
Ap�s o epis�dio, a empreendedora e o tio reportaram o caso na administra��o do centro comercial e registaram uma den�ncia no Minist�rio P�blico. “Foi p�ssimo, horr�vel. A gente nunca espera que em um passeio aconte�a esse tipo de coisa”, conta em entrevista ao Estado de Minas. “Sempre ouvi falar de racismo, mas, quando acontece com a gente, o buraco � mais embaixo”, desabafou.
"A gente sabe a diferen�a de olhar de desconfian�a"
J�lia foi ao P�tio Savassi na manh� de s�bado (19/3) com o tio, o professor Vitor Bedeti. Ele tinha uma reuni�o em um banco no centro comercial. Ela resolveu esper�-lo no pr�prio shopping. A reuni�o demorou e, passada cerca de uma hora e meia, J�lia come�ou a se sentir desconfort�vel.
“Fiquei sentada em um banco esperando por volta de uma hora. Enquanto estava sentada, v�rios seguran�a passavam, olhavam, encaravam... Toda hora! A gente sabe a diferen�a de olhar de desconfian�a para a gente e quando est�o olhando o ambiente”, relatou a empreendedora, em trechos de stories publicados no Instagram.
Em seguida, para “passar o tempo”, J�lia deu voltas no shopping olhando as lojas. Cerca de meia hora depois, um seguran�a do shopping abordou a jovem em uma escada rolante, bloqueando a passagem. "Ele disse: ‘hoje t� aqui s� dando voltinha, n�?’ No sentido de que o shopping � pequeno e eu estava passando naquele local v�rias vezes”, contou J�lia.
“Eu fiquei super constrangida porque foi na frente das outras pessoas. E a gente sabe que julga mesmo. Mas n�o foi no sentido de brincadeira. Nunca tinha acontecido de nenhum seguran�a de nenhum shopping me parar para falar algo assim”, completou.
J�lia contou que a maioria das pessoas que estavam no shopping a lazer eram brancas e as pessoas pretas estavam trabalhando. “De preto, que estava passando, eram eu e meu tio”.
Aos prantos
Ap�s a abordagem do seguran�a, a empreendedora entrou em uma loja e comprou um produto “para mostrar que poderia estar no shopping”.
Assustada, J�lia ficou sem rea��o e sentou-se na pra�a de alimenta��o. “O �nico sentimento que eu tive � que parecia que eu estava sendo espancada na frente de todo mundo”, conta.
Ao mesmo tempo, assim que terminou a reuni�o, Vitor ficou apreensivo ao n�o achar a sobrinha. “Eu liguei para ela, mas ela n�o conseguia me atender. Eu rodei o shopping procurando e encontrei com ela na pra�a de alimenta��o. Ela estava aos prantos. Eu tamb�m tomei aquele susto”, relata Vitor.
O tio conta que a sobrinha estava se sentindo constrangida e queria ir para casa, mas ele incentivou que ela fizesse as den�ncias para evitar que a situa��o se repita.
“N�o vai ficar por isso. Porque, se aconteceu comigo, que tenho um celular bacana, estava com uma bolsa cara, com uma sand�lia cara... Imagina para as pessoas que n�o tem isso que eu tenho. Imagina o tratamento”, disse J�lia em seu Instagram.
O que diz o P�tio?
Em nota divulgada na noite deste domingo (20/3), o P�tio Savassi afirma que est� apurando os fatos do ocorrido e se disp�s a trabalhar em conjunto com as autoridades nas investiga��es. Al�m disso, o shopping completou que “n�o compactua, n�o tolera e repudia quaisquer atitudes discriminat�rias”.
"O colaborador de seguran�a que fez contato com a cliente afirmou que a abordou para lhe oferecer ajuda. Ap�s seu relato, a equipe de atendimento tentou fazer contato novamente com a cliente, mas at� o momento n�o obteve retorno", diz, em trecho de nota (leia a �ntegra abaixo).
