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Estado de Minas MINERA��O

Obras em barragem da Vallourec levam novo pesadelo a comunidade vizinha

Em Piedade do Paraopeba, abaixo do reservat�rio de rejeitos Santa B�rbara, moradores n�o t�m mais sossego desde inunda��o, em janeiro


14/03/2022 04:00 - atualizado 14/03/2022 00:30

Vista do dique de rejeitos da Mina de Pau Branco, da Vallourec
Movimento de m�quinas e oper�rios indica obras no entorno da Barragem Santa B�rbara: segundo mineradora, apenas interven��o no vertedouro (foto: Mateus Parreiras/EM/D.a Press)

 

A �gua, antes l�mpida, agora s� desce barrenta. Uma lama fina misturada a min�rio cinzento recobre pedras e leito dos c�rregos, trazida pela enxurrada em momentos de chuva ou mesmo nos dias abertos de sol. Os po�os que serviam para se banhar e pescar v�o sendo assoreados. Em vez de cobrir os banhistas, mal chegam aos joelhos. S�o mudan�as observadas no C�rrego Carrapato (Ribeir�o Piedade) que preocupam moradores de Piedade do Paraopeba desde que a Barragem Santa B�rbara, na Mina de Pau Branco, da Vallourec, 1,3 quil�metro acima, come�ou a passar por obras e a acumular ao seu lado uma pilha de material removido na interven��o. Como o Estado de Minas mostrou na edi��o de ontem, �rea pr�xima � represa recebe deposi��o semelhante � do setor norte do complexo. L�, outro reservat�rio, o Dique Lisa, transbordou ap�s desabamento de parte de uma pilha parecida, soterrando e interditando por quase um dia a rodovia BR-040 na altura do trevo de Ouro Preto.

 

A �rea em quest�o ser� alvo de visita de deputados estaduais da Comiss�o de Administra��o P�blica da Assembleia Legislativa e de monitoramento apoiado pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais, segundo a Procuradoria-Geral de Justi�a. A Vallourec garante que as estruturas s�o seguras, que as obras na Barragem Santa B�rbara foram apenas para instalar um novo vertedouro e estruturas de drenagem, e n�o para amplia��o do reservat�rio, e que a pilha erguida vai receber somente o material que foi removido para a interven��o do vertedouro, e n�o rejeitos, como o do dep�sito que desabou sobre o barramento e inundou a rodovia, deixando a �rea em n�vel 2 de emerg�ncia (evacua��o de locais de risco e obras emergenciais).

 

A equipe do EM esteve na �rea da Barragem Santa B�rbara e constatou movimenta��o de muitos oper�rios, caminh�es e escavadeiras. Tr�s pontos do setor se encontravam com tr�nsito de maquin�rio e homens, o que sugere obras ou interven��es de manuten��o. Um deles � a base do barramento, que det�m quase 1 milh�o de metros c�bicos (m3) de sedimentos, segundo a Vallourec, 100 vezes mais que o Dique Lisa, que soterrou a rodovia BR-040. Um ponto de concentra��o de pedras pode ser observado pr�ximo ao vertedouro rec�m-constitu�do, quando a barragem esteve classificada em n�vel 1 de emerg�ncia – situa��o que indica necessidade de interven��es urgentes.

 

Outro ponto fica na ombreira esquerda da estrutura (um dos pontos onde a barragem se apoia no relevo montanhoso) e na margem do mesmo lado, onde caminh�es despejaram pedras. Mais acima, a cerca de 200 metros da l�mina d'�gua escura, � onde escavadeiras e caminh�es erguem a Pilha Santa B�rbara. Esse � o local que vizinhos da barragem e lideran�as ambientais temem que sirva futuramente para receber rejeitos, dando margem a deslizamentos como o que interditou a BR-040 – embora a empresa garanta que se destine apenas a receber material removido por escava��es da obra do vertedouro, abaixo.

 

Maria Dalva dos Santos, moradora de Piedade do Paraopeba
"Nunca mais tive sossego. Quando escuto uma zoeira no meio do mato, �s vezes de vento, �s vezes de m�quinas da minera��o, j� acho que � o pesadelo desaguando atr�s da gente de novo, como foi l� em Brumadinho", Maria Dalva dos Santos, moradora de Piedade do Paraopeba (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.a press)

 

Tempestade e desespero

 

Sob a chuva forte de 8 de janeiro deste ano, as not�cias de que a rodovia tinha sido encoberta por milhares de metros c�bicos de material miner�rio de uma das barragens da Mina de Pau Branco j� deixava em alerta a comunidade de Piedade do Paraopeba, do outro lado do empreendimento da Vallourec. “A�, de repente, desceu a inunda��o do C�rrego Carrapato, que vem de outra barragem da mineradora, a Santa B�rbara, onde est�o fazendo as obras”, lembra o cabeleireiro Rodrigo Pereira de Souza, de 41 anos. “A �gua subiu e entrou em algumas casas, destruiu a ponte e as ruas. Foi um p�nico, todos querendo sair, com medo de descer a barragem em cima da gente, como foi em Brumadinho”, conta, fazendo refer�ncia a 2019, quando 270 pessoas morreram com o rompimento da Barragem B1, da Mina C�rrego do Feij�o.

