
Mariana - A tricenten�ria hist�ria de Mariana, primeira vila (1711), cidade (1745) e diocese (1745) do estado, est� gravada em constru��es, documentos e se ilumina ainda mais com uma linha de pesquisa inovadora e desconhecida de muitos brasileiros. Na restaura��o do pr�dio da C�mara Municipal, antiga Casa de C�mara e Cadeia, no Centro, a equipe respons�vel pela obra conduziu estudos de arqueologia da arquitetura, o que permitiu encontrar nas paredes e no teto, sob camadas de tinta, desenhos, escritos e tra�os – ind�cios da passagem do tempo ao longo de dois s�culos.
“Seguimos a recomenda��o do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) para a arqueologia da arquitetura e mantivemos essas marcas, que, certamente, foram feitas pelos presos e guardas da cadeia, que funcionou at� a d�cada de 1980”, conta o restaurador Adriano Furini. Para que todos vejam os tra�os do passado, foi colocado um vidro cobrindo partes da parede – sobre a superf�cie transparente, moradores e visitantes podem deixar suas mensagens com caneta hidrocor, as quais s�o desmanchadas facilmente e substitu�das.
“J� deixei a� minha assinatura”, aponta, com orgulho, o presidente do Legislativo municipal, Fernando Sampaio de Castro, anfitri�o da solenidade de reabertura na pr�xima quarta-feira (2/8), �s 18h (com primeira reuni�o ordin�ria do Legislativo em 7 de agosto). Estar�o presentes � reinaugura��o autoridades municipais, o presidente do Iphan, Leandro Grass, e a nova superintendente da autarquia federal em Minas, Daniela Lorena Fagundes de Castro.

Localizada na Pra�a Minas Gerais, no Centro Hist�rico, e formando um harmonioso conjunto com as igrejas barrocas S�o Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo, o pr�dio da C�mara Municipal teve servi�os iniciados h� dois anos e licitadas pela Secretaria Municipal de Obras, ap�s a aprova��o do Iphan, a fim de ser contemplado pelo Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC Cidades Hist�ricas, do governo federal). O investimento total � de R$ 3,8 milh�es, sendo R$ 1,8 milh�o recurso do PAC e R$ 2 milh�es de valor suplementado pelo munic�pio. “Trata-se da primeira restaura��o completa”, diz Furini, explicando que o projeto original data de 1762, de autoria de Jos� Pereira dos Santos, com edifica��o entre 1782 e 1798.
CASA DA HIST�RIA
Entrar em constru��es como a C�mara Municipal de Mariana � conhecer a riqueza da hist�ria do munic�pio e desvendar segredos de Minas. Na companhia de Fernando Sampaio e Adriano Furini, da empresa A3 Atelier de Arte Aplicada, respons�vel pelas obras de restaura��o desde o come�o, o Estado de Minas registrou os �ltimos detalhes da empreitada, que arregimentou, al�m de restaurador e arquiteto, carpinteiros, pintores, eletricistas e outros profissionais da regi�o.
“� uma obra que s� nos traz conhecimento, pois podemos ver o que foi executado anteriormente e hoje. Cada dia, portanto, � diferente do outro”, observa o carpinteiro Cl�udio Henrique Alves, de 43 anos, residente no munic�pio vizinho de Ouro Preto. “A cobertura, por exemplo, � um cap�tulo � parte, pois � toda original”, acrescenta, ao lado, o restaurador que, t�o entusiasmado com cada etapa da interven��o, desenvolve seu mestrado sobre a sede do Legislativo de Mariana. Em etapa posterior, a C�mara dever� lan�ar um livro sobre todo o restauro.
Diante da C�mara, as boas-vindas s�o dadas pelas escadarias laterais em cantaria e demais elementos art�sticos de pedra da edifica��o que, internamente, apresentava trincas e riscos na rede el�trica. No t�rreo, da entrada �s antigas celas, est�o novidades, como as pinturas parietais e faixas decorativas, na t�cnica do stencil, cobertas por oito camadas de tinta.
Carpinteiros terminam o assoalho e, passando por um corredor, Furini mostra uma escada estreita, com 21 degraus, em uso at� hoje na C�mara Municipal de Mariana, que apresenta uma particularidade: � a �nica sede do Legislativo em Minas ainda em funcionamento no primeiro pr�dio constru�do para essa finalidade. “Sa�mos daqui com mobili�rio, equipamentos, documentos e fomos para um espa�o provis�rio, na Vila do Carmo, de onde retornaremos para nossas atividades”, conta o presidente do Legislativo e integrante da Comiss�o Especial de Acompanhamento das Obras de Restauro, institu�da pela C�mara. O plen�rio, no andar superior, tamb�m foi restaurado, com destaque para o forro de gamela.
As enxovias ou pris�o eram divididas em tr�s: para escravizados, para homens brancos e para mulheres. “Mas � um espa�o bem diferente das demais cadeias da �poca, pois tem ventila��o, claridade e �gua corrente, como acontece com as latrinas de pedras e com o local de banho”, mostra Adriano Furini. Da janela, os presos podiam at� mesmo assistir � missa celebrada na capela que fica na rua atr�s da cadeia. No segundo pavimento, ele mostra a Sala dos Segredos, onde os detentos eram ouvidos.
LONGA CAMINHADA
“A ideia de restaurar a antiga C�mara e Cadeia come�ou em 2011, com iniciativa do Conselho Municipal do Patrim�nio de Mariana, que custeou o projeto inicial feito na Funda��o de Desenvolvimento de Pesquisa (Fundep), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). � frente, estava o professor e arquiteto Leonardo Castriota, da UFMG, que contratou o arquiteto Benedito Tadeu de Oliveira para fazer o projeto”, destaca a engenheira e arquiteta Anna de Grammont, da prefeitura local e gestora do PAC das Cidades Hist�ricas na cidade. Os recursos federais para a obra foram liberados em 2020, ap�s aprova��o de todos os projetos e planilhas.
Em outubro de 2020, a prefeitura deu a ordem de servi�o, mas a obra ficou paralisada cerca de seis meses, porque a �rea, na frente, n�o poderia ser perfurada para coloca��o de tapumes, por se tratar de um s�tio arqueol�gico. Antes da C�mara, havia no lugar o Quartel dos Drag�es do Conde de Assumar. A Superintend�ncia do Iphan em Minas informa que todo o trabalho foi acompanhado pelo seu corpo t�cnico.
Nos novos tempos, a acessibilidade ganhou prioridade: uma janela da parte de tr�s do edif�cio foi transformada em porta e, na frente dela, constru�da uma rampa de acesso. Tamb�m foi instalado um elevador que permite o acesso ao pavimento superior, onde fica o plen�rio.
VISITA��O
Com o fim das obras, o pr�dio da Casa de C�mara reabrir� as portas aos turistas. O pr�dio ficar� aberto de segunda a sexta-feira, das 7h �s 18h; e aos s�bados, domingos e feriados, das 8h �s 18h.