Os gregos foram �s urnas neste domingo (17), pela segunda vez em pouco mais de um m�s, numa vota��o que deve decidir muito mais do que a composi��o das 300 vagas do Parlamento. A elei��o, na pr�tica, definir� se o pa�s continuar� a usar o euro ou se retirar� do grupo de Estados que adotam a moeda �nica, com desdobramentos que podem trazer s�rias consequ�ncias para a economia mundial.
Os dois principais partidos na disputa, o conservador Nova Democracia e o esquerdista Syriza, que, segundo a primeira pesquisa de boca de urna, est�o empatados, se dizem favor�veis � perman�ncia no bloco europeu. O Syriza defende, por�m, a revis�o das medidas impostas pelo Fundo Monet�rio Internacional (FMI) e pela Uni�o Europeia (UE). Para receber at� 2014 a ajuda de 130 bilh�es de euros que evitar� um calote do pa�s na d�vida p�blica, a Gr�cia teve de aceitar um pacote de corte de gastos que agravou a recess�o e o desemprego.
Desde 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) da Gr�cia acumula queda de 14%. O desemprego chega a 22% da popula��o economicamente ativa. A sa�da da zona do euro, no entanto, pode piorar a situa��o. Se os gregos voltarem a adotar o dracma como moeda, a infla��o no pa�s pode disparar. Al�m disso, uma eventual morat�ria na d�vida p�blica grega intensificaria a desconfian�a em rela��o a outros pa�ses do bloco econ�mico, principalmente a Espanha e a It�lia, mas os reflexos seriam sentidos em todo o planeta.
“Nenhum economista pode prever se a sa�da da Gr�cia ter� o mesmo efeito da quebra do Lehman Brothers [que desencadeou a crise mundial em 2008], mas o mais prov�vel � que a expuls�o do pa�s da zona do euro provoque corridas banc�rias em outros pa�ses e contamine o ambiente global”, diz o professor Andr� Nassif, especialista em economia internacional da Funda��o Getulio Vargas (FGV).
O professor ressalta que o Brasil n�o est� imune a um eventual calote grego, com deprecia��o cambial e congelamento do cr�dito, interno e externo. “Todos os pa�ses emergentes est�o sujeitos � fuga de capitais, com imediato reflexo sobre o c�mbio”, avalia Nassif. Segundo ele, apesar da disparada do d�lar nos �ltimos meses, a moeda norte-americana subiria ainda mais com a deteriora��o do cen�rio externo.
De acordo com o professor, a depend�ncia do Brasil em rela��o aos capitais financeiros internacionais, expressa no d�ficit nas contas externas do pa�s, atualmente em torno de 2% do PIB, torna o pa�s mais vulner�vel a turbul�ncias externas. “O d�lar poderia subir para at� R$ 2,30 ou R$ 2,40 porque h� espa�o para isso.”
Apesar da crise, o professor diz que a alta do c�mbio traz oportunidades para o Brasil reverter desequil�brios na economia, beneficiando a ind�stria nacional e melhorando a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. “A taxa de c�mbio de equil�brio, que � neutra para exportadores, importadores e produtores nacionais, est� entre R$ 2,30 e R$ 2,90, dependendo da estimativa. A deprecia��o do real faria a moeda se aproximar desses n�veis”, observa.
Para Nassif, o governo brasileiro deveria aproveitar a disparada do d�lar para introduzir medidas de controle de capital que impedissem a queda da cota��o da moeda norte-americana para abaixo de R$ 2, caso a situa��o econ�mica externa volte a melhorar. “Os pa�ses asi�ticos fizeram isso e impediram a sobrevaloriza��o das moedas”, explica.
Uma disparada do c�mbio ter� impacto sobre a infla��o. O professor, no entanto, ressalta que o repasse do d�lar mais alto para os pre�os n�o ser� t�o imediato por causa da desacelera��o da economia brasileira. Segundo ele, a demanda mais baixa desincentiva as empresas a aumentarem pre�os na mesma propor��o que o c�mbio se deprecia.