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Estado de Minas APERTADAS DE COSTURA

Reflexos do isolamento: por que a pandemia lotou costureiras de servi�o

Com quilinhos a mais adquiridos em tempos de distanciamento, volta do conv�vio social e do trabalho presencial faz disparar a demanda por ajustes em roupas


27/06/2022 04:00 - atualizado 27/06/2022 06:39

Cleidimar Rodrigues Jesus, no ofício desde os 16 anos, e que foi contratada diante do aumento na demanda
"Alimento e roupa, todo mundo sempre vai comprar. Ningu�m vai andar pelado'' - Cleidimar Rodrigues Jesus, no of�cio desde os 16 anos, e que foi contratada diante do aumento na demanda (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)

Apertadas de costura, � procura de m�o de obra e tornando o tempo cada vez mais el�stico para dar conta do servi�o... Desmancha daqui, faz bainha dali, enquanto corta, alinhava e arremata: assim segue a vida movimentada das costureiras especializadas em consertos de roupas, que, ap�s a flexibiliza��o em Belo Horizonte, veem crescer a pilha de pedidos entregues por clientes. Tanto que algumas, a exemplo de Renilde Lopes de Oliveira Gualberto, h� 20 anos na atividade e h� sete em uma galeria do Bairro Cidade Nova, na Regi�o Nordeste da capital, n�o est�o pegando servi�o no momento, conforme avisa o cartaz afixado na porta de vidro do seu espa�o.

“Estou trabalhando praticamente sozinha, pois minha filha, Sara, vem para desmanchar as roupas e atender as pessoas”, conta a moradora do munic�pio vizinho de Sabar�. “Tinha duas ajudantes, mas uma resolveu abrir neg�cio pr�prio. Veio uma diarista para teste, e n�o deu certo: estragou um vestido e tive que pagar pelo erro. Custou caro”, diz a costureira.

O crescimento no setor de consertos de roupas, segundo as costureiras, deve-se � volta � vida social e ao trabalho presencial. “Estou pedindo de 15 a 20 dias para entrega – antes era uma semana. Com a pandemia, as pessoas ficaram em casa e engordaram um pouco, ent�o tenho muita roupa, de homens e mulheres, para alargar a cintura, tirar el�sticos, descer bainhas. Recebo tamb�m pe�as novas para ajustes, pois h� um retorno �s lojas”, afirma a aut�noma, lembrando que o frio que come�a � tempo de arrumar as roupas que ficaram no arm�rio.

Tradicionalmente, h� dois per�odos semelhantes de aquecimento no setor: o fim de ano, devido � temporada de festas, e o ver�o, com consertos de biqu�nis e outros trajes para curtir o mar, piscinas e cachoeiras. “Como n�o tenho condi��es de receber mais encomendas, encaminho para as amigas”, avisa Renilde, casada, quatro filhos e acostumada a acordar �s 5h para estar na loja o mais cedo poss�vel. “Tem dia que chego em casa �s 20h.”

Segundo o presidente do Sindicato dos Alfaiates e Costureiras de Belo Horizonte, Marlon Belarmino de Souza, o Marlon Capit�o, h� um crescimento na demanda de consertos de roupas, em fun��o, principalmente, do longo per�odo da pandemia. A expectativa � de aumento, tendo em vistas as previs�es da meteorologia para um inverno rigoroso, o que significa reforma de jaquetas, casacos e outras roupas para encarar as baixas temperaturas.

LI��ES DA PANDEMIA 


Com larga experi�ncia no setor de costura, Guiomar Aparecida de Oliveira Campos, de 61, v� um crescimento de 60% no conserto de roupas em rela��o aos tempos pr�-pandemia. “A costura sempre foi uma atividade aben�oada, e, gra�as a Deus, temos muito a fazer agora. Acredito que esse crescimento no conserto de roupas � uma li��o da pandemia: as pessoas est�o consumindo menos, comprando menos, e o planeta agradece. Antes, havia um desperd�cio, um exagero, at� jogavam pe�as no lixo”, afirma a costureira, que ficou vi�va aos 31 anos, com seis filhos, e teve mais tr�s do segundo casamento. “A costura me ajudou a criar a fam�lia”, resume.

Para entrega do servi�o, Guiomar, que ocupa um box na Galeria da Moda, tamb�m no Bairro Cidade Nova, perto da Feira dos Produtores, conta com o aux�lio de quatro filhas e de duas diaristas. Entre elas Cleidimar Rodrigues Jesus, moradora do Bairro Cristina, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.

No of�cio das linhas, agulhas, tecidos, aviamentos e tesouras desde os 16 anos, a piauiense residente em Minas desde crian�a passou por v�rias confec��es e chegou � nova ocupa��o por acaso. Entrou na galeria para uma compra, ouviu que Guiomar precisava de costureira e se ofereceu. Est� feliz e aprendeu, na caminhada, que a atividade serve como terapia e, claro, para ganhar o sustento. “Alimento e roupa, todo mundo sempre vai comprar. Ningu�m vai andar pelado”, brinca Cleidimar, que tem um filho de 27 anos e um neto de 7.

De pregar um bot�o a salvar um casamento

Nestes tempos de “aperto de costura”, Lauren�a Div�nia Ferreira Pinto conta, �s vezes, com a ajuda do marido, Juvenal Paulo, que desmancha as roupas para que a mulher, ent�o, fa�a o servi�o encomendado pelo cliente. “N�o podemos reclamar. Trabalho a vida toda com costura e estamos com muito servi�o”, afirma Lauren�a, que ocupa um box na Galeria da Moda, onde trabalha das 9h �s 19h.

Nesta reportagem, a equipe do Estado de Minas encontrou clientes com suas sacolas cheias de roupas caminhando em dire��o �s lojas de consertos, que v�o do simples pregar de um bot�o aos cerzidos, trocas de z�peres, ajustes em cal�as jeans e reformas em pe�as de couro. “Sei que vai demorar, mas prefiro esperar. S�o duas pe�as finas, vale a pena trazer para quem entende do riscado”, conta uma moradora do Bairro Cidade Nova.

Como o bom humor costuma dar remendo a qualquer situa��o, diante das m�quinas que trabalham a todo vapor pilotadas pelas profissionais, basta puxar uma linha para revelar mais uma hist�ria. Que o diga a vendedora de uma lanchonete, que comprou um vestido preto, transparente, e acabou achando “sexy demais”, conforme revelou. “Achei melhor colocar o forro antes de meu marido pedir o div�rcio”, explicou, �s gargalhadas.








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