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Estado de Minas DEVO��O E EMO��O

Padre Eust�quio deixou um legado inspirador por onde passou

Em agosto deste ano, completam-se 80 anos da morte do mission�rio, que faleceu em 1943 ap�s ser picado por um carrapato


21/05/2023 07:30 - atualizado 25/05/2023 15:41
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SAFSA
Missa celebrada por padres brasileiros na cidade belga de Lovaina, onde est� sepultado S�o Dami�o, que inspirou os caminhos de Padre Eust�quio (foto: Gustavo Werneck/EM/D.A PRESS)

Tremelo e Lovaina, B�lgica - “Sou o mission�rio mais feliz do mundo. Minha maior felicidade � servir o Senhor em seus filhos doentes, rejeitados pelos outros homens”. A vida de S�o Dami�o de Molokai (1840-1889), autor da frase, inspirou os caminhos de Padre Eust�quio. Nascido Jozef de Veuster na cidade de Tremelo, na B�lgica, e pertencente � Congrega��o dos Sagrados Cora��es, o mission�rio viveu 16 anos (de 1863 a 1889) na ilha Molokai, no Hava� (antigo reino), cuidando de leprosos. Morreu em decorr�ncia da hansen�ase. Foi beatificado em 1995 e canonizado em 2009.
 
Na viagem pelos caminhos de Padre Eust�quio, os mineiros visitaram, em Tremelo, a casa onde nasceu o padre Dami�o, hoje museu (Damiaanmuseum). Em Tremelo, Padre Eust�quio fez o noviciado (per�odo necess�rio para quem entra numa ordem religiosa). No livro “O vig�rio de Po�”, de 1944, o autor, padre Ven�ncio Hulselmans, escreveu: “Humberto van Lieshout n�o teve d�vidas de que seu her�i, Dami�o, o leproso, tirara suas for�as para o apostolado dessa adora��o silenciosa e dessa repara��o, que, desde pequenino, o convidava  a esquecer-se de si mesmo, a pensar nos Sagrados Cora��es, que pediam, como desagravo das inj�rias sofridas, almas v�timas, almas que se sacrificassem para consolar seus cora��es magoados, trazendo-lhes almas, e, se poss�vel, fam�lias inteiras”.   
 
Bem na entrada do museu, pintado de branco com portas e janelas verdes, h� um busto do santo, o qual chama a aten��o pelas fei��es retorcidas – certamente, uma forma encontrada pelo artista para significar a lepra. No acervo, h� esculturas – uma delas, impressionante, com o interior da madeira criando o corpo e o rosto de S�o Dami�o –, retratos de fam�lia, o piso de mosaicos, documentos e mapas. Imposs�vel n�o ficar, alguns minutos, vendo o tra�ado da viagem do mission�rio belga, da Europa ao Hava�. Na �poca, s�culo 19, foram cinco meses, de navio, navegando pelos oceanos Atl�ntico e Pac�fico e passando pelo extremo da Am�rica do Sul.

INSPIRA��O 


O altar dedicado a Nossa Senhora � um dos destaques do museu, e emocionou Lucimara do Ros�rio Silva Reis, pedagoga e empreendedora residente em Patroc�nio, cidade onde existe a Par�quia S�o Dami�o de Molokai. “Essa viagem nos permite aprender mais sobre Padre Eust�quio e tamb�m sobre S�o Dami�o. Estou duplamente feliz, comemorando 25 anos de casada e 50 anos de idade. � um milagre estar aqui, pois estou viva gra�as a Deus e a minhas ora��es”, contou Lucimara, que tem dois filhos e conheceu “da fome, quando crian�a, a muitas enfermidades, na juventude”, e, hoje, cheia de sa�de, pode ver as belezas que o mundo oferece.   
 
