
A Justi�a norueguesa realizou a audi�ncia de Breivik a portas fechadas, para evitar que ele a usasse para enviar mensagens a c�mplices. Para alguns, a medida evita que o atirador usasse a oportunidade para propagar suas opini�es para uma audi�ncia mais ampla.
Desde j�, os ideais de Breivik, expressos no documento de 1.518 p�ginas, foi alvo de enorme escrut�nio, o que jamais teria ocorrido se n�o fosse a trag�dia da �ltima sexta-feira.
Sempre h� um apetite p�blico para tentativas de explicar as a��es de assassinos de massas. Ap�s trag�dias como a norueguesa, o “por qu�?” muitas vezes se torna t�o importante quanto o “qu�?”. E esta n�o � a primeira vez que uma ideologia pol�tica ganhou notoriedade ap�s uma trag�dia de grandes propor��es.
Em 1995, um manifesto de 35 mil palavras, escrito por Ted Kaczynski, conhecido como Unabomber, foi publicado no New York Times e no Washington Post. Era uma exig�ncia do autor de 16 atentados em quase 20 anos (que mataram tr�s pessoas e feriram 23) para cessar suas atividades.
Kaczynski foi preso a partir do depoimento de seu irm�o, prestado ap�s este ter lido o manifesto nos jornais. Mas, para alguns, atender �s exig�ncias do Unabomber aumentou a probabilidade que outros promovessem ataques semelhantes. "Voc� pode alegar que (a divulga��o) � pelo bem do p�blico, mas ela coloca o assassino sob os holofotes"
James Fox, professor nos EUA e autor de livros sobre o Unabomber “Foi um erro publicar o documento”, opina James Fox, professor da Universidade Northeastern (EUA) e autor de estudos sobre o Unabomber. “Mesmo que o manifesto n�o tivesse sido publicado, o crime ainda teria sido solucionado.”
"Oxig�nio de publicidade"
Em outros casos relacionados � divulga��o das plataformas de assassinos, o motivo alegado n�o � a busca pelo culpado. Ap�s os ataques na Universidade Virginia Tech, nos EUA, em 2007, quando 32 pessoas foram mortas por Seung-Hui Cho (que em seguida se matou), a rede de TV NBC recebeu uma grava��o com um longo pronunciamento do atirador.
A decis�o de divulgar o material levou familiares das v�timas a boicotar a emissora, criticando-a por dar o “oxig�nio de publicidade” que o atirador desejava. Outras emissoras tamb�m mostraram trechos do v�deo, incluindo a BBC. “Voc� pode alegar que (a divulga��o) � pelo bem do p�blico, mas ela coloca o assassino sob os holofotes”, afirma James Fox. “Para alguns, ele vai se tornar um her�i. Est� certo jogar luz sobre um crime, mas � algo totalmente diferente lan�ar os holofotes (sobre o atirador)”, ele opina.
Em contrapartida, comentaristas defenderam a NBC e outras emissoras, alegando que o v�deo oferecia pistas sobre as motiva��es de Cho. “A acusa��o de que a transmiss�o pode provocar ataques c�pias parece se basear na no��o de que dist�rbios mentais severos s�o contagiosos”, escreveu Bronwen Maddox, do jornal The Times.
Ao mesmo tempo, para extremistas, atos dr�sticos s�o muitas vezes vistos como a �nica forma de se fazer ouvir. “As pessoas sabem agora que, se fizerem uma grande matan�a, receber�o aten��o”, diz o fil�sofo Julian Baggini.
Algumas pessoas e meios de comunica��o j� tra�aram paralelos entre o manifesto do Unabomber e o de Breivik. "H� mais riscos em limitar a express�o do que em abri-la. Quanto mais se lan�a luz sobre essas cren�as (extremistas), mais se d� a chance para que elas sejam destru�das em debates p�blicos"
Jonathan Heawood, ativista defensor da liberdade de express�o
Muitos tamb�m creem que documentos e audi�ncias do atirador s�o temas de interesse p�blico. “Acho que (fechar a audi�ncia de Breivik) � algo ruim”, opina Gro Holm, diretor de not�cias da rede p�blica norueguesa NRK. “Uma das coisas que o premi� (noruegu�s) disse � que ser�amos uma sociedade mais aberta. Na imprensa, somos em geral a favor de audi�ncias abertas. � algo importante � sociedade norueuguesa.”
Sem alternativa
Defensores da liberdade de express�o dizem que abrir argumentos de extremistas ao escrut�nio p�blico � a melhor maneira de desacredit�-los, diante de nenhuma outra op��o vi�vel. “N�o sei qual � a alternativa (a apresentar tais argumentos ao p�blico)”, afirma Jonathan Heawood, diretor da English PEN, organiza��o que apoia a liberdade de express�o a escritores. “Se voc� diz que precisamos impedir a circula��o desse manifesto (de Breivik), ent�o precisamos de uma lei que torne a circula��o um crime. N�o creio que seja uma lei que desejemos”, prosseguiu ele. “H� mais riscos em limitar a express�o do que em abri-la. Quanto mais se lan�a luz sobre essas cren�as (extremistas), mais se d� a chance para que elas sejam destru�das em debates p�blicos.”