
Izabela Baeta
O automobilismo ainda � um esporte majoritariamente masculino. No entanto, nos �ltimos anos, as mulheres v�m conquistando espa�o na modalidade. Os �dolos nacionais, como Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi e Rubens Barrichello, entre outros, est�o marcados na hist�ria como um espelho. Mas, entre as pilotos, a inspira��o tamb�m surge a partir de outras mulheres que lutaram por melhorias e quebraram barreiras no paddock e nas pistas.
Pioneira na luta pela presen�a feminina no automobilismo, Bia Figueiredo pode ser considerada uma das maiores pilotos do Brasil. Atualmente disputando a Copa Truck pela equipe ASG Motorsport, ela foi a primeira brasileira a correr em uma grande categoria do automobilismo mundial, a F�rmula Indy, al�m de ser a primeira mulher do mundo a vencer na Firestone Indy Lights, a �nica a vencer na F�rmula Renault, a conquistar uma pole position na F�rmula 3 e a disputar e vencer no Desafio das Estrelas – torneio anual de kart organizado pelo ex-piloto Felipe Massa.
Mas a hist�ria feminina no automobilismo n�o para nos desafios enfrentados por Bia durante toda a carreira. Ela se estende �s centenas de meninas que s�o apaixonadas e sonham em seguir carreira dentro do esporte a motor. � o caso da piloto Rafaela Ferreira e da engenheira de dados Erika Prado.
Estreante na F�rmula 4 Brasil – categoria de base licenciada pela Federa��o Internacional de Automobilismo (FIA) - Rafaela Ferreira, de 17 anos, contou ao Estado de Minas/Superesportes que sonha em vencer o campeonato inspirada pela hist�ria da pioneira Bia Figueiredo.
“Venho treinando muito, decidi focar na F�rmula 4. Entrei na academia, mudei minha alimenta��o. Minha for�a est� toda nisso. Espero trazer este t�tulo para casa. Como mulher, me inspiro muito na Bia Figueiredo. Ela foi uma mulher que quebrou recordes, chegou � F�rmula Indy, n�o � pra qualquer um”, contou.
Fora das pistas, a engenheira de dados da equipe Cavaleiro Sports, da F4 Brasil, Erika Prado conta que parte do seu interesse em seguir carreira no automobilismo surgiu ap�s assistir � piloto Bia Figueiredo correndo na F�rmula Indy, no Brasil, em 2012.
“Em 2012, eu tinha 19 anos e acabei indo � minha primeira corrida de F�rmula Indy, que foi no Samb�dromo do Anhembi. Foi a primeira vez que vi a Bia Figueiredo correndo – na �poca, a piloto corria na Indy. Como � uma categoria de circuito de rua ou de oval, as coisas – boxes, equipamentos, pneus, etc – ficavam na rua, e a gente via um pouco de como funcionava. Eu fiquei encantada com aquilo e sonhei em trabalhar com automobilismo”, comenta Erika.
Assim como Rafaela e Erika conquistam espa�o, outras mulheres trilham hist�rias parecidas no esporte a motor.
Mais simpatizantes vistas nos paddocks
Nos �ltimos anos, houve um aumento significativo no n�mero de mulheres em �reas do esporte que antes eram majoritariamente ocupadas e relacionadas a homens. Torcedoras, jornalistas, comentaristas, profissionais de automobilismo e influenciadoras ligadas ao assunto v�m sendo cada vez mais presentes.
Para Erika Prado, o interesse feminino pelo automobilismo n�o � novidade, mas a conquista � lenta. “As mulheres sempre se interessaram por automobilismo. Sempre estiveram l�. S� que com movimentos como Girls Like Racing (comunidade feminina fundada por ela sobre automobilismo), criadoras de conte�do feminino e todo o processo de inclus�o de mulheres em todos os lugares, acabou chegando at� o esporte a motor. Demorou muito”.
Na F�rmula 1, maior categoria do automobilismo mundial, algumas mulheres j� deixaram seus nomes marcados na hist�ria, como a italiana Maria Teresa de Filippis, primeira mulher a competir na F�rmula 1. Lella Lombardi, tamb�m italiana, obteve o melhor resultado de uma mulher na linha do tempo do esporte. Ou nomes como Divina Galica, Desir� Wilson e Giovanna Amati.
Apesar de apenas cinco mulheres terem competido na F-1, a presen�a feminina n�o se limita a elas.
“� uma onda que veio pra ficar. Vejo a aproxima��o de f�s, de mulheres como profissionais do automobilismo, como algo muito positivo. As mulheres come�aram a mostrar quem elas s�o e do que elas gostam, e isso � um movimento atual, e � maravilhoso”, declarou Erika.
