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Estado de Minas

Artistas de rua encarnam est�tuas vivas espalhados por BH

Eles se integram �s cenas di�rias em pontos tradicionais, despertando desejos, sonhos e a aten��o sempre em movimento


26/03/2022 07:00 - atualizado 26/03/2022 07:26

DIAS ADMIRÁVEIS
Carlos Alberto se apresenta, na Pra�a Sete, como um rei mago, que atrai olhares e, para quem decide se aproximar dele, quebra a rotina da vida corrida. Nas crian�as, o mais comum � ativar encantamento e sentidos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 18/12/21)

Aos olhos est�ticos de Carlitos, a cidade � o palco com milhares de personagens, a��es e destinos. Cada pessoa tem sua din�mica: uns v�o, outros voltam, param, respiram, seguem seu curso. “Sou espectador de um grande espet�culo de arte em movimento”, conta Jos� Carlos Gomes, de 45 anos, professor de arte c�nica e, dependendo da inspira��o,  pronto para se transformar no imperador J�lio C�sar, em celestial arcanjo ou no Carlitos imortalizado por Charles Chaplin.


Est�tuas vivas se movem em solo belo-horizontino e podem ser encontradas em pontos de grande circula��o de p�blico, a exemplo da Pra�a Sete e Avenida Afonso Pena – especialmente aos domingos, durante a Feira de Artes, Artesanato e Variedades (Feira Hippie) –, no Centro, ou diante do Mercado Central, no Bairro Barro Preto. Algumas s�o itinerantes, ultrapassam os limites da cidade, �s vezes as divisas do estado, e, embora silenciosas, agradecem elogios, oferecem mensagens a quem d� uma contribui��o e fazem “ouvidos de mercador” se escutam palavras desagrad�veis.

Carlos Gomes estava a postos na Afonso Pena, desta vez personificando Carlitos. Professor de teatro e tamb�m dono de uma espetaria no Bairro Bonfim, na Regi�o Noroeste de BH, Carlos tem dois segredos para se manter est�tico das 8h �s 14h, com, evidentemente, pequenas pausas para concentra��o e medita��o. “A parte mais expressiva, no meu caso, � o olhar, e fico muito tempo sem piscar devido tamb�m � maquiagem”, revela o belo-horizontino, que se apresenta ainda na Feira do Bairro Eldorado, em Contagem, na regi�o metropolitana da capital.

Nos tr�s anos em que “encarna” Carlitos, Carlos Gomes, batizado com esse nome em homenagem ao maestro e compositor Carlos Gomes (1836-1896), fez amigos e recebe frases de admira��es no alto de um banco de 55 cent�metros, na esquina das avenidas �lvares Cabral e Afonso Pena, no Centro da cidade. As contribui��es chegam � caixinha, que fica aos p�s dele, e o dinheiro � sempre bem-vindo. “Com a pandemia, tive que parar de dar aulas. Em janeiro, volto”, revela, enquanto uma crian�a ganha sorriso em troca da nota depositada na caixinha.
 
Segredos e mensagens

Numa das entradas do Mercado Central, na esquina da Avenida Augusto de Lima com a Rua Curitiba, a artista de rua Shirley Climene Br�ulio atrai os olhares com sua Charlotte, a “camponesa francesa” vestida de verde dos p�s � cabe�a, com rosto pintado na mesma cor e carregando um cestinho de vime. Quem faz um elogio ou oferece uma contribui��o v� a est�tua viva girando o corpo, e � imediatamente convidado a retirar uma mensagem da caixa.

DA COR DA NATUREZA
Nas proximidades do Mercado Central de BH, Shirley Br�ulio se transforma na camponesa francesa Charlotte, que encantou Alice, de 8 anos, e a m�e dela, Poliana, com suas mensagens de incentivadoras (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press - 19/12/21)
H� cinco anos na fun��o, Shirley conta detalhes da vida de Charlotte. “Ela traz a cor da natureza, pois nasceu e foi criada no campo. � algu�m feliz, que vive de espalhar alegria, beleza, e pode estar em v�rios lugares do mundo ao mesmo tempo, pois, por aqui, passam pessoas de v�rios pa�ses em dire��o ao interior do mercado”, explica a artista de rua, que se harmoniza � paisagem e faz todo seu preparo no pr�prio local. O lado negativo est� s� quando tem chuva forte, mas a� Charlotte d� seu jeito e encontra prote��o sob a marquise.

