Situada no cora��o do Centro Tradicional de Belo Horizonte, a t�o referenciada Pra�a Sete recebeu esta denomina��o em 1924, com a instala��o do obelisco comemorativo dos 100 anos da independ�ncia do pa�s. Sua privilegiada localiza��o na zona urbana principal integra o projeto urban�stico concebido pela Comiss�o Construtora da Nova Capital, liderada, no come�o, pelo engenheiro Aar�o Reis. Inicialmente designada Pra�a Doze de Dezembro, em homenagem � data da funda��o da capital (1897), o espa�o tinha como miss�o principal centralizar, distribuir e simbolizar as din�micas pr�prias da cidade moderna. O fator vocacional privilegiado, favorecido pelo desenho urban�stico, foi definido pela comiss�o: Bairro Comercial. Assim, recortada pelas ruas Rio de Janeiro e Carij�s e as avenidas Afonso Pena e Amazonas – respectivamente vetores Norte/Sul e Leste/Oeste da cidade –, a pra�a iniciou sua destina��o.
Com o passar das d�cadas, os servi�os e com�rcio, bares, caf�s, restaurantes, hot�is, servi�os p�blicos e, especialmente, os financeiros introduzem um particular adensamento nas �reas circundantes e nos quadrantes cont�guos ao local. E, na composi��o da fisionomia dessa paisagem, emerge toda uma trama social e pol�tica que transformar� a pra�a em um local exponencial da sociabilidade e suas deriva��es.
Na experi�ncia cotidiana, a pra�a como lugar dos interc�mbios por excel�ncia alcan�a as a condi��o de palco das manifesta��es pol�ticas. Essas t�m seu marco introdut�rio em 1912, com a greve dos oper�rios e depois de outras categorias lideradas pelos servidores p�blicos, que elegeram a pra�a como seu s�mbolo de luta e reivindica��o. Em seguida h� registros de manifesta��es p�blicas por ocasi�o da entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, em 1917. A Pra�a 12 de Dezembro e o Centro se institucionalizam como centralidade cristalizada da express�o pol�tica.
Durante a d�cada de 1930, essas imedia��es do Centro receberam modifica��es substantivas em rela��o � paisagem urbana e arquitet�nica. O patamar de ocupa��o dos quarteir�es pautado pela escala humana se renova e tem in�cio o processo de verticaliza��o do Centro. A pra�a, j� denominada Sete de Setembro, integra tamb�m o rotor e abrigo dos bondes e de uma massa arb�rea paisag�stica, que emoldura estabelece uma continuidade com os canteiros da Avenida Afonso Pena.
E com essas inova��es, h�bitos se evidenciam no cotidiano dos moradores, entre eles a pr�tica do footing nas proximidades dos cinemas. O Cine Brasil, constru�do em 1937 na pra�a, com sua arquitetura art-d�co, inaugura uma segunda gera��o de edif�cios que culminam, nas d�cadas subsequentes, com a renova��o definitiva da arquitetura do lugar. Com as novas demarca��es no espa�o, proliferam os bares, caf�s, leiterias, confeitarias. Esses e os cinemas s�o eleitos, naquele per�odo, entre outros servi�os, os principais fatores atrativos do centro comercial.
A chegada do movimento art�stico do modernismo, presente em Minas a partir de meados da d�cada de 1940, registra simultaneamente o final dos bondes e a presen�a progressiva dos sistemas transporte coletivo (�nibus) e individual (autom�vel). Por meio do ent�o prefeito e depois governador Juscelino Kubitschek, chega a BH o memor�vel e respeitado arquiteto Oscar Niemeyer. Al�m da fundamental contribui��o com o conjunto arquitet�nico e paisag�stico da Pampulha, Niemeyer construiu na Pra�a Sete a nova sede do Banco Mineiro da Produ��o (Bemge), inaugurado em 1953.
Ainda na mesma d�cada, s�o inaugurados na pra�a o Edif�cio Clemente de Faria, o Banco da Lavoura, projeto do importante arquiteto �lvaro Vital Brasil. E, em seguida, outros dois relevantes edif�cios estar�o presentes na pra�a: o Helena Passig, projetado pelo renomado arquiteto e professor da Escola de Arquitetura da UFMG Raphael Hardy Filho, e o Joaquim de Paula, inaugurado em 1959 e projetado por Ulpiano Muniz.
A Pra�a Sete de Setembro, palco de acontecimentos memor�veis da capital belo-horizontina, se consolida tamb�m nas d�cadas de 1960 em diante como um marco simb�lico das manifesta��es pol�ticas, que atestam o direito da cidade � reivindica��o. Por fim, vale precisar que a Pra�a Sete congrega para si uma s�ntese metaf�rica das din�micas econ�micas e das modula��es diversas do social, cultural e pol�tico da capital. Por isso, uma legenda que vale a pena rememorar.
(*) Professora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
