
As palavras abrem portas, os n�meros indicam sa�das, enquanto os professores mostram os caminhos com a luz do conhecimento. Assim na escola como no dia a dia, os alunos precisam de dire��o – e ainda mais se est�o na idade adulta e t�m maiores compromissos. Mas, mesmo com os dias atribulados, e com a ajuda de “guias” dedicados, eles pegam l�pis e papel para reescrever sua hist�ria.
“Nunca � tarde para estudar. Parei no tempo, mas recuperei minha hist�ria”, garante o motorista Sebasti�o Janu�rio Alves, de 72 anos, matriculado na unidade de Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Padre Sebasti�o Tirino, no Centro de Sabar�, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Nesta semana dedicada aos professores, ele presta sua homenagem: “S�o anjos guiados por Deus para iluminar nossa jornada.”
J� na capital, o professor Gleidston Alis, com p�s-doutorado em literatura e docente na EJA da Escola Municipal Caio L�bano Soares fala do seu of�cio com devo��o e olhos voltados para a quest�o social. “Vivemos num pa�s marcado por desigualdades hist�ricas, ent�o dou minha contribui��o para diminuir esse quadro. Muitos jovens e adultos brasileiros sa�ram da escola por necessidade, n�o porque quiseram.”
Guias para uma segunda chance
No vasto mundo de conhecimento, a vida imita a arte, a arte imita a vida e as duas se completam em harmonia. Na plateia de um teatro, diante do palco, ou na sala de aula, olhando para o quadro, l� est�o homens e mulheres, v�rias cores de pele, ricos e pobres, gente de todas as idades em busca de hist�ria, cultura, transforma��es. Na Semana do Professor, os aplausos v�o para os mestres – ou seriam “maestros?” – que regem suas classes, dedicam seus dias ao of�cio fundamental � sociedade e fazem das tripas, cora��o, para a turma n�o desafinar. Nem perder o trem da hist�ria.
Em tempos t�o desafiadores para a humanidade, os professores trazem li��es de vida e aprendizagem para imprimir o tom certo � caminhada dos estudantes. E sempre mostram a dire��o, especialmente quando lecionam para aqueles que, por uma s�rie de motivos, n�o tiveram acesso ao ensino fundamental ou m�dio na fase tradicional.
H� 20 anos na profiss�o, 12 dos quais atuando como professora na Educa��o de Jovens e Adultos (EJA), em Sabar�, na Grande BH, Fernanda Sueli Soares declara sua paix�o pela sala de aula, de forma especial para a sua turma de alunos de 16 a 88 anos. “Se fosse poss�vel, s� lecionaria na EJA. Os estudantes v�m com uma trajet�ria diferente, t�m muitas hist�rias para contar. Gostam de escrever, de copiar textos e de fazer contas”, explica Fernanda, respons�vel pela terceira e quarta s�ries da EJA na Escola Municipal Padre Sebasti�o Tirino, no Centro de Sabar�.
Nas classes multisseriadas da EJA (primeira e segunda, de alfabetiza��o; terceira e quarta, de temas diversos), os alunos podem esbanjar criatividade. “Temos muitas atividades, a exemplo de pintura em pano de prato e em sabonete. Todo mundo participa e, curiosamente, os que n�o t�m habilidade ajudam os que t�m.”
O dia de Fernanda Sueli come�a �s 5h e termina depois das 22h, quando sai da escola. Casada, m�e de Bernardo, de 11 anos, e Gabrielly, de 6, ela leciona ainda, � tarde, no ensino fundamental da Escola Municipal Construtor Joaquim Borges. “A gente corre de um lado para outro, leva os filhos para a escola, prepara as aulas, mas tudo isso d� muito prazer.”
O desejo de ser professora nasceu aos 8 anos. “At� essa idade, tive muita dificuldade na aprendizagem, n�o conseguia ser alfabetizada. Mas, ent�o, fui estudar na sala da professora Marta Sueli, que tinha Sueli no nome, como eu, e tudo mudou. Logo aprendi e decidi que seria professora”, recorda-se a moradora de Sabar�, certa de que, mais do que um trabalho, ser professora � miss�o, sacerd�cio.
Anjos e planos ambiciosos
A aula come�a �s 17h45, termina �s 22h, e o motorista Sebasti�o Janu�rio Alves, de 72, procurar n�o falhar. E leva os estudos muito a s�rio, cheio de planos. “Daqui a pouco, quero estar na faculdade. Meu sonho � ser engenheiro, e pe�o a Deus que me d� sa�de e sabedoria para chegar l�”, diz o homem natural de Caratinga, na Regi�o Leste de Minas, que se enche de entusiasmo para dizer que “nunca � tarde para estudar”.
Vi�vo e residente em Sabar�, Sebasti�o est� aposentado e faz trabalhos espor�dicos como motorista – sua vida, a exemplo de milh�es de brasileiros, come�ou na zona rural e est� recheada de surpresas. “L� na minha terra, no meu tempo de crian�a, havia um fazendeiro muito ‘bonzinho’, que abriu uma escola na sua propriedade. A professora veio de Vi�osa (Zona da Mata mineira), mas, passado um tempo, se casou e foi morar em S�o Paulo. Fiquei sem estudar um tempo, depois, adulto, me mudei para Belo Horizonte e fui obrigado novamente a interromper os estudos. Felizmente, aprendi a ler e a escrever.”
