
Alheias aos riscos, crian�as correm e brincam �s margens da BR-381, onde moram com os familiares. Para tentar proteg�-los, Denilsa Rodrigues de Ara�jo Nacif, de 53 anos, decidiu sinalizar um trecho da rodovia, na porta de sua casa, com cones para alertar os motoristas.
Ela mora a menos de 10 quil�metros da comunidade Vila da Luz, onde nessa quarta-feira (13/7), uma carreta tombou sobre os barracos que margeiam o Anel Rodovi�rio. "A situa��o que estamos vivendo aqui � ca�tica. Os �rg�os nos esqueceram aqui", declara.
"Todo dia meu netos est�o aqui comigo. Sempre que eles brincam na porta, eu coloco os cones para tentar diminuir o risco. � o jeito. Eu n�o perdi nenhum dos meus filhos aqui, mas j� vi muitos morrerem bem na porta da minha casa", relata.
H� d�cadas, a BR-381 � o quintal de diversas fam�lias que moram �s margens da rodovia e n�o t�m para onde ir. Vivendo tamb�m � margem de direitos b�sicos, essas pessoas s�o expostas a acidentes, viol�ncia e preconceito.
Denilsa conta que sua casa tamb�m vive sob o risco de ser atingida pelos ve�culos que passam em alta velocidade pela via. "S� essa semana, j� � a terceira carreta que desvia dessa casa, porque Deus faz com que ela desvie. N�s n�o temos estabilidade para nada aqui", declara.
"L� na Vila da Luz tem quem olhe por eles, aqui n�s estamos sozinhos. Eles tem uma comunidade unida, mas n�s aqui n�o temos", disse ela, que j� mora na regi�o h� quase 30 anos. "N�o sei o motivo pelo qual eles tiram o meu vizinho e n�o tira a gente. N�o est� resolvendo muita coisa n�o", complementa.
Segundo Denilsa, o fato de as pessoas da regi�o n�o terem uma organiza��o comunit�ria tem sido um dificultador para conseguir aux�lio do poder p�blico. "J� fui l� para tentar resolver e nem assim. Eles perguntam: 'voc�s n�o tem algu�m que t� l� respondendo pela comunidade?'. N�s n�o temos", relata Denilsa.
Remo��o das fam�lias da BR-381 ainda sem data
O processo de remo��o e reassentamento dessas fam�lias j� se arrasta por mais oito anos e n�o tem previs�o de conclus�o. Em 2014, a Justi�a Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) criaram o Concilia BR-381 e Anel, com o objetivo de promover o reassentamento de fam�lias que vivem �s margens da rodovia.
Segundo o Dnit, o processo est� na fase final da primeira etapa. At� o momento, j� foram reassentadas 235 fam�lias e outras 54 est�o em fase de prospec��o imobili�ria. A Vila da Luz faz parte da segunda fase do programa em andamento, com a previs�o do reassentamento de mais 650 fam�lias.
"Nossas crian�as j� crescem instru�das para n�o ir � BR. Mas, crian�as pequenas n�o sabem, n�o tem ideia do risco, acabam indo. J� presenciei uma m�e desesperada tirando o filho do meio da pista", conta.

Vizinha de Denilsa, Erica Alves, de 27 anos, foi criada em um barrac�o na altura do km 499, da BR-381, e hoje mora com o marido e os tr�s filhos, de 4, 6 e 8 anos, no mesmo lugar. "Moro aqui desde que me conhe�o por gente. Ningu�m mora aqui porque quer, � porque precisa. N�o temos condi��es de pagar aluguel", conta.
Desempregada, ela faz o que pode para garantir a seguran�a e bem-estar dos filhos. "Fico com medo. � muito perigoso. N�o tem como brincar, n�o tem como sair. �s vezes, levo eles na rua de cima para brincar", disse.
Com o constante medo de acidentes, ela diz que j� presenciou at� a m�e ser atropelada. "Ela j� foi atropelada umas quatro vezes nessa BR. A gente vive inseguro at� de derrubar a nossa casa. A carreta passa colada no nosso muro. Em tempo de passar e quebrar", relata.
A tia de Erica, Janita Ferreira da Silva, 57, mora no local h� 13 anos. Vim aqui para cuidar da minha irm�, que estava doen�a. Ela morreu em 2016, esperando uma oportunidade para sair daqui e n�o teve chance", lamenta.
Com mobilidade reduzida, Janita diz ter muito medo de transitar pela via. "Estamos todos querendo sair, mas n�o temos para onde ir. � ruim demais. As crian�as correm risco na beira da BR. N�o tem outro lugar para brincar. Se n�o prestar aten��o, o carro pega mesmo", disse.