O altar despertou a aten��o da educadora f�sica e empres�ria, Isabela Amaral Guimar�es, de Patroc�nio: “Estudei em col�gio de freiras, vou sempre � missa, ent�o, cada momento dessa viagem ilumina ainda mais minha devo��o”. Da mesma cidade, a professora S�nia F�tima Rom�o Nunes comungou da ideia. “Fiquei emocionada v�rias vezes. Sinto alegria, mas tamb�m choro diante da grandeza das hist�rias de S�o Dami�o e Padre Eust�quio.” Com brilho nos olhos, a servidora p�blica Bet�nia Jaber de Britto Guimar�es disse que se sentiu “tocada” pela hist�ria de S�o Dami�o, a qual inspirou o beato.

MISSA


RETWET
Est�tua de Padre Eust�quio ao lado da Igreja S�o Miguel, em Aarle-Rixtel, na Holanda (foto: Gustavo Werneck/EM/D.A PRESS)
Em Lovaina (Leuven, em holand�s, e Louvain, em franc�s), a visita foi ao t�mulo de S�o Dami�o, que morreu no Hava� e teve os restos mortais transladados, em 1936, para a Capela Santo Ant�nio, no Centro da cidade localizada a 30 quil�metros de Bruxelas, capital do pa�s. No espa�o com a foto do santo, houve missa celebrada pelos religiosos da Congrega��o dos Sagrados Cora��es: os padres Vin�cius Maciel, Osv�nio Humberto Mariano, Edvaldo Carneiro e o irm�o Antoniel Santos da Silva.  

Na manh� fria de primavera, num ambiente aconchegante, com ilumina��o real�ando as paredes cobertas de tijolinhos, marca registrada da arquitetura local, os peregrinos rezaram e agradeceram. “J� alcancei muitas gra�as. Sou devota de Nossa Senhora de Lourdes, e foi ela, quem, h� 20 anos, me conduziu ao Padre Eust�quio. Nesta peregrina��o, recarrego as energias”, relatou a professora aposentada Jane Seabra Ferreira, de BH.
 
Tamb�m devota de Padre Eust�quio, a psic�loga Sany  Almeida, contou que sentiu uma grande paz em v�rios momentos, principalmente nas horas em que o grupo estava reunido em capelas e igrejas. “Sou muito conectada em Deus, e considero exemplar o trabalho mission�rio de S�o Dami�o e de Padre Eust�quio.”

M�RTIRES BEATIFICADOS

Paris, Fran�a – Fundada em 1800, na Fran�a, a Congrega��o dos Sagrados Cora��es (SSCC) se encontra presente em pa�ses da Am�rica, Europa e �sia, sendo os religiosos chamados de “Padres de Picpus”, porque sua primeira casa foi na Rua Picpus, em Paris. “A congrega��o j� enviou mais de 200 mission�rios, dos quais 150 holandeses, ao Brasil”, disse padre Vin�cius Maciel.
 
Em Paris, como parte da peregrina��o � Europa, os mineiros assistiram, na Igreja de Saint-Sulpice, � cerim�nia de beatifica��o de cinco m�rtires executados durante a Comuna de Paris, sendo quatro da SSCC – (Ladislas Radigue, Polycarpe Tuffier, Marcelin Rouchouze e Fr�zal Tardieu – e um da Congrega��o dos Religiosos de S�o Vicente de Paulo (Henri Planchat). Eles foram fuzilados em 26 de maio de 1871, durante o sangrento desfecho da Comuna de Paris.
 
O tom solene da cerim�nia presidida pelo prefeito da Congrega��o para a Causa dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, enviado pelo Papa Francisco, elevou os sentimentos no compasso dos ritos do Vaticano, como a prociss�o de entrada de dezenas de padres e seminaristas, com as tradicionais batinas brancas da congrega��o.
 
Na porta da Igreja de Saint-Sulpice (curiosidade: no templo, foi filmado “O C�digo Da Vinci”, de 2006), todos os convidados receberam len�os brancos de seda trazendo os rostos dos “Martyrs de la Foi”, M�rtires da F�, para amarrar no pesco�o. Do canto de entrada ao de sa�da, a solenidade de beatifica��o, em 22 de abril, trouxe � mem�ria de alguns, guardadas as devidas propor��es de tempo e espa�o, a do Padre Eust�quio, realizada no est�dio do Mineir�o, em 15 de junho de 2006.
 