 

At� hoje, as ruas por onde passa o C�rrego do Carrapato t�m eros�es, pontos que desabam aos poucos, engolidos pelo manancial. As cabeceiras da ponte de acesso � parte baixa da comunidade foram escavadas pela for�a da correnteza e a liga��o precisou ser interditada. Canaliza��es de �gua e esgoto foram expostas e arruinadas em v�rios pontos. Nas paredes das casas, marcas de lama chegam � altura da cintura. Do lado de dentro, sof�s, colch�es e aparelhos eletrodom�sticos se perderam, encobertos pela correnteza que invadiu as moradias.

 

Esse desespero, t�o pr�ximo de casa, de onde se via a fuga dos vizinhos do que imaginavam ser uma onda descendo da barragem, persegue a costureira e dona de casa Maria Dalva dos Santos, de 65 anos, quando dorme e at� quando est� acordada. “Nunca mais tive sossego. Quando escuto uma zoeira no meio do mato, �s vezes de vento, �s vezes de m�quinas da minera��o, j� acho que � o pesadelo desaguando atr�s da gente de novo, como foi l� em Brumadinho”, conta. “O que eu queria mesmo era que a Vallourec indenizasse a gente. Comprasse a nossa casa. Nunca mais vou ter sossego aqui. Nunca mais aquela vidinha simples”, lamenta a costureira.

 

EM flagra condições da água do Córrego Carrapato
Lama com tra�os de min�rio que passou a tingir as �guas e assorear o C�rrego Carrapato � uma das maiores preocupa��es de moradores, que temem ser pren�ncio de problemas (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.a press)
 

�gua turva � sinal de preocupa��o

 

O escurecimento da �gua que desce da barragem em obras � um dos principais fatores de preocupa��o para a comunidade de Piedade do Paraopeba, j� que a condi��o nunca tinha sido permanente, mas apenas fen�meno passageiro, ap�s as chuvas, como relata o jardineiro Jaime Ant�nio dos Santos, de 69 anos, que h� 50  frequenta o Vale do C�rrego Carrapato, seja para pescar, nadar ou namorar. “Depois da Barragem (Santa B�rbara) e das obras nela e desta pilha � que come�ou a descer essa lama, esse min�rio. A gente n�o pode mais pescar, tomar banho. E ainda fica sem saber se est� seguro aqui. Porque toda barragem que se partiu disseram antes para n�o nos preocuparmos”, compara.

 

Os artistas pl�sticos Jessica Martins, de 33, e Jos� Alberto Bahia, de 39, viram o para�so ecol�gico que alugaram no meio da mata atl�ntica se revestir de incertezas e polui��o desde que as obras na barragem come�aram. “Pedimos insistentemente para que a Vallourec nos leve at� a barragem, nos mostre o que est� fazendo. Precisamos saber se a lama e o min�rio que descem da barragem pelo c�rrego s�o de rejeitos. Mas adiaram as visitas e n�o marcam outras”, afirma J�ssica.

 

“Ouvimos funcion�rios aposentados da empresa dizendo j� terem visto o despejo de rejeitos na barragem, e isso nos preocupa. Essa lama n�o estava aqui at� novembro do ano passado. Agora est� encobrindo as pedras, que s�o estruturas de apoio de l�quens e algas que purificam o c�rrego e trazem vida para o ecossistema. Isso est� se perdendo”, afirma Bahia, que mora com J�ssica a pouco mais de 500 metros do reservat�rio.

 

“Descartamos esse projeto”

 

A Vallourec informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a Barragem Santa B�rbara n�o vem sendo ampliada (alteada), e que tanto essa estrutura quanto a pilha formada acima n�o recebem e n�o receber�o rejeitos de min�rio de ferro. Segundo declarado no �ltimo dia 24 pelo gerente de meio ambiente da mineradora, Leonardo Maldonado, em audi�ncia p�blica na Assembleia Legislativa de Minas, a obra emergencial da Vallourec n�o constitui constru��o, amplia��o ou alteamento do reservat�rio.

 

Mas moradores e ambientalistas acusam a empresa de usar na instala��o do vertedouro o mesmo projeto de amplia��o enviado em 2017 para futuramente tamb�m depositar rejeitos na barragem e na pilha. 

 

“Esse projeto antigo realmente previa um alteamento de 4 metros da Barragem Santa B�rbara, mas informamos que o projeto foi descartado a partir do momento em que saiu a Lei das Barragens. Descartamos totalmente esse projeto, pois a legisla��o o vedava completamente. N�o foi de forma alguma implantado”, assegura o representante da mineradora.

 

“O licenciamento e a previs�o da pilha que consta junto do licenciamento emergencial foram definidos naquele lugar para evitar qualquer transporte da obra por Piedade do Paraopeba, mesmo que n�o fosse min�rio, por isso fizemos estudos para disposi��o da pilha. N�o � de est�ril e nem de rejeito da atividade miner�ria, mas s� das escava��es e das obras do vertedouro. N�o tem rela��o com as atividades da mina”, disse.

 


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