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Estado de Minas BELO HORIZONTE

Lagoinha: Moradores e Minist�rio P�blico querem salvar bairro da degrada��o

Audi�ncia p�blica uniu popula��o local, for�as de seguran�a e membros do MPMG. Falta de seguran�a e sujeira s�o pontos que mais preocupam


12/07/2023 18:30 - atualizado 14/07/2023 10:04
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Vista do bairro Lagoinha
Bairro Lagoinha, na Regi�o Noroeste, � um dos mais tradicionais de Belo Horizonte. Regi�o sofre com degrada��o, inseguran�a e pontos de consumo de drogas (foto: Ramon Lisboa/EM)
Reduto bo�mio de Belo Horizonte, o bairro Lagoinha, na Regi�o Noroeste da capital, vive entre a tradi��o e o estigma da viol�ncia. Bem ao lado do Centro, a regi�o sofre com degrada��o, inseguran�a e pontos de consumo de drogas. H� d�cadas, os moradores reclamam dos problemas locais, que culminaram na reputa��o da regi�o como um lugar "sujo e perigoso". Por outro lado, pessoas em situa��o de rua, alvos de preconceito pela ocupa��o dos espa�os p�blicos, cobram assist�ncia das autoridades.

Nesta quarta-feira (12/7), moradores, popula��o de rua, e representantes do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), da Prefeitura de Belo Horizonte e das for�as de seguran�a da capital se reuniram em uma audi�ncia p�blica para debater e pensar solu��es conjuntas para os problemas sociais e de seguran�a enfrentados no bairro.

Tachada como a cracol�ndia de Belo Horizonte, a Lagoinha foi esquecida pelo poder p�blico, e se tornou o bairro da ilegalidade e falta de seguran�a, nas palavras da presidente do Movimento Lagoinha Viva, Teresa Vergueiro, moradora do bairro h� mais de 13 anos. As reivindica��es dos moradores passam por problemas como sujeira das cal�adas no uso do espa�o para triagem de materiais recicl�veis, aumento da criminalidade pelo grande n�mero de usu�rios de drogas — especialmente de crack — na regi�o, recepta��o e vendas de produtos roubados, degrada��o do patrim�nio hist�rico, e habita��o para as pessoas em situa��o de rua.


"A Lagoinha sofre h� d�cadas com os mesmos problemas. N�s somos invis�veis, assim como os nossos moradores em situa��o de rua. Estamos com as nossas cal�adas imundas, a ilegalidade reina na Lagoinha”, disse. Nos �ltimos anos, o movimento j� protocolou 13 processos contra a PBH na tentativa de promover a preserva��o e requalifica��o da Lagoinha. 

Audiência pública no Mercado da Lagoinha
Audi�ncia p�blica para discutir situa��o na regi�o ocorreu nesta quarta-feira (12/7), no Mercado da Lagoinha (foto: Jair Amaral/EM)
Na avalia��o de Vilmar Souza, tamb�m integrante do Movimento Lagoinha Viva, os problemas sociais na regi�o s�o uma consequ�ncia da viola��o de um direito b�sico assegurado pela Constitui��o Federal de 1988: a moradia. "A falta de casa provoca um tanto de outros problemas, como esses que a gente aqui relata. Se a gente n�o considerar que o direito das pessoas que vivem na rua est� sendo violado, mais uma vez vamos estar aqui falando s� das consequ�ncias", declara. Souza ressalta que o objetivo do debate n�o � trazer uma higieniza��o do bairro com a retirada das pessoas em situa��o de rua, mas garantir o respeito � dignidade dessas pessoas.

Morador de rua h� 32 anos, Tarc�sio Moraes se emociona ao falar da situa��o e defende que a solu��o � complexa. "N�s somos empurrados de um lado para outro, e o problema da gente mesmo nunca � resolvido. �s vezes nem �gua para beber n�s temos. N�o somos os culpados dessa situa��o toda", aponta.

A assistente social Claudenice Rodrigues Lopes, coordenadora da Pastoral de Rua de BH, refor�a que a Lagoinha � parte de uma realidade urbana vivenciada e agravada nos �ltimos anos em v�rias cidades do pa�s. Em oito anos, a popula��o em situa��o de rua de Belo Horizonte cresceu 192%, conforme dados do Censo Pop Rua, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com a prefeitura de BH. Para ela, a solu��o envolve uma atua��o conjunta para garantir condi��es melhores �queles que moram e trabalham na regi�o, mas tamb�m �s pessoas em situa��o de rua.

"Temos um conflito de situa��es aqui. A gente sabe, por exemplo, de casos de comerciantes que t�m seu direito violado e acabam reagindo de forma violenta e agressiva com pessoas que s�o supostamente os culpados, e, muitas vezes, at� de forma injusta, porque aquelas pessoas, na verdade, n�o s�o os culpados. A gente precisa juntar for�as para superar isso", disse.

