O multimilion�rio Silvio Berlusconi � o que se pode chamar de 'especialista em retornos', aquele pol�tico que consegue constantemente renascer das cinzas, apesar dos esc�ndalos judici�rios e sexuais que teriam amea�ado sua carreira em qualquer pa�s ocidental. Menos na It�lia, que realiza na pr�xima segunda e ter�a-feira elei��es legislativas cruciais nas quais sua estabilidade pol�tica est� em jogo.
Em 12 de novembro de 2011, o pa�s estava � beira da asfixia e o Cavaliere, ddesacreditado ap�s sucessivos processos, deixa o poder sob vaias, passando o cargo para o t�cnico e respeitado Mario Monti. Fevereiro de 2013. Fazendo campanha eleitoral j� h� alguns meses e com cerca de 18% das inten��es de voto, ele obt�m um crescimento espetacular de 28,5%, diminuindo a diferen�a para seu advers�rio em quatro ou cinco pontos.
"Berlusconi � como James Bond: nunca diga nunca", comenta o professor de filosofia Giacomo Marramao, enquanto o jornalista de esquerda Marco Travagli o apelidou de "Senhor Voltei". Seu segredo? Uma cara de pau que o deixou dizer que seu sucessor e agora rival Mario Monti "mergulhou a It�lia na recess�o". No dia seguinte, Berlusconi chegou a sugerir que o advers�rio poderia votar nele. Al�m disso, ele prometeu aos italianos que n�o somente baixar� os impostos, mas reembolsar� o que foi pago no ano passado.
Tudo isso aparecendo na m�dia com uma presen�a que n�o enfraqueceu, apesar de seus 76 anos. "Eu me olhei no espelho hoje de manh�...e pensei: n�o se fazem mais espelhos como antigamente", declarou recentemente a seus f�s em Roma, sem abrir m�o do eterno sorriso. Filho de um banc�rio milan�s, Berlusconi nasceu em 29 de setembro de 1936 e come�ou sua carreira em barcos que faziam cruzeiros, onde trabalhava cantando e contando hist�rias engra�adas.
Vendedor de aspiradores de p� no final dos anos 1950, em 1961 ele se forma em direito e faz um empr�stimo no banco onde o pai trabalhava para fundar uma sociedade imobili�ria. Come�a ent�o uma irresist�vel ascens�o que provoca questionamentos quanto � origem de sua fortuna, sobre a qual ele sempre foi reticente.
Mas foi sobretudo na televis�o que sua genialidade transpareceu. Desde os anos 1980, Berlusconi espalha pela TV italiana uma s�rie de programas cujas principais atra��es s�o mulheres seminuas. A holding da fam�lia Berlusconi, Fininvest, conta com tr�s canais de televis�o, jornais e uma editora, a Mondadori. Mas a cereja do bolo para este fan�tico por futebol � o Milan AC, time campe�o da It�lia em 2011.
Durante 10 anos ele foi dono da maior fortuna da It�lia, antes que as crises nas bolsas de todo o mundo o puxassem para o terceiro ou o quarto lugar. Em 1994 ele se lan�ou na pol�tica. Dentro de algumas semanas ele fundou o Forza Italia, formado essencialmente por funcion�rios de sua holding.
Berlusconi ganhou as elei��es mas, abandonado pelos aliados, seu governo fracassou em sete meses. Em 2001 ele reconquista o poder, ficando at� 2006 -- dura��o recorde no p�s-guerra. Desgastado ap�s cinco anos, ele foi derrotado nas elei��es, mas faz uma revanche surpreendente dois anos mais tarde, chegando ao poder pela terceira vez, antes de pedir demiss�o em 2011.
Ao longo dos anos no poder, seus problemas pessoais, especialmente judiciais, ficaram em primeiro plano. Berlusconi foi diversas vezes condenado em primeira inst�ncia, mas nenhuma definitiva gra�as -- segundo seus opositores -- a leis adotadas especialmente. Muito preocupado com a apar�ncia, este homem de baixa estatura recorre sem pestanejar a maquiagem, tinta de cabelo e cirurgia pl�stica.
Seu gosto assumido por jovens e belas mulheres - at� mesmo garotas de programa - culminou com um pedido de div�rcio em 2009. E um processo por prostitui��o de menores e abuso de poder, protagonizado pela jovem marroquina "Ruby" e as t�rridas festas "bunga-bunga".
It�lia �s v�speras de elei��es cruciais
Na It�lia, atingida pela crise econ�mica e pelos esc�ndalos de corrup��o, o candidato favorito � de centro-esquerda, Pier Luigi Bersani, que por quase um ano teve c�moda vantagem. Ele pode se ver obrigado a formar uma alian�a com o primeiro-ministro em fim de mandato e tecnocrata Mario Monti para poder governar diante do surpreendente avan�o no �ltimo m�s da direita de Silvio Berlusconi e do comediante "antissistema" Beppe Grillo.