Em entrevista ao jornalista Marcelo Silveira, da assessoria do Santu�rio Arquidiocesano da Sa�de e da Paz, o cardeal Marcello Semeraro se declarou satisfeito com a igreja lotada e acendeu as esperan�as. “Estamos diante de uma causa de mart�rio, e isso nos convence daquilo que o papa tamb�m nos pede: que, hoje, haja mais m�rtires e testemunhas da f�, seguindo o modelo daqueles que tornaram fecunda a hist�ria da Igreja, principalmente neste momento particular em que vivemos uma descristianiza��o da Europa Ocidental. Pedimos ao Senhor que, mais uma vez, o sangue dos m�rtires seja a semente de novos crist�os. Fiquei muito impressionado ao ver esta igreja, grande e antiga, cheia de pessoas adorando e louvando o Senhor.”

RITOS


Constru�da entre 1646 e 1870, a Igreja Saint-Sulpice (S�o Sulp�cio, em portugu�s), onde h� um gigantesco �rg�o musical, e todo o ritual de beatifica��o encantaram os mineiros, a exemplo da m�dica Isabella Rom�o, de Patroc�nio. “Senti a for�a da f� cat�lica, o tanto que ela representa e como pode promover o encontro de culturas diferentes, pessoas de diversos pa�ses, incluindo os brasileiros”, afirmou Isabella, que, no dia seguinte, com o grupo, foi � missa na sede da Congrega��o dos Sagrados Cora��es. “Os cinco foram mortos injustamente, mas ficou, para n�s, o significado do mart�rio, uma semente de f�.”
 
Ao lado da filha Isabella, a engenheira e professora Josefina J�lia Rom�o de Souza (J�) encontrou na palavra “intensa” a melhor para definir a cerim�nia de beatifica��o dos cinco m�rtires. “Pude conhecer melhor a hist�ria dos religiosos que morreram defendendo sua f�. Foi um momento raro, com a multid�o de crist�os cat�licos presente. Tudo disso s� me fez agradecer pelas b�n��os que recebi na vida, assim como pe�o gra�as para minha fam�lia, meus amigos e as novas amizades feitas na viagem”, disse J�, que concretizou, em Paris, um antigo sonho: visitar a Capela da Medalha Milagrosa.
 
Com o len�o branco amarrado no pesco�o, Sandra Maria Fruet Romagnoli, que trabalha na A��o Social do Santu�rio Arquidiocesano da Sa�de e da Paz, no qual coordena a catequese infantil, participou, com alegria da cerim�nia, a exemplo de Elizabeth �ngela Rosa, empres�ria e volunt�ria no santu�rio e moradora do Bairro Paquet�, na Regi�o da Pampulha. “Por uns momentos da peregrina��o, fiquei meio ‘fora do ar’, n�o acreditando plenamente em tudo que estava vivenciando. Sentimentos fortes, bonitos. O fato de estar na missa de beatifica��o dos m�rtires e percorrer os caminhos do Padre Eust�quio me levou a uma experi�ncia transformadora.”   

HOMENAGENS


S�o muitas as homenagens ao beato, conforme destaca padre Vin�cius Maciel, reitor do Santu�rio Arquidiocesano da Sa�de da Paz e vice-postulador da Causa de Canoniza��o de Padre Eust�quio. As celebra��es come�aram em 7 de abril do ano passado, quando se completaram 80 anos da chegada dele a Belo Horizonte, foram retomadas com as homenagens pelas oito d�cadas do falecimento e ir�o at� 21 de julho de 2024, para marcar os 80 anos da cria��o da Par�quia dos Sagrados Cora��es. “J� em 2025, festejaremos o centen�rio da chegada dele ao Brasil”.

