
Papai Noel n�o brinca em servi�o – na verdade, conjuga o verbo brincar apenas para alegrar a crian�ada, fazer sorrir algu�m que h� muito tempo se esqueceu desse prazer ou convidar o mundo � leveza de dezembro a dezembro, mesmo que o mundo ainda n�o tenha espantado de vez o fantasma da COVID-19. Ser� poss�vel? Ele garante que sim, e d� as dicas para este Natal, que traz de volta as m�scaras e liga o sinal vermelho da pandemia.
A turma que encarna o bom velhinho, que n�o � boba nem nada, tem trabalho dobrado com as apresenta��es em shoppings, pra�as p�blicas e festas particulares na capital e no interior. Para cada um, neste 2022 t�o polarizado, deve prevalecer o amor para afastar desaven�as pol�ticas e levar de vez as “�guas passadas” do rancor.
Com 62 anos de idade, dos quais 37 encarnando o bom velhinho, o educador M�rio de Assis se declara um Papai Noel em tempo integral. E traz sempre uma m�scara especial na mochila, caso seja obrigat�rio us�-la. “Neste ano, ap�s tanta confus�o, minha mensagem � de di�logo entre pais e filhos, av�s e netos, irm�os e irm�s. Vou dar um pux�o de orelha em quem continuar brigando por causa de elei��o”, diz o marido de Maria Cristina, com quem tem tr�s filhos, e av� de Pietro, de 6, e Rafael, de cinco meses. Um segundo depois do aviso, ele diz acreditar na felicidade dos brasileiros p�s-pandemia. “Este Natal ser� o m�ximo! O segredo est� na magia.”
Ao se revelar um Papai Noel nos 365 dias do ano, M�rio de Assis explica que, talvez por teimosia, n�o tenha parado em 2020 nem no ano passado, quando a COVID-19 fazia os maiores estragos. “Felizmente, n�o contra� a doen�a, mesmo abra�ando e beijando muita gente. N�o escolhi ser Papai Noel, mas fui escolhido por Deus para continuar nesse caminho”, cr� o belo-horizontino “hipertenso, sedent�rio e diab�tico”, sempre disposto a fazer lives, gravar v�deos e fazer visitas.
“J� cheguei a vel�rio com a roupa vermelha, entre um compromisso e outro. Pedi desculpas, mas n�o tinha outro jeito. Uma vez Papai Noel, sempre Papai Noel, na terra ou no mar”, revela bem-humorado. Nas andan�as, M�rio de Assis vai a todo canto: “No �ltimo 7 de setembro, fui � Pra�a da Liberdade (Regi�o Centro-Sul de BH) com todo mundo de verde-amarelo. Encontrei boa recep��o, as pessoas tirararm fotos comigo”.
BARBA NATURAL
Quem se encontra com M�rio de Assis pode notar que sua barba � 100% natural. “Logo que come�ou a COVID, decidi n�o cort�-la nunca mais. Antes, era artificial, mas, veja, est� batendo no peito”, conta o homem com autoridade n�o s� para bater a bola no peito, como cabecear e marcar um gol de placa pela esperan�a.
“Precisamos demais de uni�o. Votei num candidato � Presid�ncia, meu irm�o em outro. Somos amigos... a elei��o terminou, 2023 vem a�”, ressalta M�rio, com programa��o no Natal de Itabirito (Regi�o Central de Minas), onde ganhou tren� motorizado; na Galeria Ouvidor, no Centro de BH, aos s�bados, em eventos escolares e no tradicional almo�o natalino do Restaurante Popular, na capital.
“Precisamos demais de uni�o. Votei num candidato � Presid�ncia, meu irm�o em outro. Somos amigos... a elei��o terminou, 2023 vem a�”, ressalta M�rio, com programa��o no Natal de Itabirito (Regi�o Central de Minas), onde ganhou tren� motorizado; na Galeria Ouvidor, no Centro de BH, aos s�bados, em eventos escolares e no tradicional almo�o natalino do Restaurante Popular, na capital.
H� dois anos na pele e na voz do senhor do “Ho ho ho”, Marco Ant�nio de Assis, de 68, aposentado, faz sua grande estreia. Morador do Bairro Santa Tereza, na Regi�o Leste de BH, marido de Din�ia Patr�cia e com uma fam�lia composta por tr�s filhos e cinco netos, ele participa do Natal da Galeria Ouvidor, onde posou com o irm�o para as fotos dessa reportagem. “Sempre acompanhei o M�rio nas festas natalinas. Foi ele quem me incentivou a vestir a roupa vermelha e sair por a�”, conta com satisfa��o.

“� gratificante alegrar as crian�as e tamb�m os adultos. Meu maior desejo � que a paz volte a reinar no mundo, trazendo sa�de, amor e muito respeito”. No ano passado, Marco Ant�nio movimentou a Pra�a Duque de Caxias, em Santa Tereza, participou como convidado de um coral e esteve em reuni�es familiares. Neste novo tempo, � hora de aproveitar a oportunidade e fazer a crian�ada feliz.
A presen�a dos dois irm�os na Galeria Ouvidor surpreendeu as fam�lias que faziam compras. “Foi a primeira vez que minha filha viu Papai Noel assim t�o de perto. Queria at� lev�-lo para casa. Me falou: ‘Mam�e, compra ele para mim?’”, contou, sorrindo, Edna Pinto Andrade ao lado de Alice Jennifer, de 3.
