
A assinatura do arquiteto carioca de fama internacional, cuja morte completar� dez anos em dezembro, ficou eternizada tamb�m em serigrafias, com tiragem limitada, e um desenho original, entre 24 obras do acervo de uma fam�lia mineira que agora coloca � venda a cole��o.
Um conjunto diante do qual – e nunca � demais lembrar que Niemeyer criou os cen�rios da pe�a “Orfeu da Concei��o”, de Vin�cius de Moraes (1913-1980), em 1956 –, fica a constata��o, refor�ada por especialistas: ele n�o era um g�nio apenas na arquitetura.
A fam�lia do belo-horizontino que det�m as obras tem consci�ncia disso, mas n�o tem mais condi��es de manter a cole��o, adquirida na d�cada de 1980. “O desejo � que seja comprado por uma institui��o cultural, pelo governo ou por um banco, para n�o sair de Minas”, explica um representante dos donos do acervo, que preferem se manter no anonimato.
As serigrafias (um tipo de gravura feito em processo manual) em preto e branco e coloridas, emolduradas e bem guardadas, foram adquiridas no Rio de Janeiro, diretamente da galerista Anna Maria Niemeyer (1930-2012), filha do arquiteto, que orientou a fam�lia a sempre lhe comunicar antes, caso tivesse interesse em expor a cole��o.
“Logo ap�s a morte do propriet�rio dos bens, uma funcion�ria da Galeria Anna Maria Niemeyer enviou um fax com a rela��o das obras adquiridas, especificando a s�rie, tamanho, n�mero de exemplares existentes e cota��o em d�lar”, diz o representante, mostrando a c�pia do documento.
Conforme relato dos familiares, a galerista considerava que o mineiro era o colecionador n�mero 1 dos desenhos de seu pai. No conjunto, h� serigrafias que s�o a primeira da tiragem, conforme a numera��o.
“Logo ap�s a morte do propriet�rio dos bens, uma funcion�ria da Galeria Anna Maria Niemeyer enviou um fax com a rela��o das obras adquiridas, especificando a s�rie, tamanho, n�mero de exemplares existentes e cota��o em d�lar”, diz o representante, mostrando a c�pia do documento.
Conforme relato dos familiares, a galerista considerava que o mineiro era o colecionador n�mero 1 dos desenhos de seu pai. No conjunto, h� serigrafias que s�o a primeira da tiragem, conforme a numera��o.

O acervo � amplo, conservando trabalhos tamb�m de C�ndido Portinari (1903-1962), pois o propriet�rio valorizava a arte, gostava de comprar obras n�o apenas como investimento, mas para seu prazer e contempla��o. “Tudo o que est� aqui faz parte da hist�ria e das escolhas de um admirador do grande arquiteto brasileiro. Na verdade, o conjunto existente aqui j� � uma exposi��o”, atesta o representante.
Na cole��o, h� tra�os retratando as famosas curvas que se tornaram marca registrada de Niemeyer, autor dos projetos de �cones da Pampulha, na d�cada de 1940. Especialmente para esta reportagem, foram retirados os inv�lucros de pl�stico-bolha de alguns dos quadros. Entre os destaques, est� um desenho original da Pra�a da Apoteose, no Samb�dromo do Rio. O monumento da Avenida Marqu�s de Sapuca�, palco do tradicional desfile das escolas de samba, foi projetado por Niemeyer e inaugurado em 1983.
Alguns trabalhos s�o acompanhados de textos de Niemeyer, a exemplo deste em tom quase prof�tico: “Um dia mais realista, os homens sentir�o afinal serem filhos deste velho planeta como as florestas e os rios, os bichos da terra e os peixes do mar. Uma flor ser�, para eles, uma irm�zinha, bela e perfumada, e se lhes ocorrer que amanh�, com eles, ela estar� desfolhada e morta, a vida continuar� a lhes parecer um breve passeio de amor e solidariedade”.
Conjunto �nico
Os herdeiros do acervo, muitos deles residentes em BH, sabem da import�ncia das obras para a cultura nacional, ainda mais neste ano em que se completa uma d�cada da morte de Oscar Niemeyer (ocorrida em 5 de dezembro de 2012).
“Conseguiram preservar tudo com carinho e cuidado at� hoje. N�o querem dispor de pe�a por pe�a, mas do conjunto, para ser apreciado na totalidade”, explica o representante da fam�lia que tem ra�zes no interior do estado e alimenta a esperan�a de ver as obras em exposi��o em um espa�o cultural de Minas.
“S�o muitas as edifica��es projetadas pelo arquiteto, incluindo a Cidade Administrativa Tancredo Neves e a Catedral Cristo Rei, em BH. Al�m disso, h� a Casa do Baile (Centro de Refer�ncia de Arquitetura, Urbanismo e Design, vinculado � Prefeitura de Belo Horizonte), local perfeito para a mostra dos trabalhos”, destaca. A decis�o de vender o acervo se deve �s dificuldades financeiras dos herdeiros.