'N�o fui a primeira'
Assim que a fam�lia conversou com a chefe de seguran�a do shopping, a funcion�ria disse que esta forma de abordagem da equipe “n�o acontece”. Por�m, J�lia conta que recebeu v�rios relatos de outras pessoas que passaram pela mesma situa��o no local.
J�lia conta que est� tomando todas as provid�ncias necess�rias para que o caso n�o fique ileso. O principal intuito � evitar que outras pessoas pretas passem pela mesma situa��o.
“Tudo o que eu estou fazendo � para que o shopping mude a forma de treinamento dos seguran�as e outras pessoas n�o precisem passar por isso que eu to passando”, ressalta, em entrevista ao EM.
A fam�lia j� escreveu uma queixa no Servi�o de Atendimento ao Cliente do shopping e no Minist�rio P�blico.
Racismo � crime e pode ser denunciado no n�mero 100.
Redes Sociais
O tio tamb�m postou um v�deo em seu perfil no Instagram relatando o caso. A postagem conta com 20 mil visualiza��es e 169 coment�rios. J�lia conta que recebeu apoio online, mas outras pessoas desacreditaram de seu relato.
Nota do P�tio Savassi
“O shopping informa que est� apurando os fatos e, desde j�, reitera que n�o compactua, n�o tolera e repudia quaisquer atitudes discriminat�rias. Imediatamente ao tomar conhecimento da situa��o relatada pela cliente, a equipe de atendimento prestou suporte a ela e buscou verificar o ocorrido. O colaborador de seguran�a que fez contato com a cliente afirmou que a abordou para lhe oferecer ajuda. Ap�s seu relato, a equipe de atendimento tentou fazer contato novamente com a cliente, mas at� o momento n�o obteve retorno. O shopping afirma que permanece aberto ao di�logo e � disposi��o das autoridades”.
O que � racismo?
O artigo 5º da Constitui��o Federal prev� que “Todos s�o iguais perante a lei, sem distin��o de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pa�s a inviolabilidade do direito � vida, � liberdade, � igualdade, � seguran�a e � propriedade.”
Desse modo, recusar ou impedir acesso a estabelecimentos, recusar atendimento, impedir ascens�o profissional, praticar atos de viol�ncia, segrega��o ou qualquer outra atitude que inferiorize ou discrimine um cidad�o motivada pelo preconceito de ra�a, de etnia ou de cor � enquadrado no crime de racismo pela Lei 7.716, de 1989.
Desse modo, recusar ou impedir acesso a estabelecimentos, recusar atendimento, impedir ascens�o profissional, praticar atos de viol�ncia, segrega��o ou qualquer outra atitude que inferiorize ou discrimine um cidad�o motivada pelo preconceito de ra�a, de etnia ou de cor � enquadrado no crime de racismo pela Lei 7.716, de 1989.
Qual a diferen�a entre racismo e inj�ria racial?
Apesar de ambos os crimes serem motivados por preconceito de ra�a, de etnia ou de cor, eles diferem no modo como � direcionado � v�tima. Enquanto o crime de racismo � direcionado � coletividade de um grupo ou ra�a, a inj�ria racial, descrita no artigo 140 do C�digo Penal Brasileiro, � direcionada a um indiv�duo espec�fico e classificada como ofensa � honra do mesmo.
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Penas previstas por racismo no Brasil
A Lei 7.716 prev� que o crime de racismo � inafian��vel e imprescrit�vel, ou seja, n�o prescreve e pode ser julgado independentemente do tempo transcorrido. As penas variam de um a cinco anos de pris�o, podendo ou n�o ser acompanhado de multa.
Penas previstas por inj�ria racial no Brasil
O C�digo Penal prev� que inj�ria racial � um crime onde cabe o pagamento de fian�a e prescreve em oito anos. Prevista no artigo 140, par�grafo 3, informa que a pena pode variar de um a tr�s anos de pris�o e multa.
Como denunciar racismo?
Caso seja v�tima de racismo, procure o posto policial mais pr�ximo e registre ocorr�ncia.
Caso testemunhe um ato racista, presencialmente ou em publica��es, sites e redes sociais, procure o Minist�rio P�blico e fa�a uma den�ncia.