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Estado de Minas IDENTIDADE

No meio do caminho tinha uma poesia

O sonho de espalhar seus versos em lixeiras de BH e democratizar a arte trouxe problemas e grandes realiza��es para Felipe Arco


30/10/2023 04:00 - atualizado 30/10/2023 05:32
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As frases motivacionais escritas nas lixeiras chegaram a trazer problemas para Felipe, mas ele levou sua arte adiante
As frases motivacionais escritas nas lixeiras chegaram a trazer problemas para Felipe, mas ele levou sua arte adiante (foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)

“Poesia era muito inacess�vel e culta, mas quando descobri que rap � ritmo e poesia, tudo mudou. Passou a ser algo que eu entendia e podia fazer”, afirma o artista Felipe Arco, nascido e criado em Belo Horizonte. Apesar do codinome, � batizado como Celso Felipe Marques Rosa. Aos 32 anos, ele fala sobre a carreira, que completa uma d�cada em 2023. 

A poesia nem sempre fez parte da vida do autor. Quando crian�a, ele acreditava que a literatura estava longe da sua realidade, mas a chave mudou quando ouviu hist�rias sobre a arte e percebeu que o rap, um ritmo musical que sempre escutou, tamb�m se encaixava nos poemas. 
 
“O rap trazia uma linguagem que eu entendia e achava massa. Cresci num bairro mais perif�rico e, nas escolas, muitas vezes, mostram que poesia � Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. Tamb�m s�o �timos, mas n�o os �nicos”, explica. No Bairro S�o Geraldo, Regi�o Leste da capital mineira, Arco sempre encontrou motiva��o nas pessoas pr�ximas � sua realidade. 

O poeta ficou conhecido pelas frases motivacionais que escrevia em lixeiras espalhadas por BH, al�m de grafites em paredes, postes e muros. As escrituras s�o sua identidade e, apesar de incluir elementos gr�ficos, ele refor�a que “tem sempre uma letra”.

O come�o de tudo

Sorridente, relembra a �ltima d�cada de trabalho. Ao lado do primo, Judson Gon�alves, Arco deu os primeiros passos em dire��o � transforma��o da paix�o pela escrita em algo rent�vel. “Eu e meu primo escrev�amos, mas nunca mostr�vamos para ningu�m. Ent�o, veio a ideia de vender poesias no metr�, cada uma a R$ 0,50. Era uma folha A4 impressa, dobrada ao meio, com capa e tr�s poesias”, conta. 

Judson descreve Felipe como resiliente, ousado e sonhador. Em 2013, eles moravam juntos, pegavam o transporte p�blico diariamente e reparavam o semblante de quem tamb�m estava nos vag�es. “Pens�vamos: ser� que a vida � s� isso mesmo? Nascer, trabalhar e morrer?”, lembra Judson. 

A partir disso, come�aram com a venda das cartilhas e, depois, inclu�ram no combo, pacotes de pa�ocas. Tudo para ajudar nas despesas de casa, colocando em pr�tica a inten��o de levar conforto, pensamento positivo ou um sorriso para quem passava pelo hipercentro de BH. “Em um dado momento, eu parei. Mas ele continuou sempre muito resiliente. Hoje vejo, ainda mais, como o Felipe consegue cativar as pessoas com a poesia. Ele nunca desacreditou”, diz o primo. 

Juntar o doce de amendoim com a escrita gerou o livro “200 mil pa�ocas e infinitas poesias”, a primeira das cinco publica��es de Felipe Arco.

Pol�mica no caminho

Quem anda pelas ruas de BH j� viu a assinatura ‘Arco’ em muros e lixeiras, especialmente no Centro. Acompanhado de palavras rom�nticas ou inspiradoras, os grafites foram palco de um grande problema em 2017, quando a prefeitura denunciou Felipe � Pol�cia Civil. As mensagens escritas � caneta em lixeiras geraram uma longa discuss�o sobre o que � considerado arte e o que � vandalismo. 

“Sou a favor de caminhar lendo poesia pela rua. Numa lixeira que tinha res�duo e crostas de lixo, eu sempre limpava e fazia uma frase. Na minha concep��o estava fazendo o bem. Eu limpo algo sujo, sem cuidado do poder p�blico, e devolvo com uma mensagem que ajudar� as pessoas no dia a dia. Acredito que isso ressignifica o espa�o”, explica. 

A linha t�nue entre depreda��o e valoriza��o do patrim�nio p�blico � questionada, mas Felipe defende, firmemente, o argumento da diferen�a. “Essa � uma discuss�o muito est�tica, n�o entro no m�rito se � legal ou n�o, se � bonito ou n�o. Mas entendo que tudo faz parte do mesmo movimento. Meu trabalho j� foi enquadrado em picha��o por vezes, mas tudo tamb�m depende de autoriza��es. Se for permitido escrever, tudo bem, se n�o, pode ser preso”.

Atualmente, o artista realiza um projeto que planejava desde o in�cio da carreira: viajar todas as capitais do Brasil, escrevendo suas poesias. Em sete meses, at� junho de 2023, ele j� tinha conhecido 22 cidades. Depois dessa jornada, a inten��o � levar as frases para todos os pa�ses que tenham a l�ngua portuguesa como idioma oficial. “O trabalho que fa�o na rua � curto, r�pido e de simples entendimento. Isso porque eu quero impactar todos, da dona de casa ao m�dico”, finaliza. 


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