Diego Amorim
Enviado especial
Castel Gandolfo – No domingo, quando rezava o Angelus de despedida para 150 mil pessoas na Pra�a de S�o Pedro, o ent�o papa Bento XVI disse que o Senhor o chamava a subir o monte para rezar. Pois foi exatamente isso que ele fez ontem, tr�s horas antes de abandonar o cargo m�ximo da Igreja Cat�lica. A nova morada do agora papa em�rito, em Castel Gandolfo, fica no ponto mais alto de uma colina, a 450 metros do n�vel do mar.
Cerca de 10 mil pessoas – 3 mil a mais que o total de habitantes da prov�ncia – tomaram para si o chamado direcionado a Bento XVI e, no in�cio da tarde, come�aram a encarar intermin�veis ladeiras e escadarias. L� em cima, se espremeram na �nica ruela onde � poss�vel avistar a nova sacada do alem�o. Enquanto se acotovelavam � espera do helic�ptero que o trazia do Vaticano, a quase 30 quil�metros de dist�ncia, os fi�is repetiam ave-marias e pai-nossos.
A cada badalada de sino, ouviam-se gritos de Benedicto, como o ex-pont�fice � chamado na It�lia. At� uma ladainha foi rezada pelos peregrinos, que tiveram de dividir espa�o com um batalh�o de jornalistas e vendedores de souvenir. Celulares, m�quinas e tablets estavam a postos, com foco na principal janela da tradicional resid�ncia de ver�o dos papas. De seus apartamentos, os vizinhos tamb�m registravam toda a movimenta��o.
APLAUSOS Quase meia hora ap�s decolar da Pra�a de S�o Pedro, exatamente �s 17h28 (13h28 no hor�rio de Bras�lia), Bento XVI surgiu para saudar e se despedir daqueles que, como ele, subiram o monte. Com os bra�os erguidos em dire��o ao povo, ele viu os peregrinos o aplaudirem por 40 segundos, um ter�o do tempo em que permaneceu na sacada. S� conseguiu come�ar a falar, aparentemente com um rar�ssimo improviso, na segunda tentativa.
Aquela, sim, era a �ltima apari��o p�blica de Bento XVI como pont�fice. Logo depois, quando as cortinas fechassem, j� no alto do monte, ele poderia, enfim, se isolar para rezar. O r�pido discurso terminou com uma ben��o, recebida por beb�s, crian�as, jovens, idosos, fam�lias inteiras. "Buona notte", desejou ele, em italiano, concluindo a fala, antes de se recolher no interior da casa com vista para Roma, para o bel�ssimo Lago Albano e para o mar, no horizonte.
Disputados por cinegrafistas e fot�grafos do mundo inteiro, os brasileiros Sylvia e Tiago Padilha chamaram a aten��o por estarem com os filhos no colo: Joaquim, de 3 anos, e Jo�o, de 1. A fam�lia, que vive em Macei�, viajou a Castel Gandolfo por conta de um encontro religioso internacional, obrigatoriamente interrompido ontem para que os participantes pudessem acompanhar o inusitado adeus a Bento XVI como papa.
Cat�lico, dos mais praticantes, Tiago se disse surpreso e encantado com o gesto do homem que ousou abrir m�o da fun��o de chefe da Igreja. "Ele quis voltar a ser um de n�s. S� posso entender isso como algo de extrema simplicidade", comentou o advogado alagoano. "Ele colocou o cargo � disposi��o em sinal de humildade", emendou a mulher, feliz de os filhos, embora pequenos, terem presenciado um momento considerado por ela hist�rico.
De acordo com os moradores de Castel Gandolfo, Bento XVI, que passar� os dois primeiros meses de sua aposentadoria na cidade, n�o inspirou emo��es intensas nem conquistou grandes multid�es como seu predecessor Jo�o Paulo II. Mas a decis�o do papa alem�o de renunciar ao trono de S�o Pedro aos 85 anos, ao final de oito anos de um pontificado tumultuado, mudou a opini�o de alguns deles, segundo os quais ele teria se recusado a se envolver nos esc�ndalos de uma Igreja em crise. "N�s descobrimos que por tr�s do aspecto frio esconde um homem honesto. Ele falou ontem dos mares tormentados de seu pontificado e eu acredito que agora ele deve dizer o que sabe", estima Veronica Radoi, de 30 anos, que gerencia um pequeno restaurante.
O Centro de ruas de pedra de Castel Gandolfo sempre viveu em simbiose com a resid�ncia papal: os guardas su��os encarregados de garantir a seguran�a do papa frequentam os bares e restaurantes locais, assim como os funcion�rios que trabalham na propriedade de 55 hectares: jardineiros, auxiliares de manuten��o. "Eu nasci aqui, vi cinco papas irem e virem, mas eu n�o esperava conhecer um sexto", vangloriou-se Marisa, de 80 anos, sentada sob o sol na frente de casa antes do in�cio das cerim�nias. "Bento XVI � um homem bom, mas ele teve um pontificado horr�vel e dif�cil. O pr�ximo dever� ser muito forte", acrescentou. (Com ag�ncias)