Com a experi�ncia, Shirley observou que as est�tuas vivas se vestem, geralmente, das cores dourado, prateado ou de barro. Foi ent�o que se decidiu pelo verde. “Fiz os testes e criei a tintura nesse tom, com um material met�lico, para a maquiagem”, revela. E qual o segredo para ficar tanto tempo sem se mexer?, pergunta o rep�rter. A resposta est� na ponta da l�ngua: prepara��o mental.

Diante de Charlotte, Alice Ferreira, de 8 anos, se encanta na mesma medida em que brilham os olhos da m�e, a promotora de vendas Poliana Cristina Pereira, moradora do Bairro Esplanada, na Regi�o Leste de BH. “Desperta o interesse de todo mundo”, afirma Poliana, pouco antes de Alice abrir a mensagem ofertada por Charlotte. A menina l� e sorri, pois a recomenda��o escrita � para que realize os seus sonhos. E qual o seu desejo? “Ser cantora”, responde Alice.

Minutos de fascina��o
 
Na Pra�a Sete, uma esp�cie de cora��o da capital, o cearense Carlos Alberto Melo Oliveira, de 55 anos, vive seu dia de Rei Mago. Com a coroa e as barbas longas, ele tem seu ritual para n�o se cansar demais durante as quatro horas de p�: sentar a cada hora. “Sen�o, como se diz na minha terra, os cambitos (pernas) n�o aguentam”, afirma. E l� se v�o 10 anos desde que Carlos Alberto come�ou a trabalhar como est�tua viva.

Um Osama bin Laden (1957-2011) prateado foi a primeira encarna��o, seguido de personagens do filme “Guerra nas estrelas”. “Recebo muitos cumprimentos e sei que a fascina��o maior � das crian�as”, orgulha-se o “rei mago”, que tamb�m pode ser encontrado na feira da Afonso Pena aos domingos ou em cidades do interior de Minas, como Diamantina, no Vale do Jequitinhonha.

Parado no local de maior tran�a-tran�a de gente na capital, o cearense garante que a capital mineira “� muito interessante”. Mirando a est�tua viva, o vigilante Ramon Cassimiro, morador do Bairro Camargos, foi direto ao ponto: “Quebra a rotina, chama a aten��o e incentiva a cultura.”

TODO EM BARRO
Na pele de Samurai, Lucas Silva, cozinheiro por profiss�o, diz ter ampliado as experi�ncias na terra distante e que t�o bem o acolheu, embora j� tenha sido v�tima de preconceito e de agress�o verbal durante as apresenta��es (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)

Na sua galeria de personagens, o baiano Lucas Ara�jo da Silva abriga S�o Francisco de Assis, o Juquinha da Serra do Cip�, na Regi�o Central de Minas Gerais, e o Samurai. Na feira de domingo da Afonso Pena, ele incorporava a �ltima figura, com o rosto e o corpo cobertos de argila. Levantando a t�nica, Lucas, que � cozinheiro, mostrou v�rias camadas de roupa: “Assim evito a umidade na pele, para n�o pegar pneumonia nem ter alergia”, explica.

H� sete anos, quando morava na rua, em BH, o baiano de Vit�ria da Conquista resolveu ampliar a experi�ncia se tornando est�tua viva. E gostou, pois se sente acolhido em Minas Gerais, “um estado que abra�a as pessoas de fora”, define. Com a ajuda desse aconchego, consegue pagar o aluguel e tocar a vida.

Mas nem tudo s�o flores – � bom lembrar. Em todo o tempo do trabalho art�stico, ao mesmo tempo em que ouviu palavras de incentivo como “guerreiro!”, motivo de for�a, escutou, em sil�ncio,  as express�es “vagabundo!” ou “t� na moleza”, para tentar baixar o astral.

Lucas se recorda de que, numa cidade do interior mineiro, ao ser puxado pelo bra�o, de forma agressiva, por um fiscal da prefeitura local, revidou e acabou detido por dois dias. Em BH, ele, �s vezes, precisa bater o p� para marcar territ�rio, pois ouviu de um colega que “na via p�blica s� podem ficar, como est�tua viva, os artistas de rua”.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que tal tipo de fun��o independe de autoriza��o do munic�pio, conforme a Lei 10.277/2011, regulamentada pelo Decreto 14.589/2011, referente a atividades art�sticas e culturais em pra�a p�blica (artes c�nicas,  artes pl�sticas, apresenta��o de m�sica, poesia, literatura e teatro). (GW) 


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