
Por C�cile Feuillatre
A Fran�a considera que trava no Mali uma guerra contra o terrorismo, express�o que evita designar com precis�o um inimigo vago, composto por v�rios grupos de interesses diversos, e manter alguma incerteza a respeito do futuro de um pa�s � beira de um abismo, segundo os especialistas da regi�o do Sahel (sul do Saara).
Mas os grupos armados que ocupam desde meados de 2012 o norte do Mali e desencadearam na semana passada uma ofensiva em dire��o ao sul do pa�s, provocando a interven��o francesa, est�o longe de ser homog�neos e de ter os mesmos objetivos, lembram os analistas.
"H� jihadistas militantes, tuaregues separatistas que lutam desde o fim dos anos 70 contra o Estado central, traficantes de drogas e de armas, muitos jovens que n�o t�m perspectivas de emprego, grupos que questionam os caciquismos tradicionais malineses....", enumera Jean-Yves Moisseron, do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD), da Fran�a.
"Nesse aglomerado, nem todos s�o necessariamente terroristas, e sua fantasia n�o � necessariamente instaurar a sharia (lei isl�mica) no Mali. Eles t�m diversos interesses", acrescenta.
Que pontos em comum, que estrat�gia compartilhada existe entre a AQMI (Al-Qaeda no Magreb Isl�mico), uma das filiais mais poderosas da nebulosa Al-Qaeda, a Ansar Dine, movimento essencialmente composto por tuaregues, e o Mujao (Movimento para a Unidade e a Jihad na �frica Ocidental), grupo pouco conhecido dissidente do AQMI?
"A interven��o francesa pode uni-los. Mas, inclusive, dentro desses grupos, as alian�as s�o fr�geis. Tudo isso � muito movedi�o e constitui um inimigo sumamente dif�cil de avaliar", assinala Moisseron.
Estrat�gia de longo prazo
Para o tunisiano Allaya Allani, especialista em movimentos islamitas do Magreg, os jihadistas da Al-Qaeda pretendem, antes de mais nada, criar uma zona de tens�o permanente no Sahel. O outro grande grupo, o Ansar Dine, tem dentro de si rivalidades pessoais e tribais muito complexas.
"O Ansar Dine tem uma fac��o moderada e uma ala radical representada por Iyad ag Ghaly", analisa Pierre Boilley, especialista do movimento tuaregue.
Em rela��o ao Mujao, movimento ficou conhecido em dezembro de 2011, principalmente por sua estrat�gia de fazer ref�ns.
Desde o come�o da crise malinense, diplomatas e militares ocidentais reconheceram seu conhecimento insuficiente a respeito desses grupos e sobre o que realmente acontece no norte do Mali sob seu controle.
Sabe-se com alguma precis�o de que armas disp�em, em sua maioria herdadas da guerra da L�bia, mas o n�mero de combatentes continua sendo uma inc�gnita. Os n�meros geralmente indicados d�o conta de entre 5.000 e 6.000 combatentes no total, incluindo aliados e elementos recrutados recentemente.
O outro grande problema da guerra no Mali � a imprecis�o acerca dos objetivos e da estrat�gia de longo prazo. O governo malinense - cuja legitimidade � fr�gil, j� que n�o houve elei��es desde o golpe de Estado de mar�o de 2012 - "n�o tem vis�o global do futuro do pa�s", considera Allani, assinalando que n�o se sabe a sua posi��o sobre as reivindica��es autonomistas dos tuaregues ou sobre a possibilidade de um modelo federal.
"O que vai acontecer depois da guerra?, essa � a quest�o fundamental. � totalmente necess�rio um 'mapa do caminho' para a promo��o econ�mica e social do norte do pa�s", acrescenta o especialista.
As tr�s resolu��es da ONU sobre Mali, adotadas nos �ltimos seis meses, insistem na necessidade de restaurar a integridade territorial do pa�s, de iniciar um di�logo entre o norte e o sul, e conceder um amplo espa�o ao desenvolvimento de um dos pa�ses mais pobres do mundo.
"Mas ser� dif�cil iniciar um processo pol�tico enquanto houver uma guerra no territ�rio", conclui uma fonte ocidental.