
A tr�s dias do fim da campanha nacional de vacina��o contra a poliomielite, tanto em Belo Horizonte quanto em Minas Gerais, mais de um ter�o das crian�as que deveriam ser imunizadas ainda n�o foram levadas aos postos. Distante, portanto, da meta de pelo menos 95% do p�blico-alvo imunizado, indicada pelo Minist�rio da Sa�de. Entre os mineiros de 1 a 5 anos, a cobertura est� em 66,08%. Em Belo Horizonte, esse percentual est� em 62,02%, segundo dados do governo federal.
A campanha contra a poliomielite, tamb�m conhecida por p�lio ou paralisia infantil, vai at� sexta-feira (30/9). Por enquanto, o governo federal n�o sinalizou com nova prorroga��o, apesar de nenhuma unidade federativa do Brasil ter ainda batido a meta.
A vacina contra a p�lio � administrada em dois formatos: injet�vel e em gotas. Aos 2, 4 e 6 meses de idade, a primeira dose com vacina inativada � injet�vel. Aos 15 meses h� o primeiro refor�o com a vacina oral (duas gotinhas). Aos 4 anos, o segundo refor�o, tamb�m em gotas.
Em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Sa�de, 1.045.371 crian�as fazem parte do p�blico-alvo, mas apenas 690.808 delas foram vacinadas. Segundo a coordenadora estadual do Programa de Imuniza��es, Josianne Dias Gusm�o, a principal dificuldade para alcan�ar as fam�lias � a impress�o que os adultos t�m sobre a doen�a, tida como algo distante.
“A falsa impress�o de que a p�lio n�o vai voltar dificulta o avan�o da campanha. O �ltimo caso no pa�s foi em 1989, mas n�o quer dizer que nunca ir� voltar. Por isso, devemos manter as taxas vacinais altas. Existem casos em outros pa�ses e, com a facilidade de viagens e imigra��o atuais, � perigoso pegar em um outro local e trazer para o Brasil”, explica a coordenadora.
Desde que o Minist�rio da Sa�de prorrogou a campanha, no in�cio de setembro, Minas passou a intensificar a recomenda��o para que as 28 unidades regionais de Sa�de realizem busca ativa na comunidade, estendam os hor�rios de funcionamento e promovam a vacina��o fora dos centros de sa�de.
BELO HORIZONTE Em situa��o semelhante � do estado, em Belo Horizonte, dos 104.132 moradores menores de 5 anos, apenas 64.590 receberam o refor�o contra a p�lio. Apesar disso, a cidade est� entre as capitais com maior cobertura no pa�s. Segundo o diretor de Promo��o � Sa�de e Vigil�ncia Epidemiol�gica, Paulo Roberto Corr�a, desde meados de agosto, as autoridades municipais perceberam que a ades�o estava baixa e iniciaram a��es para tentar aumentar a cobertura.
“Fizemos vacina��o em parques municipais, shoppings, escolas e aumentamos a disponibilidade de vacina para todos os postos da cidade. Houve retorno positivo, principalmente nos fins de semana nos shoppings, quando os pais costumam passear com os filhos. Mas isso n�o � suficiente, devemos chegar ao percentual de 95%”, diz, em refer�ncia � meta de cobertura. “� importante que os pais levem os filhos at� o fim desta semana; caso contr�rio, fica para vacinar como rotina, com o dia que est� marcado no cart�o”, completa.
A Regional Centro-Sul de BH � a que registra a menor ades�o por enquanto. Entre os motivos avaliados pela prefeitura est� o pensamento de que, com o cart�o de vacina completo, n�o � necess�rio retornar aos postos. “�s vezes, os pais acham que isso n�o � algo preocupante, porque nunca viram casos de paralisia infantil, mas � justamente a imuniza��o que impede a reintrodu��o da doen�a no pa�s”, explica Paulo Roberto.
Not�cias falsas sobre imunizantes tamb�m s�o apontadas como culpadas pela desinforma��o e, consequentemente, pelas d�vidas de fam�lias. “Acredito que as informa��es inver�dicas deixam os pais em d�vida. �s vezes, eles n�o sabem muito bem o que � uma campanha e n�o levam os filhos. E a outra quest�o � a de achar que o cart�o est� completo e n�o precisam tomar refor�o. Se 95% tomarem, as outras 5% ficam protegidas pelo restante”, completa.