DEZ TEMPOS DO BEATO


» 1890 – Em 3 de novembro, Hubbertus nasce em Aarle- Rixtel, na Holanda. Para a vida religiosa, na Congrega��o dos Sagrados Cora��es, recebe o nome de Eust�quio.

» 1915 – Inspirado no ideal mission�rio de S�o Dami�o de Molokai, Eust�quio professa votos tempor�rios e perp�tuos, para, quatro anos depois, ser ordenado sacerdote.

» 1925 – Parte para o Brasil como mission�rio, passando por �gua Suja (atual Romaria, na Regi�o do Alto Parana�ba), Po� (SP) e outras cidades do interior mineiro, al�m do Rio de Janeiro (RJ).

» 1942 – Chega a Belo Horizonte, onde fica por pouco mais de um ano e quatro meses. Picado por um carrapato, Padre Eust�quio morre em 30 de agosto de 1943, no Sanat�rio Minas Gerais (atual Hospital Alberto Cavalcanti), na capital.

» 1943 – Em 31 de agosto os restos mortais de Padre Eust�quio s�o conduzidos para o Cemit�rio do Bonfim. Seu t�mulo se torna lugar de preces e devo��o.

» 1949 – Em 31 de janeiro ocorre o translado dos restos mortais de Padre Eust�quio para a capela mortu�ria, na entrada da Matriz dos Sagrados Cora��es, iniciada pelo pr�prio beato e hoje conhecida como Igreja de Padre Eust�quio.

» 1956 – Em 5 de fevereiro, com a fama de santidade se propagando, h� o in�cio dos trabalhos preliminares para instaura��o do processo de canoniza��o de Padre Eust�quio.

» 2003 – Em 12 de abril, o papa Jo�o Paulo II aprova e publica oficialmente o decreto sobre a heroicidade das virtudes de Padre Eust�quio. O Servo de Deus se torna Vener�vel Padre Eust�quio.

» 2005 – Em 19 de dezembro, o papa Bento XVI autoriza a publica��o do decreto reconhecendo um milagre atribu�do por intercess�o de Padre Eust�quio. Padre Gon�alo Bel�m � curado de um c�ncer na garganta.

» 2006 – Em 15 de junho, Padre Eust�quio � beatificado, em cerim�nia no est�dio do Mineir�o, em Belo Horizonte.

Depoimento

TRABALHO E REFLEX�O

“Conhe�o a hist�ria de Padre Eust�quio h� d�cadas, e vejo que muita gente se surpreende por ele ser holand�s. Sei tamb�m da devo��o popular, e, in�meras vezes, ouvi relatos de gra�as alcan�adas por intercess�o dele. Entrevistei o padre Gon�alo Bel�m, falecido em 2006, aos 83 anos, cuja cura de um c�ncer foi reconhecida como milagre pela Santa S�. Agora, acompanhar os peregrinos rumo � terra natal do beato, na Holanda, e, visitar, na B�lgica, o local onde fez o noviciado, foram situa��es de grande curiosidade do rep�rter, pontuados pela emo��o de um simples mortal. Sa� do Brasil de cora��o aberto, tentando ficar meio invis�vel no grupo de peregrinos, para narrar melhor cada momento, mas acabei ‘vestindo a camisa’ e me tornando “cada vez mais vis�vel”, conforme definiu Lucimara Reis, de Patroc�nio. Al�m de cerim�nias e encontros religiosos, em cinco pa�ses, visitamos o Santu�rio de F�tima e Lisboa, em Portugal, o Museu do Louvre, em Paris, cidades costeiras da Holanda, com seus diques, os atrativos tur�sticos de Bruxelas e Amsterdam, e, finalmente, todas as maravilhas do Vaticano e muitas de Roma, na It�lia. Para o jornalista, �tima oportunidade de trabalho, enquanto, no plano pessoal, excelentes dias de reflex�o em tempos mundialmente t�o conturbados.”  (GW)



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