
Pomp�u e Martinho Campos - Das baixadas de Martinho Campos e Pomp�u, no Centro-Oeste de Minas Gerais, as �guas claras de leito arenoso do Rio Par� avan�am lentas e largas, mergulhando em foz em um Rio S�o Francisco agitado, barrento, entre corredeiras de pedras que arrastam troncos e galhos. Juntos, se aplacam e se misturam entre a Ilha do Pontal, somando for�as para vencer o sert�o depois de 365 quil�metros do Rio Par� desde a Serra das Vertentes, em Resende Costa, onde nasce o manancial, at� a foz do S�o Francisco, em Penedo (AL). Trajeto que aventureiros, cientistas, ambientalistas e defensores do manancial percorreram vencendo curvas e r�pidos do quarto maior afluente da bacia do Velho chico em Minas, com o objetivo de chamar a aten��o para a sua conserva��o na “Expedi��o Rio Par�: Esse rio � meu”, promovida pelo Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio Par� (CBH do Rio Par�).
A reportagem do Estado de Minas acompanha a saga dos desbravadores desde a nascente, no dia 8 de maio, registrando, inclusive, a nascente, que n�o tinha imagens oficiais nem no CBH. Foram 2 mil quil�metros percorridos na bacia que congrega 34 munic�pios e 900 mil habitantes.
“A expedi��o superou as nossas expectativas em todos os pontos, mas, principalmente, porque descobrimos, contactamos e nos unimos a muita gente que quer trabalhar pelo bem do Rio Par�, mas que estava dispersa, n�o tinha uma unidade e o CBH do Rio Par� pode e deve ser um ponto de uni�o desses interesses pelo rio”, disse o presidente do CBH do Rio Par�, Jos� Hermano de Oliveira Franco. “N�o vamos resolver todos os problemas, mas estamos conhecendo mais e ao longo de uma jornada vamos ter um rio melhor para todos”, espera.
Os desafios s�o in�meros. Como a reportagem mostrou, trata-se de um rio que sofre com descargas de esgotos, assoreamento e desmatamento. De acordo com o Monitoramento da Qualidade das �guas Superficiais do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam), do segundo semestre de 2022, das seis esta��es de monitoramento instaladas no manancial, tr�s extrapolam o n�vel mais cr�tico de toler�ncia a poluentes da legisla��o brasileira (classe 3 de pureza), sendo que todos os postos de medi��o apresentaram par�metros dentro do pior patamar aceito, sobretudo para esgotos (coliformes) e f�sforo.
A situa��o dos afluentes tamb�m foi exposta, muitos deles contendo metais pesados mal�ficos para a sa�de humana. O pior afluente do Rio Par� � o C�rrego Buriti ou Pinto que flui pelo territ�rio de S�o Gon�alo do Par� recebendo descargas industriais t�xicas de chumbo, fen�is e ferro acima dos �ndices da classe 3. Ao todo, o curso d’�gua estreito e r�pido que corta a cidade e o campo em dire��o ao Rio Par� concentrou sete viola��es de par�metros acima da classe 3 e quatro dentro desse �ndice.
Outro grave problema � o desmatamento. Levantamentos feitos pela reportagem indicam que uma �rea de 85 hectares (ha) do Rio Par� que daria quase tr�s parques municipais Am�rico Rene� Giannetti, no Centro de Belo Horizonte, deixou de ser mata ciliar e se transformou em cinzas, planta��o ou eucaliptos.
A conclus�o foi tirada a partir de informa��es de sat�lites compilados pela Organiza��o N�o-Governamental World Forest Watch, de 2017 a 2021, levando-se em conta margens de 50 metros de cada lado do rio. O espa�o d� uma ideia de como o desmatamento afeta o manancial que � o quarto maior contribuinte do Rio S�o Francisco em Minas Gerais, mas � subestimada, j� que onde o rio � mais largo, acima de 50 metros, essas margens protegidas devem ser de 100 metros.
Viagem
A expedi��o passou por 11 munic�pios dos 36 que formam a bacia, percorrendo desde Resende Costa, na nascente, e passando por Itaguara, Par� de Minas, Carmo do Cajuru, Divin�polis, Ita�na, Cl�udio, Pitangui, Concei��o do Par�, Bom Despacho, Martinho Campo e Pomp�u.
