
Depois de dois anos de isolamento social devido � pandemia de COVID-19, que limitou as celebra��es da Semana Santa, as fam�lias e amigos, enfim, v�o se encontrar para o almo�o da Sexta-Feira da Paix�o, e n�o v�o abrir m�o do peixe no card�pio. Para quem � cat�lico e para quem n�o �, a tradi��o diz que n�o � dia de comer carne. O bacalhau, o pescado preferido da �poca, perdeu o reinado, mas n�o a majestade.
a iguaria pode custar at� R$ 230 o quilo em em Belo Horizonte. No entanto, fila mesmo s� nas peixarias que ofereciam pescados menos "salgados". Em uma das peixarias, foi necess�rio colocar at� mesmo uma fita de isolamento para organizar a fila tamanha a procura dos clientes.
Mesmo com os pre�os altos, os comerciantes do Mercado Central afirmam que houve procura dos clientes. Uma pesquisa do Mercado Mineiro mostrou que Foi l� que a contadora Sandra Maria dos Santos, de 70 anos, buscou o ingrediente principal do card�pio de sexta. Pelos pre�os, ela avaliou que o mais em conta era levar a sardinha que estava R$ 15 o quilo, mas, diante do trabalho que teria para limpar, optou pelo ca��o, a R$ 32. Assim conseguiu um valor bem mais barato que o bacalhau e ainda que tem o preparo mais f�cil que a sardinha.

De religi�o evang�lica, em que n�o h� restri��o a comer carne na Sexta-Feira da Paix�o, mas convivendo com pessoas da fam�lia que s�o cat�licas, ela segue a tradi��o. "Nasci numa fam�lia cat�lica e o pessoal mais velho s� come peixe na Sexta-Feira da Paix�o", diz. No entanto, h� um bom tempo, ela revela que o bacalhau passe longe do card�pio da data. "N�o s� este ano, nesses anos todos para tr�s, o pre�o do bacalhau est� muito alto. A cada ano fica pior", argumenta.
Outro que recorreu � peixaria foi o empres�rio Cristiano Machado para comprar dois peixes Namorados inteiros para preparar a moqueca de amanh�. No caso dele, n�o foi a quest�o do pre�o do bacalhau que o fez escolher outra op��o. Os dois peixes ficaram quase no mesmo valor do bacalhau, cerca de R$ 300.
No entanto, apesar da alta nos pre�os, ele n�o abre m�o do almo�o especial na Sexta-feira da Paix�o. E � ele mesmo que vai para cozinha preparar a moqueca ao modo baiano. "N�o sou baiano, mas morei l� e fa�o daquele jeito, com dend�", revela.

A auxiliar de servi�os gerais Rafiza de S�, de 32, e o marido F�bio Dias, de 42, deram uma olhada na banca do bacalhau, mas preferiram buscar algo mais em conta e t�o gostoso quanto para o almo�o de sexta. Foram � peixaria para comprar uma corvina. "Vou preparar ensopada. Com leite de coco fica uma del�cia", antecipa o prato que servir� para o marido, o pai, o irm�o e o cunhado.
E Rafiza n�o teve como n�o recorrer ao trocadilho em rela��o para falar do aumento no pre�o do bacalhau. "st� muito salgado. N�o vai ter jeito de comprar esse ano. Viemos comprar uma corvina para n�o passar em branco o dia de amanh�", diz.
Ela � evang�lica, ent�o, n�o � por quest�o religiosa que n�o come carne no dia em que se relembra a paix�o de Jesus Cristo. Mas a data � dedicada aos pescados, embora, ela ressalte que o pre�o do peixe, que j� foi considerado mais barato, j� est� pareado com o da carne.
Sem perder a majestade

O sacerdote de matriz africana e cozinheiro M�rcio Roberto de Jesus Cruz, de 48 anos, vai manter a tradi��o do bacalhau no almo�o da Sexta-Feira da Paix�o. Ele comprou dois quilos do tipo saithe desfiado, cerca de R$ 300 e um quilo de fil� de merluza, R$ 50. E garante que, embora tenha comprado na v�spera, vai dar tempo de dessalgar para o preparo do prato delicioso.
Ele n�o abre m�o de fazer um card�pio especial para o filho Henrique e o genro Jo�o Vitor, que v�o almo�ar com ele na data santa. No entanto, as contas est�o na ponta do l�pis. "Gastei um dia meu de servi�o nesta brincadeira." M�rcio faz consultas espirituais e para conseguir esse valor tem que realizar tr�s delas.
O balconista Ramon Lopes, que atendeu M�rcio, afirmou que a procura pelo bacalhau estava boa, como em anos anteriores. Segundo ele, o pre�o n�o afugentou a clientela. E o que Ramon diz se confirma no movimento nos corredores do Mercado Central e nos clientes que se aproximam da banca.
A propriet�ria da Imp�rio dos Pescados, Deuz�nia Oliveira, tem uma explica��o para a grande procura dos clientes apesar de os pre�os estarem altos. "Depois de dois anos de pandemia, as pessoas querem um pouco de liberdade. As pessoas n�o est�o bem financeiramente, mas querem dar um basta a tantas restri��es", diz.
Nesta Quinta-Feira Santa, ela n�o parou nem um minuto diante da fila de clientes que chegavam a todo instante. Deuz�nia acredita que as pessoas substitu�ram o bacalhau por outros peixes. Os campe�es de venda foram o surubim, piratinga e a sardinha. "O bacalhau ficou em quinto lugar, mas muita gente n�o deixa de comprar", afirma.