Minas entra em alerta para risco m�ximo de inc�ndios. Entenda a amea�a
Estado chega ao per�odo de seca mais propenso ao fogo sob risco de dobrar os quase 2 mil focos detectados por sat�lites desde o in�cio da esta��o
Combate nos �ltimos dias de agosto de 2022 na Serra da Moeda, na Grande BH: ao lado de setembro, segunda quinzena do m�s concentra mais de dois ter�os das ocorr�ncias
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 28/8/2022)
O n�mero de focos de inc�ndios em Minas Gerais pode dobrar at� o fim da atual esta��o de estiagem (de abril a setembro), caso o ritmo hist�rico m�dio dos �ltimos 45 dias desse per�odo se mantenha, o que desperta alerta e preocupa��o entre especialistas e combatentes. As proje��es de inc�ndios em vegeta��o, como o que atingiu ontem o Parque Estadual Serra Verde, na Regi�o Norte de BH, s�o feitas com base nos registros de sat�lites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e encontram respaldo tamb�m na avalia��o do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que prev� menos chuvas do que nos �ltimos tr�s anos at� outubro.
A apreens�o se agrava em meio a um cen�rio de altera��es no clima e previs�es de aquecimento das temperaturas globais, j� alertadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC), da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU). Apesar do risco, e da perspectiva de destrui��o que vem em seu rastro, bombeiros e �rg�os estaduais de combate a inc�ndios se dizem preparados para as semanas mais cr�ticas da temporada.
Segundo estat�sticas do Inpe, a m�dia de focos de calor – como s�o tecnicamente definidas as ocorr�ncias captadas em sat�lite – entre abril e 15 de agosto nos �ltimos 10 anos (2013/2022) foi de 33,22% do total de registros do per�odo de estiagem. Ou seja, nos 45 dias restantes, o n�mero de focos representou 66,78% do total.
Mantido esse ritmo na atual esta��o, os 1.941 focos registrados entre abril e 15 de agosto de 2023 podem se multiplicar duas vezes, com a igni��o de cerca de 3.900 novos focos, totalizando mais de 5.800 poss�veis pontos de inc�ndio. Se essa proje��o se efetivar, ser� o quarto pior quadro em 10 anos, perdendo para 2021 (9.932 focos), 2019 (6.560) e 2014 (6.179).
As mesmas estat�sticas mostram que o m�s de setembro � cr�tico para a ocorr�ncia de queimadas e de inc�ndios florestais, tendo sido respons�vel pela m�dia de 51,91% dos focos de calor registrados pelo Inpe nos �ltimos 10 anos no per�odo de seca, muito � frente de agosto (21,72%) e julho (11,97%).
EFEITOS DE EL NI�O EM SOLO MINEIRO
Neste ano, com o fim do fen�meno La Ni�a (redu��o da temperatura do Oceano Pac�fico equatorial) e a vig�ncia de El Ni�o (aumento da temperatura na mesma regi�o oce�nica), segundo especialistas do Inmet, a propens�o de chuvas com dura��o menor e mais concentradas pode favorecer as queimadas sobretudo em setembro, para quando s�o esperadas as primeiras precipita��es da primavera (23 de setembro a 22 de dezembro).
“A perspectiva agora � diferente dos tr�s �ltimos anos. A tend�ncia � de in�cio de primavera com pancadas de chuva isoladas nos fins de tarde, devido ao intenso calor, provocado pelos efeitos do El Nin� em Minas Gerais. Uma situa��o diversa de quando tivemos La Ni�a, com chuvas mais constantes e volumosas. Essa quest�o, no passado recente, ajudou a reduzir as condi��es prop�cias de inc�ndios, que retornam agora”, afirma o meteorologista Claudemir de Azevedo, do 5º Distrito de Meteorologia do Inmet.
Bombeiros entre a a��o e a preven��o
O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais contabiliza, entre abril e o �ltimo dia 16 de agosto, 9.185 atendimentos a inc�ndios em vegeta��o no estado, o que inclui focos em lotes vagos, sendo 7.263 entre abril e julho. O n�mero de mobiliza��es de militares nessas ocorr�ncias � 17% menor que a m�dia de chamados dos �ltimos quatro anos (2022 a 2019) de 8.760, mas a estat�stica n�o leva em conta que em um mesmo acionamento os militares podem lidar com v�rios focos de fogo.
A pr�pria corpora��o sabe que a �poca � cr�tica, e por isso se pauta pelo Plano de Enfrentamento ao Per�odo de Estiagem para o ano de 2023, em que est�o sendo monitoradas e georreferenciadas as �reas de risco. T�m sido realizadas tamb�m campanhas de conscientiza��o em escolas e comunidades, especializa��o de efetivo, parceria com prefeituras, fiscaliza��o, patrulhamento, vigil�ncia, treinamento e requalifica��o de brigadas florestais e treinamento dos N�cleos de Inc�ndios Florestais (NIFs), em um total de 17 em todo o estado.