A expedi��o passou por 11 munic�pios dos 36 que formam a bacia, percorrendo desde Resende Costa, na nascente, e passando por Itaguara, Par� de Minas, Carmo do Cajuru, Divin�polis, Ita�na, Cl�udio, Pitangui, Concei��o do Par�, Bom Despacho, Martinho Campo e Pomp�u.
Um dos membros mais antigos do CBH do Rio Par� � o conselheiro Jos� Dirino Arruda, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Martinho Campos. “Minha vida inteira, mais de 60 anos, foram vendo o rio chegar ao S�o Francisco na foz. A expedi��o me levou ao lugar onde nasce e contou essa hist�ria a todos. me emocionou. Fiquei feliz de ver onde a �gua nasce, mas muito triste de sentir cheiro de esgoto em Divin�polis e Ita�na. Todos merecem um rio saud�vel e uma vida saud�vel”, disse, bastante emocionado, pouco antes de cruzar as �guas da foz do Par�.
A foz do Rio Par� no Rio S�o Francisco impressiona por resumir estados que o manancial enfrenta ao longo do ano. “Nas chuvas, a gente aqui no fim do rio fica pedindo para que se segure as �guas, porque a inunda��o � muito forte. na seca, rezamos para que venha mais �gua. Na seca, a ilha vira at� pasto para o gado. Hoje, s� se passa de barco”, afirma o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Pomp�u, Paulo Henrique de Souza Lino. “Para Pomp�u o Par� � fundamental. Nos serve 70% da �gua que bebemos, sem falar do pescado e do agroneg�cio, dos piv�s de milho, soja e feij�o”,
conta.
A��es para preservar a bacia hidrogr�fica
Entre as atividades que o CBH Par� levou �s comunidades por onde passou divulgando a import�ncia do Rio Par�, ocorreram encontros com escolas, prefeituras, servi�os de abastecimento e saneamento. Em Par� de Minas, os expedicion�rios encontraram com a Comiss�o Gestora Local (CGL) da bacia hidrogr�fica do Ribeir�o Paci�ncia, uma das duas bacias no territ�rio do Rio Par� onde foi declarado conflito pelo uso da �gua, ou seja, h� muitos usu�rios das �guas e uma escassez de oferta do manancial para as v�rias atividades que dele dependem. Por isso os usos devem seguir regula��es e limites mais severos do que em outros cursos d ‘�gua.
Em Carmo do Cajuru, onde se destaca a represa de Cajuru, a expedi��o pode conhecer experi�ncias como o Programa de Conserva��o Ambiental e Produ��o de �gua da Bacia do Ribeir�o do Sap� (Ag�ncia Peixe Vivo), o Programa Produtor de �guas do Ribeir�o do Empanturrado (ANA) e tamb�m pr�ticas sustent�veis em propriedades rurais e resultados (Emater).
Na cidade de Divin�polis, a equipe do Comit� promoveu uma an�lise da qualidade da �gua do Rio Itapecerica, um dos mais importantes afluentes do Rio Par�, na Pra�a Candid�s. Em Cl�udio, conheceram as a��es do Projeto Sou Semente e do Programa de Educa��o Ambiental (PROGEA), pelo munic�pio, e do Programa de Conserva��o Ambiental e Produ��o de �gua da Bacia do Rio Par�, do Comit�, que tem a microbacia do Ribeir�o dos Cust�dios, como uma das tr�s beneficiadas em todo o territ�rio.
A expedi��o foi ao distrito de Velho da Taipa, na divisa entre Pitangui e Concei��o do Par�, local hist�rico, onde viveu um dos fundadores de Pitangui, Ant�nio Rodrigues Velho, neto de Jo�o Ramalho, um aventureiro que � das figuras mais importantes do in�cio da coloniza��o do Brasil, chegando em 1510. Sua linhagem pode ser considerada precursora dos bandeirantes.
No munic�pio de Bom Despacho, foi promovida uma Roda de Conversa com a Comiss�o Gestora Local (CGL) da Bacia Hidrogr�fica do Rio Pic�o. A bacia � a segunda do territ�rio do Rio Par� onde foi declarado conflito pelo uso da �gua. Um dos focos em Martinho Campos � a Reserva Ind�gena Kaxix�. A expedi��o conheceu mais da cultura do povo Kaxix�, por meio de uma roda de conversa, rituais e manifesta��es culturais, e apresenta��es de alunos da Escola Estadual Ind�gena Caxix� Taoca Sergia.
*Enviado especial
*Enviado especial