Seguran�a 

Cenas corriqueiras do consumo de crack nas ruas e cal�adas do Lagoinha n�o deixam d�vidas de que a regi�o se tornou ponto de concentra��o de dependentes qu�micos, realidade que gera inseguran�a em moradores e pedestres. O ar de abandono do bairro torna a regi�o hostil para quem passa a p�, como relata Ronald Ant�nio Borges, morador do bairro h� quase sete d�cadas. "Esse bairro voc� podia andar � noite e n�o tinha nada. Hoje, o pessoal tem medo mesmo durante o dia. Tem morador que trabalha no Centro e tem que pegar �nibus pra ir na Afonso Pena, quando antes esse trajeto podia ser feito � p�", afirma Borges.

Para ele, o poder p�blico precisa, al�m de acompanhar, entender tamb�m o perfil da popula��o de rua, e atuar mais incisivamente no combate ao tr�fico de drogas na regi�o.  "Por que todos eles v�m para o nosso bairro? Essas pessoas s�o todas daqui? Se � droga, tem que ser feito algo para dar assist�ncia. Essa � a quest�o. N�o � a gente brigar. Temos que entender por que dessa concentra��o de pessoas aqui", sugere.


Para tentar trazer mais seguran�a, os moradores do bairro t�m uma rede de contato direto com a Pol�cia Militar (PM). "Temos grupos nas redes sociais com a pol�cia. � uma forma de prevenir", conta Borges.

Refer�ncia em reciclagem e ferro velho, a Lagoinha tamb�m virou um polo comercial de compra e venda de mat�rias-primas, conhecido especialmente por atividades ilegais de recepta��o e venda de produtos roubados, com destaque para os fios de cobre. Al�m disso, a triagem de materiais no meio da rua e fora de hora pelas "sucatarias" e a queima de lixo e res�duos s�o outros pontos de queixas dos moradores. 

Maria Jos� Alves dos Santos trabalha com reciclagem na regi�o e diz que a m� fama � injusta. Ela protesta pelo reconhecimento da import�ncia da reciclagem, tanto para a economia da Lagoinha quanto para o pr�prio munic�pio. "Est�o sujas as ruas, est�o. Mas n�s que trabalhamos com reciclagem n�o somos culpados disso. Estamos aqui com dignidade e trabalhando", reclama.

Maria Jos� tamb�m ressalta o papel da atividade para garantir uma renda, ainda que pequena, �s pessoas em situa��o de rua. "As pessoas que falam muito mal da reciclagem precisam estender a m�o para ver o que podemos ajudar tamb�m. Muitos desses moradores de rua ningu�m sabe o nome. Todos ou quase todos que frequentam a minha reciclagem, eu sei. Trato eles pelo nome. L� tem banheiro para eles, para tomar banho. Todos n�s precisamos ser tratados como seres humanos", pontua.

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de BH afirma ter ampliado os servi�os de atendimento e prote��o � popula��o em situa��o de rua em todo munic�pio, com refor�o na regi�o da Lagoinha. Em 2020, em resposta aos agravos da pandemia de COVID-19, foi instalado em car�ter emergencial e provis�rio o Centro Pop Lagoinha, equipamento incorporado, posteriormente, de forma permanente � rede de aten��o � popula��o de rua.


O Executivo municipal tamb�m destaca as a��es dos consult�rios de rua e equipamentos de aten��o psicossocial, como Centros de Refer�ncia em Sa�de Mental (Cersam) e Centros de Refer�ncia em Sa�de Mental �lcool e outras Drogas (CERSAM-AD), para cuidado integral da sa�de das pessoas em situa��o de rua no munic�pio. Quanto � limpeza urbana, a PBH reconhece pontos cr�ticos de deposi��o clandestina de res�duos na Rua Itapecerica. A via, segundo o executivo, � varrida quatro vezes por semana. "A Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU) solicita a colabora��o de todos para a manuten��o da limpeza no local", disse, por meio de nota.

Mem�ria

 
Um dos mais antigos bairros da capital, com 124 anos, o nome Lagoinha veio das pequenas lagoas que existiam na regi�o, ao redor da pra�a Vaz de Melo, e acabou servindo de homenagem ao principal comerciante do local na �poca, Guilherme Vaz de Melo. Em conson�ncia com essa heran�a bo�mia, a Lagoinha � considerada um dos ber�os do samba em Belo Horizonte.

O bairro ainda � reduto da religiosidade, da cultura e do lazer. Em 1914 foi erguido o Santu�rio de Nossa Senhora dos Pobres. J� em 1948, foi criado o mercado popular. A Pra�a de Peixe � uma refer�ncia na capital por causa das tradicionais peixarias.


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