dico-Legal (IML) informou que, entre as v�timas, h� 79 mulheres e 41 homens, sendo 21 menores de idade. Ao todo, 70 corpos foram identificados, e outros 64, liberados. O IML tamb�m recebeu partes de outros corpos, mas, neste caso, n�o � poss�vel identificar se s�o de homem ou de mulher. Exames ser�o feitos com parentes de desaparecidos para identifica��o das v�timas.
A equipe dos bombeiros de Minas escalada para a miss�o em Petr�polis � formada por 14 militares especialistas em salvamento e soterramento, enchentes e inunda��es, busca e resgate em estruturas colapsadas e buscas com c�es. O grupo tem experi�ncia de atua��o em v�rias cat�strofes semelhantes como os rompimentos das barragens de min�rio em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), a ajuda humanit�ria oferecida a Mo�ambique ap�s a devasta��o por ciclones (2019) e ao Haiti, depois de terremoto (2021) e, por �ltimo, no trabalho integrado nas chuvas que atingiram a Bahia no in�cio deste ano.
Os militares levaram dois c�es especializados em busca em estruturas colapsadas, quatro viaturas. E equipamentos pr�prios como detector de vida, detector de vida s�smico, bote, barco, geradores, luzes de cena, materiais de escoramento/rompimento, salvamento em enchentes/veicular/terrestre/altura, entre outros. O grupo vai atuar de forma integrada ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CMBERJ) em a��es de busca, salvamento, preven��o e gest�o do Sistema de Comando de Opera��es.
Chances de encontrar v�timas ainda com vida diminuem a cada momento (foto: Carl de Souza/AFP
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VOLUNT�RIOS
Por sua vez, a Humus disponibilizou sete volunt�rios, entre bombeiros licenciados ou reformados, para prestar aux�lio a Petr�polis, sendo a maioria de Minas Gerais e um de Santa Catarina. Entre eles est� L�o Farah, capit�o do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que chegou � cidade na madrugada de quarta-feira.
“Normalmente, a Humus � acionada por pessoas que foram impactadas ou que recebem a not�cia de um desastre e conhecem o trabalho. Nessa ocorr�ncia em Petr�polis, fomos acionados primeiramente por um amigo, que � jornalista e tem fam�lia na regi�o. Logo em seguida, muitos bombeiros que fizeram o curso de opera��es em desastres comigo mandaram mensagens. Ent�o, come�amos a receber muitas imagens de diversos locais da cidade atrav�s das redes sociais e de nossos contatos pessoais”, explica o capit�o.
Ele conta que, a partir dessas imagens, reuniu um grupo para auxiliar nos resgates. “Avaliamos a situa��o, at� mesmo da dificuldade de acesso de equipes via Rio de Janeiro, e decidimos reunir um primeiro grupo para nos deslocarmos de Belo Horizonte at� a regi�o para auxiliar as equipes de busca que j� estariam por l� – ou at� mesmo em �reas que n�o tivessem sido acessadas ainda”, afirma.
Farah relata os primeiros trabalhos realizados: “Fomos acionados para uma �rea onde havia uma senhora presa debaixo de escombros. Havia um resgatista no local. Inicialmente, auxiliamos com orienta��es e apoio, mas a �rea de resgate estava apresentando muito risco e a senhora estava com muita dor e cansa�o. Ent�o, interviemos no local e auxiliamos na retirada. Ela foi levada para o hospital com vida.”
A Humus participou ainda do resgate de uma crian�a, um menino de 11 anos. Infelizmente, alguns familiares n�o sobreviveram. L�o Farah avalia que as chances de pessoas ainda serem encontradas com vida s�o baixas. “Os protocolos dizem que em at� 7 dias as buscas seguem nesse sentido. Existem casos no mundo que chegam at� 63 dias (como nos terremotos do Paquist�o, em 2015). Mas, infelizmente, pelo que vimos no local e pelas caracter�sticas desse tipo de desastre, envolvendo lama, as chances s�o muito baixas. Vamos retomar a opera��o em Petr�polis, a fim de ajudar a localizar pessoas ainda desaparecidas e levar um pouco de conforto para as fam�lias”, refor�a.
“Em qualquer desastre, o tempo de resposta � um fator fundamental. Muitas vezes � isso que vai decidir sobre o salvamento de uma pessoa com ou sem vida. Basicamente, as chances de um resgate com vida se reduzem de 90% para 7% entre a 1ª e a 120ª hora (quinto dia)”, diz Leonard Farah.
Ele explica que s�o as caracter�sticas de cada desastre que v�o definir se h� mais ou menos tempo para uma a��o de resposta. “Um acidente de tr�nsito, um inc�ndio, um afogamento, um rompimento de barragem, um deslizamento de terra t�m elementos que podem dar mais ou menos tempo para o resgate. Mesmo assim, as vari�veis tamb�m s�o diferentes a cada desastre.”
