O ex-presidente N�stor Kirchner e sua mulher e sucessora na presid�ncia Cristina Kirchner, tiraram a Argentina de sua pior crise e melhoraram os indicadores sociais, aproveitando um contexto de bonan�a econ�mica, mas seu modelo dificilmente ser� sustent�vel no longo prazo.
N�stor Kirchner chegou � Casa Rosada em 2003 com apenas 22% dos votos e em meio a um "inferno", como ele mesmo definiu a grave situa��o econ�mica e social do pa�s, afetado por um �ndice de pobreza de 58%, mais de 20% de desemprego e uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 10% no ano anterior. No entanto, conseguiu reverter a situa��o, impulsionando o crescimento do consumo interno, a manuten��o do super�vit fiscal e comercial, o desendividamento e o aumento das reservas internacionais que subiram para 50 bilh�es de d�lares, em um contexto de forte valoriza��o das mat�rias-primas agr�colas vendidas pela Argentina. Al�m disso, Kirchner e depois sua mulher, a partir de 2007, mantiveram o c�mbio est�vel mediante interven��es sistem�ticas do banco central. "Podemos dizer que a gest�o econ�mica dos Kirchner n�o teve um eixo central, mas o foco esteve sempre colocado no curto prazo e houve poucas decis�es pensadas no longo prazo e, nesse sentido, talvez a mais importante seja a pol�tica de desendividamento", disse � AFP Fausto Spotorno, da consultoria Orlando Ferreres. O especialista se referia �s decis�es tomadas pelo ex-presidente para reduzir a d�vida, como a reestrutura��o do passivo com os credores privados em junho de 2004 e o pagamento em uma s� vez ao Fundo Monet�rio Internacional (FMI) de 9,81 bilh�es de d�lares com as reservas do banco central. �s vezes heterodoxas, as medidas do casal presidencial deram seus frutos: o PIB cresce desde 2003 a taxas chinesas de 6% a 9% e o desemprego caiu de 10% para 7% nos �ltimos tr�s anos. As cifras oficiais de pobreza, no entanto, est�o em 8,3% no fim do primeiro semestre deste ano em zonas urbanas, segundo dados do Instituto Nacional de Estat�stica e Censo (Indec). No setor privado, os dados para esse indicador social s�o muito mais conservadores, mas h� consenso de que a pobreza caiu durante a gest�o Kirchner. "Hoje h� consenso de que a pobreza caiu fortemente entre 2003 at� 2007 no n�vel nacional, quando o �ndice chegou a ficar em 22%, depois voltou a subir e em 2009 ficar em 27%", disse � AFP o economista Rub�n Lovuolo, do Centro Interdisciplinar para o Estudo de Pol�ticas P�blicas (privado). O consumo se fortaleceu com a cria��o de uma bolsa de 270 pesos (US$ 65) dada a 4 milh�es de fam�lias pobres para cada filho menor de 18 anos. "A pol�tica econ�mica foi muito expansionista e nos �ltimos anos o foco foi dado ao consumo, impulsionando o cr�dito com taxas baixas e expandindo o gasto p�blico com subs�dios, tanto sociais como econ�micos, que ampliam a capacidade de consumo", disse Spotorno. Por outro lado, aposentaram-se cerca de 3 milh�es de pessoas que n�o fizeram aportes ao sistema, a partir de tr�mites especiais que beneficiam inclusive as donas de casa. Esses benef�cios foram financiados com o sistema de fundos de pens�o que foi reestatizado por uma pol�mica lei do Congresso em 2008 quando estava � beira da quebra, e que permitiu ao governo adquirir cerca de 30 bilh�es de d�lares que eram administrados por empresas privadas.No entanto, o fantasma da infla��o surgiu na gest�o de Cristina Kirchner, que busca sua reelei��o no domingo. O �rg�o p�blico encarregado das estat�sticas, o Indec, � acusado de manipular os dados e em 2010, por exemplo, enquanto a infla��o oficial foi de 10,9%, c�lculos privados a situaram entre 22% e 25%. Tamb�m o crescimento do gasto p�blico e a incerteza diante de uma eventual crise internacional em 2012 despertam alerta entre os analistas, que advertem sobre a dificuldade de sustentar essa estrat�gia de crescimento no longo prazo. "O n�vel atual de subs�dios � insustent�vel. As contas do fisco mostram que � necess�rio um ajuste, particularmente no que corresponde �s tarifas de servi�os p�blicos e do transporte", disse � AFP Soledad P�rez Duhalde, da consultoria Abeceb. Este � um obst�culo para o governo, j� que diminuir os subs�dios significaria duplicar ou triplicar o valor dos servi�os: "� poss�vel que haja modifica��es, mas tamb�m � certo que resolver o problema � cada vez mais dif�cil", disse Spotorno.