Na EJA da Escola Municipal Padre Sebasti�o Tirino, no Centro de Sabar�, ele cursa a quarta s�rie e s� tem elogios para a professora Fernanda Sueli, a quem considera competente e paciente. “Ela � �tima. Se a gente n�o entende, explica tudo de novo. Nasceu para ser professora, est� sempre disposta a ajudar”, testemunha Sebasti�o.
Vis�o social com amor pelo ensino
Em Belo Horizonte, h� 348 professores para 6,8 mil alunos matriculados nos cursos de Educa��o de Jovens e Adultos (EJA), de acordo com a Secretaria Municipal de Educa��o, e uma unidade, a Escola Municipal Caio L�bano Soares, no Bairro Santo Ant�nio, na Regi�o Centro-Sul, com atendimento exclusivo nessa modalidade. Entre os docentes da unidade est� Gleidston Alis, graduado em letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com doutorado em estudos liter�rios e p�s-doutorado nessa �rea do conhecimento.
Casado, nascido em Betim e morador de Contagem, na Regi�o Metropolitana de BH, Gleidston leciona nos ensinos m�dio e fundamental na Caio L�bano Soares, para alunos de 15 a 70 anos, e diz que est� na fun��o por escolha e oportunidade. “Vivemos em um pa�s marcado por desigualdades hist�ricas, ent�o dou minha contribui��o para diminuir esse quadro. Muitos jovens e adultos brasileiros sa�ram da escola por necessidade, n�o porque quiseram.”
Na sala de aula, Gleidston encontra uma grande riqueza em relatos pessoais, os quais podem ser aproveitados no planejamento. “� como se eu puxasse um fio de hist�rias... E elas chegam com detalhes, carregadas de experi�ncia de vida, levando a uma troca produtiva. Al�m disso, os mais jovens t�m uma din�mica que estimula os alunos mais velhos.”
As palavras do professor traduzem um grande amor pela educa��o. “Trabalho em escola p�blica tamb�m em Betim, na Escola Municipal Os�rio Aleixo da Silva, onde leciono l�ngua portuguesa. Sei que os professores s�o agentes de transforma��o da sociedade, e fico muito feliz quando encontro ex-alunos, uns que est�o na escola t�cnica, outros j� cursando faculdade e at� morando no exterior. Vejo, mais do que nunca, como podemos abrir portas para um novo mundo, com perspectivas e horizontes.”
Boas-vindas para um novo futuro
Com uma proposta pedag�gica baseada na pluralidade e na riqueza das viv�ncias dos estudantes, a Escola Municipal Caio L�bano Soares, que funciona no antigo pr�dio da Fafich/UFMG, est� sempre de portas abertas, diz o professor Gleidston. “Tudo � oferecido gratuitamente aos cidad�os como um direito constitucional. A cidade tem uma enorme demanda de pessoas que precisam do servi�o prestado pela escola, e, muitas vezes, n�o t�m essas informa��o.”
No convite aos jovens e adultos, Gleidston avisa que a escola tem vagas abertas para a EJA durante todo o ano. Os interessados podem ligar para o telefone (31) 3277-8590 ou ir � Rua Carangola, 288, 5º andar, no Bairro Santo Ant�nio, na Regi�o Centro-Sul de BH.

Reportagem especial
Em homenagem � Semana do Professor, o Estado de Minas publica desde domingo (8/10) s�rie especial que mostra hist�rias e desafios enfrentados pelo profissional que � respons�vel n�o s� pela forma��o de todos os profissionais, mas tamb�m, em muitos casos, por ser um suporte essencial �s fam�lias de crian�as e adolescentes.
A primeira reportagem mostrou a situa��o atual da educa��o infantil em Jana�ba, Norte de Minas, cidade marcada pelo hero�smo da educadora Helley de Abreu, que morreu tentando salvar alunos de inc�ndio criminoso na Creche Gente Inocente, em 5 de outubro de 2017.
No segundo dia, o EM revelou a dedica��o de mestres que cresceram em comunidades carentes e, formados, se dedicaram a ajudar a transformar a realidade de alunos que enfrentam condi��o semelhante.
A primeira reportagem mostrou a situa��o atual da educa��o infantil em Jana�ba, Norte de Minas, cidade marcada pelo hero�smo da educadora Helley de Abreu, que morreu tentando salvar alunos de inc�ndio criminoso na Creche Gente Inocente, em 5 de outubro de 2017.
No segundo dia, o EM revelou a dedica��o de mestres que cresceram em comunidades carentes e, formados, se dedicaram a ajudar a transformar a realidade de alunos que enfrentam condi��o semelhante.
6,8 mil
alunos est�o matriculados nos cursos de Educa��o de Jovens e Adultos em Belo Horizonte
348
educadores atuam em BH em turmas dedicadas ao ensino de alunos mais velhos