O medo de um problema futuro fez com que William Xavier levasse os dois filhos ao centro de sa�de antes que a campanha acabasse. Mirela, de 2 anos, foi a �nica vacinada, porque o irm�o, Bernardo, de 7 anos, j� estava fora do p�blico-alvo e com o cart�o completo. “Trouxe os dois, porque queria saber se faltava alguma dose no cart�o. A Mirela tomou as gotinhas, mas o Bernardo n�o precisou. � sempre bom precaver de futuros problemas. Pode n�o ter a doen�a no pa�s agora, mas n�o quer dizer que � imposs�vel acontecer”, diz o pai. “Vacinem, porque depois que algo acontece, n�o adianta lamentar. Os filhos s�o pequenos e n�o t�m no��o dos riscos, mas n�s, pais, temos essa responsabilidade de agir para proteg�-los.”
Doen�a grave, mas ainda negligenciada
De acordo com o Minist�rio da Sa�de, a poliomielite � “uma doen�a contagiosa aguda causada pelo poliov�rus, que pode infectar crian�as e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secre��es eliminadas pela boca dos doentes e provocar ou n�o paralisia”. Nos casos mais graves ocorrem paralisias musculares, sendo os membros inferiores os mais atingidos. No Brasil, o �ltimo caso ocorreu em 1989, no munic�pio de Souza, na Para�ba.
A maioria das pessoas infectadas n�o fica doente e n�o manifesta sintomas. Por�m, quando eles ocorrem, o infectado pode, de forma mais frequente, apresentar febre, mal-estar, dor de cabe�a, dor de garganta e no corpo, v�mitos, diarreia, pris�o de ventre, espasmos, rigidez na nuca e meningite.
Segundo o m�dico pediatra e epidemiologista Jos� Geraldo Leite, quando os infectados apresentam sintomas, eles come�am de uma forma inespec�fica, mas a evolu��o � r�pida. “Sintomas iniciais duram de dois a quatro dias, com febre e problemas intestinais. Depois h� uma aparente melhora, mas um ou dois dias depois a doen�a volta j� com a paralisia dos membros. A mais comum � nas pernas, mas qualquer m�sculo pode ser comprometido, inclusive os respirat�rios”, explica.
Crian�as e adultos podem ser infectados, mas a preocupa��o principal � com as crian�as n�o-vacinadas. “Qualquer pessoa que n�o seja vacinada pode pegar a doen�a. No Brasil, a maioria dos jovens e adultos passaram pelas campanhas de vacina��o com alta ades�o e est�o imunizadas. O maior temor s�o as crian�as nascidas a partir de 2016, quando come�ou a queda na ades�o � vacina��o”, acrescenta.
REFOR�O De acordo com o m�dico, ao realizar a vacina��o em massa, uma barreira � criada para a circula��o do v�rus. “A pessoa pode estar protegida da doen�a, mas mesmo assim transmitir. A vacina��o em massa ajuda a impedir que o v�rus entre no pa�s e volte a circular”. Mesmo que o cart�o de vacina esteja completo, crian�as menores de 5 anos devem ser levadas aos postos para tomar o refor�o, fazendo com que o organismo fique ainda mais resistente ao v�rus. “Fica como uma dose extra, n�o h� nenhum problema. Essa vacina � muito bem tolerada. Como as crian�as j� vacinadas receberam tr�s doses de inje��o, n�o h� riscos ao tomar a dose oral” conclui o especialista.
N�o h� cura para a poliomielite, a doen�a s� pode ser prevenida pela imuniza��o, por isso, ela � administrada v�rias vezes. Segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), n�o h� registros de casos nas Am�ricas e Europa h� algumas d�cadas. Entretanto, a baixa cobertura causa preocupa��o.
O Brasil foi certificado pela OMS em 1994 como livre da p�lio, mas segundo a Fiocruz, h� um grande risco de reintrodu��o da doen�a no pa�s, j� que desde 2015, a meta de 95% do p�blico-alvo vacinado n�o � atingida.
“Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, h� o risco de importa��o da doen�a. � um v�rus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmiss�vel do que o Sars-CoV-2 (da COVID-19), por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal, e � urgente se fazer algo. N�o podemos esperar acontecer a trag�dia da reintrodu��o do v�rus para tomar provid�ncias”, afirmou o pesquisador Fernando Verani, epidemiologista da Escola Nacional de Sa�de P�blica ao portal da Fiocruz.
No mundo, h� uma endemia no Afeganist�o e no Paquist�o, al�m de surtos em alguns pa�ses africanos.