A presen�a de competidoras nas categorias para projetos de desenvolvimento e testes de carros da F�rmula 1 aumentou. Al�m disso, categorias direcionadas ao p�blico feminino tamb�m foram criadas, como a W Series e a F-1 Academy.
No cen�rio internacional, alguns nomes se destacam dentro e fora das pistas: Jamie Chadwick, tricampe� da W Series e piloto de desenvolvimento da Williams; Susie Wolff, ex-piloto profissional e atualmente diretora administrativa da F-1 Academy; Sophia Floersch, �nica piloto no grid da F�rmula 3; e Hannah Schmitz, engenheira mec�nica e estrategista da equipe Red Bull Racing na F-1.
Para Rafaela Ferreira, o aumento no n�mero de mulheres no esporte a motor � percept�vel. “Vejo esse aumento das mulheres no automobilismo. Antes, quando ia correr, tinha s� eu de mulher. Hoje tem bem mais meninas na pista, mas tamb�m por tr�s, como engenheiros e jornalistas. � muito legal o movimento de mulheres apoiando outras mulheres.
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Desafios pela frente no futebol
O ambiente machista e heteronormativo do futebol parece estar mudando em fun��o da luta de feministas e dos grupos LGBTQIA+, mas ainda h� muitos desafios pela frente. Em celebra��o ao Dia Internacional das Mulheres, comemorado hoje, o Estado de Minas/Superesportes ouviu torcedoras para conhecer hist�rias sobre as experi�ncias delas nos est�dios, bem como uma pesquisadora do tema.
A cruzeirense Giane Alves, 36 anos, v� uma altera��o positiva no ambiente dos est�dios, mas entende que as campanhas contra o ass�dio devem ser cont�nuas, n�o apenas em momentos isolados. Ela participa do grupo Maria de Minas, que integra mulheres e integrantes de outras minorias, e acredita em uma modifica��o mais profunda com a conscientiza��o dos torcedores.
"� preciso ter uma vigil�ncia constante, com uma campanha permanente, uma campanha mais pr�ximas �s torcidas organizadas, a impress�o que tenho � que clubes, federa��es e Minas Arena trabalham de forma reativa, quando ocorre algum evento, como ocorreu no ano passado, quando atleticanoa compartilharam casos de ass�dio no est�dio. Todos devem unir esfor�os para isso ser uma pauta di�ria nos jogos, inclusive a CBF", disse a servidora p�blica.
A pesquisadora Anna Gabriela Cardoso, doutoranda do CEFET-MG, estuda o assunto e afirma que o cen�rio est� mudando em fun��o da luta das mulheres. "As mulheres n�o est�o caladas. Um encontro em 2017 reuniu cerca de 300 torcedoras no Museu do Futebol em S�o Paulo, o que resultou em outros movimentos locais e na cria��o de um movimento nacional. Agora, em 2023, no dia 11 de mar�o, o movimento feminino de arquibancada vai realizar um semin�rio para discutir pol�ticas p�blicas de enfrentamento ao machismo nas arquibancadas. Ou seja, como o pr�prio movimento tem levantado a bandeira: 'Quando as mulheres avan�am, ningu�m as faz retroceder'", disse.
Anna Gabriela lembra que as mulheres sempre estiveram presentes nos est�dios de futebol do Brasil. No in�cio do s�culo XX, havia a percep��o no imagin�rio social de que elas 'embelezavam' e mostravam que o 'jogo era familiar', em uma performance p�blica masculina, segundo an�lise de alguns pesquisadores. De outro lado, a presen�a delas tamb�m contribuiu para inser��o das mulheres no espa�o p�blico. Essas imagens foram sendo alteradas ao longo dos anos, passando pelas ofensas ao apelido Maria-Chuteira ao protagonismos nos grupos organizados de torcidas apenas por mulheres.
Posi��es contr�rias
Hoje, a doutoranda lembra que s�o v�rias mulheres presentes no est�dio e com posi��es diferentes e que, muitas vezes, ainda encontram situa��es pouco amig�veis no futebol. "Precisamos pensar que existem muitas 'mulheres', que v�o desde a esposa do jogador no camarote do est�dio at� a torcedora de organizada balan�ando a bandeira, as que v�o com a fam�lia, as que v�o sozinhas. Em cada uma dessas situa��es, elas s�o tratadas de maneiras diferentes e precisam impor suas formas de agir e pensar para serem aceitas. Em muitos desses contextos, os est�dios ainda s�o locais pouco amig�veis, por�m, elas n�o est�o caladas, marcando presen�a e buscando desfazer essa ideia de que futebol � 'coisa de homem." (Com Izabela Baeta)