
De acordo com documento do MPMG, no qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso, Terezinha e Lalesca foram intimadas na �ltima quinta-feira (5/5), e K�tia ontem (11/5). N�o h� informa��es sobre a intima��o oficial de Diego.
Na ter�a-feira de Carnaval os meninos pediram comida para uma vizinha por um buraco na porta do apartamento onde estavam. Eles j� haviam sido vistos entrando no local com Terezinha Pereira dos Santos e Lalesca Pereira dos Santos, m�e e filha, apontadas como as principais suspeitas de abandon�-los.
Depois de alimentar as crian�as, a vizinha acionou a Pol�cia Militar. Ao chegarem no local os militares perceberam que a porta de entrada estava trancada com uma corrente e cadeado.
Dentro do apartamento os militares encontraram um colch�o de solteiro no ch�o, vasilhas sujas na cozinha e nenhuma comida. Conforme o boletim de ocorr�ncia, as crian�as foram encaminhadas para o Hospital Odilon Behrens com quadro de desnutri��o e desidrata��o severa.
Para o Minist�rio P�blico, Terezinha e a filha, Lalesca, s�o respons�veis pelo abandono dos meninos. A mulher mais velha, inicialmente identificada como av� das crian�as, tamb�m seria respons�vel por mant�-las em “intenso sofrimento f�sico e psicol�gico, para aplicar castigo pessoal”.
Segundo o laudo m�dico do exame de corpo e delito das crian�as, feito ap�s o resgate, o menino mais novo, de 6 anos, pesava 13 kg, apresentava diversas escoria��es pelo corpo e not�ria perda muscular. Nas imagens tiradas no momento do exame � poss�vel ver os ossos da costela, ombro, joelho e outras articula��es bem protuberantes.
Ainda conforme o relat�rio, a sa�de do menino estava cr�tica devido � falta de nutrientes. O mais velho, de 9 anos, tamb�m estava desidratado e desnutrido, mas com menor gravidade.
Os meninos ficaram internados por cerca de 15 dias. Eles foram acompanhados pela equipe do Conselho Tutelar da Prefeitura de Belo Horizonte e pelo tio materno, que veio de Valpara�so de Goi�s quando soube da morte de um terceiro sobrinho, Emanuel, tamb�m em fevereiro deste ano.
Homic�dio
Al�m das den�ncias em rela��o ao abandono dos meninos no Bairro Lagoinha, o MPMG tamb�m apresentou � justi�a acusa��o contra K�tia Cristina Robes, m�e das crian�as, pela morte de outro filho, no dia 6 de fevereiro.
O menino de 4 anos morreu ap�s dar entrada na UPA de S�o Joaquim de Bicas, na Grande BH. Ele foi levado at� o local pela m�e. Conforme laudo do exame de necropsia, a crian�a sofreu parada cardiorrespirat�ria, estava desnutrida e desidratada. A causa da morte foi uma pancada na cabe�a por objeto contundente.
Ainda de acordo com o laudo, a situa��o da crian�a era bastante dram�tica. Ela apresentava hematoma roxo no olho esquerdo, machucado no l�bio superior, machucados no lado esquerdo do rosto e hematoma na parte interna dos l�bios. Estava muito magro, com costelas aparentes, escoria��es no peito, escoria��es na coxa direita, ferimentos circulares no tornozelo esquerdo e na perna direita, escoria��es na lombar e hematoma intracraniano.
Para o Minist�rio P�blico, K�tia, Terezinha e seu filho, Diego, s�o respons�veis pela morte da crian�a. Eles est�o sendo acusados de homic�dio por motivo torpe, mediante tortura, emprego de meio cruel e utiliza��o de recursos que dificultou ou impossibilitou a defesa da v�tima.
Em entrevista ao Estado de Minas, no dia 24 de fevereiro, o antigo advogado de K�tia relatou que a cliente era mantida em c�rcere privado pela fam�lia de Terezinha. O fato foi exposto pela mulher em um relato, escrito na Penitenci�ria de Vespasiano.
Na carta, entregue � dire��o do pres�dio, a m�e das crian�as conta que era mantida afastada de seus filhos homens, e que teve sua filha rec�m nascida tirada de seus bra�os logo ap�s seu nascimento. Apesar disso, o MPMG afirma que a mulher devia e podia agir para evitar a morte de seu filho al�m das torturas a que seus filhos foram submetidos, “em raz�o de sua obriga��o legal de cuidado, prote��o ou vigil�ncia”. O �rg�o ainda apontou que ela foi acusada de agredir as crian�as.
O que dizem os meninos
Dias depois de darem entrada no Hospital Odilon Behrens, os dois meninos resgatados no apartamento de BH participaram de uma entrevista de Escuta Especializada, realizada por um perito da Pol�cia Civil. De acordo com o relat�rio, ao qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso, o menino de 9 anos contou sobre o dia em que ele e o irm�o foram encontrados pela vizinha do im�vel da Rua Itapecerica, no bairro Lagoinha.
Conforme relato, as crian�as teriam ficado sozinhas de 3 a 4 dias. Antes do abandono, estavam no im�vel Terezinha, Lalesca e suas filhas. Dias depois, as mulheres foram embora, deixando os garotos trancados em c�modos diferentes. Segundo o menino, um deles ficou debaixo do sof� e o outro dentro de um arm�rio. Ao perceber que as mulheres n�o iriam voltar, ele acabou saindo de onde estava e indo ao encontro do irm�o, que estava chorando e pedindo comida. Foi quando ele decidiu acionar a vizinha alegando fome.
Sobre como era a vida antes de ir para o apartamento no Bairro Lagoinha, o menino disse que morava com a m�e e os irm�os em um s�tio de Terezinha, em S�o Joaquim de Bicas. Ele afirma que o terreno era grande, "uns quatro lotes", com v�rias casas, "uma pior que a outra". L�, ele e o irm�o ficavam em um quarto que tinha um buraco na parede.
Era comum que os meninos ficassem afastados um do outro, isso porque, segundo o menino, Terezinha dizia que eles n�o davam certo juntos. Al�m disso, no s�tio as crian�as n�o podiam ver televis�o, apenas trabalhar. � perita, ele contou que era respons�vel por carregar terra e �gua, molhar plantas, cavar buracos "com ferramenta pesada" e capinar. As tarefas tamb�m eram repassadas para as outras crian�as.
Ao ser questionado sobre sua ida � escola, o garoto afirmou que Terezinha n�o queria matricul�-lo em nenhuma institui��o de ensino, porque eles poderiam "ficar fazendo fofoca" de que ela os colocava para trabalhar.
Em rela��o aos machucados pelo seu corpo, ele informou que foram causados por excesso de trabalho ou por ter apanhado. A crian�a disse que um machucado em seu pulso foi feito por Diego, filho de Terezinha, quando o teria pegado tentando "ca�ar" comida. Ainda segundo o relato, Terezinha ajudava o filho a agredir as crian�as, chegando a colocar um pano em suas bocas para que n�o gritassem.
Sobre a rela��o com a m�e, o filho contou que ela j� teve tr�s namorados, e que todos a espancavam. De acordo com o menino, desde o dia que a m�e conheceu o padrasto ela "ficou m�", e sempre batia nos filhos.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com o advogado dos acusados, mas at� a publica��o desta mat�ria n�o obteve resposta.