BH: moradores em situa��o de rua celebram Natal sem perder a tradi��o

Uma �rvore de Natal pode nascer no terreno baldio, crescer sob um viaduto, frutificar em meio ao concreto - basta que a m�o humana a adube com bons sentimentos, regue com a �gua da vida e coloque os nutrientes vindos l� do cora��o. Em Belo Horizonte, no Centro e bairros, o cen�rio urbano reserva alguns "presentes" para os olhos: o s�mbolo da temporada feito de papel�o, enfeitado com bolinhas de piscina, colorido pelas capas de celular.

H� sete anos vivendo em situa��o de rua, Henrique Vieira Wollny usou a criatividade, e muita reflex�o, para montar sua �rvore de Natal, que pode ser vista na Rua Pernambuco esquina com Avenida do Contorno, na Savassi, Regi�o Centro Sul de BH. No topo da �rvore, Henrique colocou um gorro de Papai Noel, e usou bolinhas de piscina (de brinquedo) para fazer brilhar seu s�mbolo do Natal.

O uso do material recicl�vel, especialmente a base da �rvore, serve para tamb�m denunciar as agress�es ambientais. "Resolvi inverter o processo e fazer uma ironia com a natureza, pois as �rvores s�o derrubadas para dar origem ao papel�o. Aqui, usei o papel�o para fazer uma �rvore. De certa forma, estou 'amenizando' o quadro de destrui��o das florestas", contou Henrique, que se declara revisor de texto, formado em letras, e est� em busca de uma oportunidade de trabalho. "Quero sair do pesadelo que � viver na rua e comprar uma casa."

CAPRICHO TOTAL

J� sob um viaduto da Avenida Ant�nio Carlos, no Bairro S�o Crist�v�o, na Regi�o Noroeste, Wagner L�cio de Campos, de 44, caprichou na sua �rvore de Natal, colocando no alto do pinheirinho uma faixa com os votos de Feliz Natal. O detalhe interessante est� nas capas de celular, de v�rias cores, penduradas na ponta dos galhos, substituindo as tradicionais bolas de vidro ou metalizadas. "O dinheiro n�o deu para comprar as bolinhas, ent�o encontramos as capinhas, durante a coleta de material recicl�vel, e resolvemos us�-las. Arte nasce assim, n�?", contou Wagner, que est� h� um ano em situa��o de rua.

Sob o viaduto, Wagner, a mulher e "uma vizinha" criaram um canteiro, dentro do projeto "mais plantas, menos lixo". O objetivo � propagar a ideia entre a popula��o em situa��o de rua. "Vivo de bicos, sou jardineiro, fa�o poda, capina, conserva��o", explicou o homem, certo de que, "no mais, vive da "gra�a de Deus". Como o movimento na avenida � constante, ele agradece os elogios de quem passa, de carro ou a p�, por conseguir transformar o local e celebrar o Natal.

H� mais tr�s d�cadas em situa��o de rua, Odair Benjamim Tom�s, de 44, tamb�m presta sua homenagem ao Natal, colocando seu gorro de Papai Noel. Na manh� de ontem, ele contou que vive com a ajuda de Deus, de volunt�rios e da venda de balas, pipocas, pa�oquinha e outras guloseimas. Como se trata de uma data muito festiva, ele comemorou, tomando umas e outras, no lugar onde vive (Alameda Ezequiel Dias), na Regi�o Central de BH.   

PAPAI NOEL

De onde ser� que sai tanto Papai Noel? Eles est�o no alto dos caminh�es, acenando na janela dos carros, na carroceira das caminhonetes - basta sair �s ruas para v�-los com a roupa e o gorro vermelho e a barba branca esvoa�ante, mantendo uma velha tradi��o do dia do Natal, nas cidades do interior de Minas. � crian�ada que espera na cal�ada, o "bom velhinho" atira balas e chocolate.

Em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, foram muitos papais no�is na manh� deste domingo (25), percorrendo a cidade. No Bairro S�o Geraldo, muitas fam�lias ficaram esperando a passagem da comitiva l� da Lap�nia, no Hemisf�rio Norte, que, para n�o perder tempo, trocou o tren� pelo caminh�o. "Estou achando esse Papai Noel, deste ano, meio pobre, s� est� jogando bala", disse uma menina, que ouviu de uma garota, ao lado. "Voc� chegou atrasada. O que passou antes 'encheu' a gente de chocolate!"