O capit�o lembra ainda que os esfor�os de resgate “devem seguir protocolos e prioridades, sem colocar em risco mais pessoas, mas tendo a certeza que mesmo se as expectativas de encontrar pessoas com vida forem nulas, o resgate deve ser realizado para que familiares e amigos possam encerrar aquela hist�ria com dignidade e respeito”.
Em meio �s buscas intensas, chuvas aumentaram temor de novos deslizamentos (foto: Carl de Souza/AFP
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Cidade mergulhada em luto e medo
Rio de Janeiro – A cidade serrana de Petr�polis voltou a registrar fortes chuvas ontem, tr�s dias ap�s um temporal hist�rico que deixou ao menos 136 mortos e cobriu bairros inteiros de lama, sob a qual ainda h� 218 desaparecidos, segundo balan�o feito na noite de ontem. Na antiga cidade imperial, situada ao norte do Rio de Janeiro, o trabalho de busca n�o para, apesar de a esperan�a de encontrar v�timas com vida seja escassa. Em meio ao caos, um novo problema. Autoridades receberam ontem den�ncias de saques em casas desocupadas pelos moradores nas �reas de risco. Quase 970 pessoas est�o desabrigadas ou desalojadas. Em 24 pontos da cidade, 41 equipes de bombeiros trabalham nas buscas.
O Morro da Oficina, uma das colinas do bairro Alto da Serra, pode ser considerado o epicentro da trag�dia. Cerca de 80 casas foram engolidas com for�a pelas torrentes de barro que arrastaram carros, �nibus com passageiros e tudo ao seu redor. "Pode ser que ainda tenha mais de 50 pessoas aqui embaixo, desde ter�a-feira j� foram retirados 98" corpos, explicou Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e volunt�rios retiravam escombros e cavavam a lama com p�s e enxadas em busca de algum vest�gio de vida. "Gostar�amos de terminar o quanto antes, mas aqui temos que trabalhar at� que saia o �ltimo", acrescentou.
Pela manh� e no come�o da noite, choveu com for�a e as autoridades municipais voltaram a ativar as sirenes de alerta por riscos de deslizamento. "Todo o mundo est� com muito medo. Qualquer barulho voc� se assusta. Toda a cidade est� assim. � apavorante", disse Antenor Alves de Alc�ntara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para o morro mais pr�ximo. "� bom o presidente nos visitar, mas n�o vai mudar nada", acrescentou, referindo-se ao sobrevoo feito ontem no local pelo chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro.
O desastre apresenta n�meros cada vez mais dram�ticos. At� o fechamento desta edi��o, haviam sido confirmadas 136 mortes, o resgate de 24 pessoas com vida e 967 moradores deslocados. Os n�meros de desaparecidos s�o confusos, devido �s dificuldades na identifica��o de corpos. At� quinta-feira, a Pol�cia Civil registrava 116 desaparecidos. Ontem, o total subiu para 218. Mas os n�meros passam por revis�o � medida que sobreviventes s�o localizados, as fam�lias registram novos nomes ou corpos s�o identificados.
Os especialistas afirmam que a trag�dia � consequ�ncia de uma combina��o de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a m�dia hist�rica de todo fevereiro, a topografia da regi�o e a exist�ncia de grandes bairros com casas prec�rias, muitas delas constru�das de forma ilegal, nas �reas de risco.
Destro�os �s margens da BR-040
Os destro�os retirados das ruas e de locais de deslizamento de terra em Petr�polis, no estado do Rio, ser�o levados para um terreno localizado �s margens da BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Bras�lia. A informa��o foi divulgada pelo Minist�rio P�blico (MPRJ). O �rg�o acrescentou que a cidade carece de �reas licenciadas para a destina��o desse tipo de res�duo. Mas como a situa��o � emergencial, buscou-se uma �rea que cause o menor impacto poss�vel. O local pensado anteriormente tinha nascentes de recursos h�dricos, por isso teve que ser descartado. O MPRJ montou uma for�a-tarefa para atuar na cidade afetada por chuvas intensas nos �ltimos dias. Al�m de auxiliar nos trabalhos de libera��o de corpos e busca por desaparecidos, o Minist�rio P�blico tamb�m est� expedindo solicita��es de vistorias para a Defesa Civil, entre outras atividades.
enquanto isso...
...Papa reza pelas v�timas
O papa Francisco prestou solidariedade �s v�timas da trag�dia em Petr�polis, na regi�o serrana do Rio de Janeiro, ontem. Por meio de um telegrama, enviado pela Santa S� ao bispo de Petr�polis, o secret�rio do pont�fice, cardeal Pietro Parolin, disse que o papa est� rezando pelas v�timas.
"O Santo Padre, ao tomar conhecimento com profundo pesar das tr�gicas consequ�ncias do deslizamento de terras nessa cidade, confia ao senhor bispo transmitir �s fam�lias das v�timas as suas condol�ncias e a sua participa��o na dor de todos os enlutados ou despojados de seus haveres", escreveu em portugu�s. Francisco tamb�m disse que deseja "pronto restabelecimento e serenidade e consola��o da esperan�a crist� para todos os atingidos pela dolorosa prova��o".