Quando a preven��o falha, em resposta a queimadas em vegeta��o o Corpo de Bombeiros informa estar preparado com unidades especializadas, como o Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad). A corpora��o tamb�m usa aeronaves para combater inc�ndios florestais em todo territ�rio mineiro.
“S�o tr�s helic�pteros, que al�m de combater o fogo diretamente, atuam no transporte de tropa e na log�stica do combate aos inc�ndios florestais. O �ltimo adquirido foi em 2022, um Air tractor PR-FNO fabricado em 2010, que contribui para um ganho de autonomia de tr�s horas de voo e capacidade de 1.893 litros de �gua, permitindo multiplica��o da efetividade no combate”, informa a corpora��o.
Mobiliza��o necess�ria
Os inc�ndios em vegeta��o est�o entre as ocorr�ncias mais atendidas pelos bombeiros de Minas. Pouco mais de 41% dessas ocorr�ncias se d�o em lotes vagos. Por esse motivo, est� em andamento a Opera��o Alerta Verde, para disseminar uma cultura de preven��o, conscientiza��o e mobiliza��o da popula��o para evitar o fogo nessas propriedades.
“Boa parte dos inc�ndios em lotes vagos pode perfeitamente ser evitada, mas � necess�rio um esfor�o e envolvimento maior por parte das comunidades, no sentido de apoiar a fiscaliza��o e denunciar pr�ticas irregulares. A popula��o mineira pode ser a maior aliada do Corpo de Bombeiros nesse esfor�o de reduzir os inc�ndios e primar pela seguran�a dos moradores e qualidade do ar que respiramos”, informa a corpora��o.
TREINAMENTO
Com apoio do Gabinete Militar do Governador, por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, e do Instituto Estadual de Florestas, come�aram as a��es do Corpo de Bombeiros para o Programa de Treinamento e Capacita��o de Brigada Florestal Municipal. O objetivo � melhorar a capacidade de resposta do governo estadual e de prefeituras diante dos inc�ndios florestais. Neste ano, o programa est� capacitando 40 munic�pios e suas equipes de brigadas, com conhecimento t�cnico que deve ampliar a capacidade de resposta a inc�ndios em v�rias regi�es.
Fogo em vegeta��o em lotes e �reas urbanas responde por mais de 40% dos chamados aos bombeiros (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Temperaturas e risco em eleva��o
Respons�vel por avaliar e sintetizar o conhecimento cient�fico sobre as mudan�as clim�ticas e seus impactos, o Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC) calcula cen�rios que podem intensificar os inc�ndios florestais no territ�rio mineiro. Nos quadros de modelagens, o indicativo � de alta probabilidade de eleva��o das temperaturas e de aumento da frequ�ncia de eventos de calor extremo na regi�o. Isso amplia tamb�m, por outro lado, os riscos de inunda��es, transbordamentos e deslizamentos causados pelo despejo repentino de temporais.
Para se ter uma ideia dos impactos na �rea mais povoada de Minas Gerais, que � a Grande BH, com uma eleva��o global em cen�rio otimista de 1,5°C at� 2030, as temperaturas na regi�o poderiam ser ampliadas em 1,9°C. No caso mais pessimista, com as temperaturas do planeta sendo ampliadas em m�dia 4°C, a regi�o poderia ter um aquecimento de 4,8°C.
Na mesma linha que o Corpo de Bombeiros aponta, de que a quase totalidade dos inc�ndios � provocada por a��es criminosas, o presidente da Associa��o para a Gest�o Socioambiental do Tri�ngulo Mineiro (Ang�), Gustavo Malacco, afirma que � importante conter essa devasta��o, e alerta para situa��es irrevers�veis. “Temos de entender que um poss�vel aumento de 1,5°C (nas temperaturas globais) n�o representar� s� isso em Minas Gerais e no cerrado; teremos at� 2°C, e isso j� � realidade”, adverte.
Ele destaca a urg�ncia de mudan�a de comportamentos e pr�ticas. “Temos tamb�m pela frente um super El Ni�o. Se nada mudar, se n�o pararmos com emiss�es de gases de aquecimento e degrada��o, essa ser� a nossa nova realidade. O caminho � conter desmatamentos e cessar as emiss�es, ou estaremos condenados”, avalia.
O presidente do Instituto Diadorim – organiza��o da sociedade civil que promove estudos e projetos para recupera��o de �reas degradadas e defesa do cerrado –, Gustavo Gazzinelli, afirma que, al�m das mudan�as clim�ticas, � preciso estar atento �s causas criminosas de inc�ndios. “Falta consci�ncia das pessoas e existem pr�ticas criminosas at� de grandes empresas. Em �reas de interesse, por exemplo, miner�rias, se ateia fogo e se diz que a vegeta��o n�o � mais nativa ou que a empresa � que precisa tomar conta, pois o Estado n�o consegue. Acontecimentos muito fortuitos, muito providenciais e que ajudam a descaracterizar um local de vegeta��o que tinha de ser preservada”, aponta.
O ambientalista tamb�m critica a utiliza��o de queimadas como meio de abertura de terrenos, em atitudes que avan�am para situa��es nas quais as chamas se alastram sem controle.
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