Cauan, de 8, filho da artes� C�ssia Aline de Oliveira Rodrigues, perguntou se Papai Noel tinha um irm�o g�meo. Para C�ssia, que levou tamb�m a pequena Catarina, de 1 ano, um bom sentimento vale por dois: “O Natal � �tima oportunidade para o ser humano cultivar o amor e a compaix�o pelo semelhante.” Para Laura, de 10, acompanhada da m�e, Roberta Almeida Faria, auxiliar administrativa, a compra das sapatilhas para uma apresenta��o de dan�a na escola resultou em encontro inesperado. “Ela ficou feliz porque o Papai Noel a chamou para tirar a foto. Achou o m�ximo, nunca imaginava isso”, revelou Roberta.
CASAL NOEL
Mam�e Noel entra em cena, vinda l� da Lap�nia para o calor tropical, e est� ao lado de Papai Noel em todos os momentos pr� e p�s-natalianos. � assim com Marcos Henrique Gomes e Gl�ria Maria de Godoy Gomes, casados h� 52 anos e residentes no Bairro Uni�o, na Regi�o Nordeste de BH. “Nossa expectativa � a melhor para este Natal, pois muitas crian�as est�o �vidas para ver o Papai Noel pela primeira vez”, destaca Marcos Henrique, de 76, presidente da Associa��o dos Papais No�is (Aspanoeis), que re�ne 22 pessoas (a maioria da Regi�o Metropolitana de BH), com 15 na ativa.
E qual a fun��o do Papai Noel? “Bem, ele n�o existe apenas para ficar sorrindo, sentado na cadeira de um shopping. Precisa interagir com o p�blico, embora muitas m�es estimulem as crian�as a puxar nossa barba. Isso � falta de educa��o”, diz o t�cnico em explosivos aposentado. Marcos Henrique j� tentou ser coelhinho da P�scoa, mas n�o deu certo, foi ap�stolo na encena��o da Paix�o de Cristo, em Nova Jerusal�m (PE), e, h� 13 anos, encarna o bom velhinho. Na avalia��o dele, � fundamental gostar de crian�as – o casal tem quatro filhos e sete netos.
Neste ano, o casal Noel estar� em Contagem, na Grande BH. “Estou feliz, pois as mulheres mais velhas me procuram e se sentem representadas. � meu segundo ano de Mam�e Noel, e tenho esse contato de av� com av�”, conta Gl�ria Maria. Nos �ltimos dias, o casal se dedica a embrulhar 300 presentes, numa a��o particular e com parceiros, a serem distribu�dos a crian�as de comunidades carentes. “Etiquetamos cada um, separamos por idade, um trabalho cuidadoso”, explica Marcos.
Para ser o bom velhinho, n�o basta vestir a roupa de veludo e sair por a� desejando Feliz Natal. H� regras a serem seguidas. Em primeiro lugar, n�o pode ser ped�filo nem beberr�o. “Uma vez, num shopping de uma cidade do interior de Minas, um homem bebeu tanto que caiu da cadeira. N�o era nosso associado nem nunca ser�”, diz Marcos Henrique.
ITINERANTE
Contratados por ag�ncias, prefeituras e estabelecimentos comerciais ou atuando de forma aut�noma, os Papais No�is est�o acostumados a circular – tanto no seu tren� como sacolejando em �nibus, muitas vezes recebendo menos do que merecem, como informa Carlos Vicari, paulista de Santos, residente em BH desde 1990. “Trabalhei em shoppings daqui, mas, na �ltima vez, estavam oferecendo menos do que no per�odo natalino anterior. Ent�o, fui trabalhar em Cariacica (ES). Morava em Vila Velha, trabalhava oito horas, viajando duas horas para ir e duas para voltar. Voltei para BH e veio a pandemia. Achei triste, em 2020, quando os shoppings puseram um boneco sentado no nosso lugar.”
Nos dois �ltimos anos, Vicari, que tem dois filhos do primeiro casamento e � padrasto de tr�s da segunda uni�o, tornou-se Papai Noel itinerante em Contagem, contratado pela C�mara Municipal. “Saio num caminh�o percorrendo as ruas do munic�pio, e tamb�m fa�o visitas presenciais. Minha mensagem � sempre de esperan�a, e de que o bem sempre vence o mal.”
DEPOIMENTO
Nas ruas, a magia do Papai Noel
“J� me vesti de Papai Noel por duas vezes. N�o era festa de fam�lia nem do trabalho, muito menos uma brincadeira entre amigos. Entrei no papel e no figurino para fazer uma mat�ria aqui para o Estado de Minas. A pauta, que no in�cio estranhei, transformou-se numa das experi�ncias mais surpreendentes da minha vida profissional. Na primeira vez, no calor�o de dezembro, fui ao Parque Municipal, no Centro de Belo Horizonte, e oferecia uma bala ou pirulito a quem me contasse uma hist�ria. “Papai Noel, por favor, traga de volta meu namorado”, me disse uma jovem em quase desespero, como se eu fosse uma entidade ou figura m�gica. Na segunda vez, no entorno do terminal rodovi�rio, me emocionei com o relato de uma gr�vida soropositiva. S� queria que o beb� nascesse com sa�de. Certo de que Papai Noel (at� onde sei) n�o escreve, s� recebe cartas, memorizando os relatos, enquanto o fot�grafo Beto Novaes registrava, de longe, cada cena, encobrindo os rostos dos personagens com arbustos, placas, �s vezes as m�os. Enquanto isso, o suor escorria e minha barba deixava o rosto � mostra. Ningu�m se incomodava e, curiosamente, continuava a fazer os pedidos. Crer ou n�o crer, eis a quest�o... s� sei que, depois dessas reportagens, vi, mais do que nunca, que ‘cada um sabe onde seu calo aperta’.”