
Entre todos os intoxicados, por uma subst�ncia chamada dietilenoglicol, encontrada na bebida, dez morreram. Jos� Osvaldo foi uma das primeiras v�timas. Consumiu a bebida em fevereiro de 2019. Os diagn�sticos relacionando a Belorizontina a intoxica��es, inclusive o de Jos� Osvaldo, come�aram a ocorrer somente em janeiro de 2020. Completam agora tr�s anos.
Nesse per�odo, Jos� Osvaldo e outros nove morreram, 19 pessoas que tamb�m beberam a cerveja seguem com sequelas, e uma parte tem que fazer hemodi�lise. Depois de dois anos e tr�s meses interditada, a Backer voltou a funcionar em abril de 2022.
At� hoje, no entanto, nenhuma indeniza��o foi paga e ningu�m foi preso. No caso de Eliana, as dificuldades se acumulam. "O problema �, como eu disse para o juiz, sem o meu marido, n�o adianta ter as lojas dele. Porque quem � microempres�rio no Brasil, a loja, o CNPJ, � o CPF da pessoa. A loja est� definhando. Ele construiu aquilo em 30 anos", diz a vi�va.
"Era o perfil dele. Era respeitado. Era o negociante. A esposa dele � outra coisa. A cada ano, a cada m�s que passa a gente vai se endividando e se sacrificando cada vez mais.
Tento vender, mas primeiro tenho que achar quem quer comprar. Voc� toca uma microempresa durante 30 anos, ela � fielmente o seu DNA. N�o adianta botar filho, esposa, voc� vai quebrar", diz Eliana.
Dois processos foram abertos contra a Backer e seus donos. Um c�vel, que cobra da empresa o pagamento de indeniza��es �s v�timas e familiares, e um criminal, contra os tr�s propriet�rios da empresa Tr�s Lobos, que s�o Ana Paula Lebbos, Munir Lebbos e Salim Lebbos. A Tr�s Lobos � a fabricante da Belorizontina e outras cervejas da Backer.
Os propriet�rios respondem na Justi�a por venda de produto falsificado, corrompido ou adulterado, em julgamento que corre na 2ª Vara Criminal do F�rum Lafayette, a primeira inst�ncia da Justi�a em Belo Horizonte. A pena � de quatro a oito anos de pris�o. At� agora, apenas a primeira fase do julgamento foi conclu�da, a das oitivas de quatro v�timas e 23 testemunhas de acusa��o.
Em seguida a defesa apresentou questionamentos �s per�cias feitas durante investiga��o da Pol�cia Civil. Todas foram respondidas e o processo est� agora concluso para despacho do juiz. A fase seguinte � a das oitivas das testemunhas de defesa. As pr�ximas etapas s�o as alega��es finais e a senten�a.
O advogado dos donos da cervejaria, Hermes Guerreiro, afirmou � reportagem que outras per�cias e pareceres ser�o juntados ao processo pela defesa, e que somente ao final do processo haver� um posicionamento sobre os argumentos a serem dados para evitar a condena��o de seus clientes. "Ainda vamos ouvir as testemunhas de defesa", argumenta o advogado.
No processo c�vel, a fase atual envolve negocia��o sobre o valor das indeniza��es a serem pagas, o que oscila de acordo com o caso de cada v�tima ou parente. O retorno da Backer ao mercado fez com que aumentasse a esperan�a por uma solu��o mais r�pida no processo, pelo fato de haver a possibilidade, por parte da empresa, de ter mais recursos para os pagamentos.
"As tratativas para alcan�ar um acordo continuam, e a expectativa � que o retorno das atividades da empresa possa acelerar a defini��o das indeniza��es e o pagamento", avalia Guilherme Leroy, advogado de um grupo de v�timas. Em nota, a Backer diz que as negocia��es est�o em fase de defini��o de valores "com expectativa de muito em breve ter finalizados os procedimentos de media��o".
Mudan�as
Depois de inspecionada pelo Mapa (Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento), a Backer foi obrigada a fazer uma s�rie de altera��es em seu processo de produ��o para que pudesse voltar a funcionar. Uma das mudan�as foi a troca da subst�ncia utilizada na refrigera��o dos tanques, que, conforme as investiga��es, foi a respons�vel pelas intoxica��es.
O produto circulava por dutos no entorno dos tanques e, por furos, acessou os compartimentos em que a cerveja era fabricada. O l�quido refrigerador, agora, � uma mistura de �gua e �lcool.
A retomada ocorreu com a produ��o de cervejas que j� faziam parte da linha de produ��o. A Belorizontina, no entanto, ao menos at� o momento, n�o est� na lista. A empresa n�o informa a produ��o atual, e diz apenas que sua capacidade total n�o foi atingida.