Garantia
Sobre a idoneidade das obras, a fam�lia afirma que h� assinatura de Oscar Niemeyer em todas – exceto a do Samb�dromo –, bem como certifica��o. “Quem comprar, certamente, poder� pedir uma avalia��o sobre cada desenho. N�o sabemos o valor, o mais importante � manter os trabalhos reunidos e em Minas, onde o arquiteto deixou um legado admirado pelo mundo inteiro”, destaca o representante.

Brilho que ofusca outros talentos
O arquiteto e ex-diretor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fl�vio Carsalade avalia que, talvez, a grandeza da obra de Oscar Niemeyer como arquiteto ofusque a import�ncia de sua contribui��o a outras artes pl�sticas, como a cenografia de Orfeu da Concei��o, a escultura (a m�o do Memorial da Am�rica Latina) ou o desenho. Especialmente quanto a esse �ltimo, avalia Carsalade: “O tra�o de Oscar � de uma beleza impressionante, fluido, expressivo, sint�tico, po�tico, seja retratando seus pr�prios projetos ou mesmo a paisagem do Rio de Janeiro ou as mulheres brasileiras, entre tantos outros motivos”.
Estudioso e admirador da obra de Niemeyer, Carsalade lembra que “talvez por conta de sua informalidade ao desenhar e da distribui��o muitas vezes gratuita que fez de seus esbo�os, sua presen�a como artista pl�stico n�o tenha sido muitas vezes considerada com a seriedade que merece, mas, sem d�vida, h� muitos desses desenhos que deveriam estar presentes em galerias e no mercado das artes”. “A genialidade do Oscar estava em sua express�o, atrav�s de qualquer ramo das artes”, resume.
Segundo um especialista ouvido pelo Estado de Minas, Niemeyer gostava muito de desenhar, e produziu muito nessa �rea. No entanto, � preciso aten��o, pois, h� algum tempo, andaram fazendo falsifica��es dos trabalhos, o que demanda avalia��o criteriosa quanto �s cole��es apresentadas.
Vida e obra marcadas em BH e Minas Gerais
Considerado o maior arquiteto brasileiro, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu em 15 de dezembro de 1907, no Bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Em 1929, ele se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio, saindo de l� em 1934 com o diploma de engenheiro arquiteto. Um ano depois, iniciou a vida profissional no escrit�rio de L�cio Costa (1902-1998), autor do Plano Piloto de Bras�lia (DF).
J� em 1960, Niemeyer tornou-se coordenador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Bras�lia (UnB). Tr�s anos mais tarde, foi nomeado membro honor�rio do Instituto de Arquitetos dos Estados Unidos e ganhou o Pr�mio Lenin da Paz, na antiga Uni�o das Rep�blicas Socialistas Sovi�ticas (URSS). Pelo car�ter �nico e pelo conjunto inigual�vel de obras, foi eleito em 2007 o nono g�nio mundial vivo em uma lista de empresa Syntetics.
A vida e a obra do mestre t�m passagem marcante por Minas. Da Pampulha ao Centro Administrativo do governo estadual e � Catedral Cristo Rei, foram sete d�cadas de sonhos, trabalho e amor concreto dedicado a Belo Horizonte.
Nesse per�odo, Niemeyer projetou no entorno da lagoa o Conjunto Moderno que se tornaria cart�o-postal da capital e patrim�nio da humanidade, pr�dios das pra�as da Liberdade, Raul Soares e Sete, entre outros. No interior de Minas, a rela��o come�ou mais cedo, em 1938, com a constru��o do Grande Hotel de Ouro Preto. Cataguases e Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, tamb�m registram obras com a marca do g�nio do modernismo.
Nesse per�odo, Niemeyer projetou no entorno da lagoa o Conjunto Moderno que se tornaria cart�o-postal da capital e patrim�nio da humanidade, pr�dios das pra�as da Liberdade, Raul Soares e Sete, entre outros. No interior de Minas, a rela��o come�ou mais cedo, em 1938, com a constru��o do Grande Hotel de Ouro Preto. Cataguases e Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, tamb�m registram obras com a marca do g�nio do modernismo.
- Leia tamb�m: Pampulha � a porta do c�u pelas curvas de Niemeyer
Nas conversas com amigos e nas p�ginas de seu livro “As curvas do tempo – Mem�rias”, de 1998, Niemeyer afirmava que a Pampulha, onde trabalhou no in�cio da d�cada de 1940, quando Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi prefeito de BH, significou o despertar na sua carreira, servindo de refer�ncia at� para o projeto de Bras�lia, inaugurada em 1960 e fruto da sua parceria com o urbanista L�cio Costa. “A Pampulha foi o come�o da minha vida de arquiteto” escreveu ele. “A Pampulha foi o in�cio de Bras�lia”, gostava de repetir.
Depois de Bras�lia e Rio de Janeiro, Belo Horizonte � a capital com maior n�mero de obras de Niemeyer.