Cerca de 47 milh�es de italianos foram convocados �s urnas para renovar o Parlamento, formado pela C�mara de Deputados (630) e pelo Senado (315), mais quatro senadores vital�cios.
Segundo as �ltimas pesquisas dispon�veis, a coaliz�o de centro-esquerda liderada por Bersani ganharia as elei��es com 2,5 a 4,5 pontos de vantagem sobre a direita de Berlusconi, que pode alcan�ar um empate no Senado, gra�as aos assentos concedidos, segundo a regi�o.
Mas o clima eleitoral foi ofuscado na semana de Carnaval pela hist�rica ren�ncia do papa Bento XVI, e os programas de r�dio e televis�o se dedicaram quase que exclusivamente � in�dita decis�o do pont�fice.
Berlusconi, que baseou toda a sua campanha em apari��es em todos os canais de televis�o, enaltecendo as suas bases e prometendo a elimina��o de impostos, havia conquistado um aumento espetacular com esta estrat�gia midi�tica.
"O an�ncio do Papa freou a corrente a favor de Berlusconi, lhe tirou visibilidade e espa�o midi�tico", explicou � AFP o cientista pol�tico Roberto D'Alimonte.
Al�m disso, a It�lia foi atingida nos �ltimos dias por uma s�rie de esc�ndalos de corrup��o que afetaram os partidos pol�ticos tradicionais e favoreceram a figura do chefe de Estado em fim de mandato, Mario Monti, que tamb�m aproveitou amplamente a televis�o e a internet para denunciar os esc�ndalos, tal como ocorreu em 1992 com "Tangentopoli", que sentou no banco dos r�us com mais de 4.000 empres�rios e representantes de todos os grupos pol�ticos.
A esquerda, que contava com 33% a 34% dos votos, conta em conquistar a maioria absoluta na C�mara de Deputados gra�as ao complicado sistema eleitoral em vigor, mas a apari��o inesperada do juiz antim�fia Antonio Ingroia, rec�m-chegado � pol�tica com o movimento Revolu��o Civil, pode lhe tirar votos, j� que se dirige ao mesmo eleitorado.
"O m�ximo que Bersano pode aspirar � se manter no mesmo n�vel", considera D'Alimonte.
O perfil s�rio e tranquilo de Bersani � completamente diferente do de seus maiores rivais e, em particular, do comediante Beppe Grillo, s�mbolo dos indignados, que, com seu Movimento 5 Estrelas, com uma plataforma para reduzir o n�mero de parlamentares e com a exig�ncia dos bancos se responsabilizarem por suas perdas, est� canalizando a ira dos jovens contra a classe pol�tica.
Grillo, que tamb�m promete conceder um sal�rio fixo aos desempregados, ocupa o terceiro lugar, com 14% a 18%.
Tamb�m � o �nico que percorreu a pen�nsula em pleno inverno para realizar grandes com�cios e tomar as manchetes dos jornais com suas atropeladas den�ncias.
"� poss�vel que conquiste 20% dos votos, tal como o partido de Berlusconi", comentou D'Alimonte, ao se referir ao novo fen�meno da pol�tica italiana, acusado de populismo.
Por outro lado, a irrup��o na pol�tica de Monti em dezembro gera perguntas, e embora acumule de 10% a 14%, o chefe de governo em fim de mandato sofre as consequ�ncias da crise econ�mica que atinge a pen�nsula, com um PIB negativo (-2,2% de 2012).
A batalha de Berlusconi junto com a populista Liga Norte pela pr�spera Lombardia � chave para tomar o controle do Senado, j� que esta regi�o, junto com Sic�lia, Veneto e campanha, concede um elevado n�mero de assentos.
"Grillo rouba votos de Berlusconi e da Liga", sustenta o especialista, que lembra os esc�ndalos que afetaram diversas personalidades da direita, entre eles o influente presidente da regi�o de Mil�o, o cat�lico Roberto Formigoni do PDL, conectado com importantes c�rculos de poder.
"Isso poderia favorecer a vit�ria de Bersani nas duas salas do Parlamento", sustenta D'Alimonte.
O pior cen�rio, que todos os editorialistas examinam, � que a It�lia se encontre no dia 25 de fevereiro com duas maiorias diferentes na C�mara de Deputados e no Senado.
A Constitui��o concede o mesmo peso �s duas salas do Parlamento e esta possibilidade significaria a temida ingovernabilidade, o que preocupa os mercados e afetaria a terceira economia da Eurozona, muito endividada e em recess�o.
Os cientistas pol�ticos sustentam que, caso n�o seja alcan�ada uma maioria no Senado, existe "um pacto de a�o" entre a esquerda de Bersani e os moderados de Monti para governar, com o tecnocrata como ministro da Economia ou na presid�ncia do Senado.