
Mais do que alarmar autoridades americanas, a a��o dos irm�os chechenos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev em Boston, h� duas semanas, chamou a aten��o para um fen�meno que se repete na era p�s-11 de setembro. Os chamados lobos solit�rios desafiam os servi�os de intelig�ncia, com planos de ataque que independem de grupos ou organiza��es terroristas. Seu modus operandi costuma ser simples, programado para causar mais impacto emocional do que um n�mero elevado de v�timas. Nos �ltimos anos, tamb�m Reino Unido e Fran�a assistiram a esse tipo de cena.
Especialistas tra�am o perfil desses terroristas avulsos como jovens, crescidos em sociedades liberais, que se “autorradicalizaram”, influenciados, em algum momento, por ideais religiosos ou pol�ticos, muitas vezes em conex�o com a hist�ria da terra dos antepassados. Para especialistas, esse comportamento seria sintoma do enfraquecimento da rede terrorista Al-Qaeda, que, no passado, se baseou nessas ideias e nesse contingente para promover ataques coordenados. Outros, por�m, veem nisso a resist�ncia da doutrina, mesmo ap�s anos de ca�ada aos l�deres como o pr�prio Osama bin Laden.
As investiga��es sobre o que teria motivado os irm�os Tsarnaev ainda n�o foram conclu�das, mas caminham para comprovar que os dois agiram sozinhos, sem ajuda de grupos. Segundo autoridades, o mais novo da dupla, Dzhokhar, teria feito essa confiss�o no hospital. Em busca dos porqu�s, investigadores concentram-se na viagem que o mais velho, Tamerlan, morto na ca�ada policial, fez � R�ssia em 2012. A fam�lia Tsarnaev � origin�ria da Chech�nia – palco de guerras pela separa��o da R�ssia. Os conflitos fortaleceram movimentos extremistas isl�micos na regi�o e, para o FBI, Tamerlan teria conex�es com algum deles.
A especialista Erica Chenoweth, da Universidade de Denver, lembra casos semelhantes. Em novembro de 2009, o major americano Nidal Hasan, filho de palestinos, matou 13 pessoas a tiros na base de Fort Hood, no Texas. No ano seguinte, em junho, o paquistan�s naturalizado americano Faisal Shahzad declarou-se culpado pela tentativa frustrada de explodir um carro-bomba na Times Square, em Nova York. Foi condenado � pris�o perp�tua. "Como os suspeitos no caso de Boston, esses indiv�duos tendem a ser volunt�rios autoiniciados", comentou a analista, em entrevista.
Em seu artigo “Aumento dos lobos solit�rios – a nova face da jihad” , o especialista do Conselho de Rela��es Exteriores (CFR, em ingl�s) Ed Husain lembra que a a��o dos irm�os chechenos capturou a imagem de jovens radicais que agem em outras partes do mundo. “Mas os milh�es de pessoas afetadas diretamente pelos conflitos n�o endossam o terrorismo e prontamente o condenam, como vimos nas palavras revoltosas do tio dos suspeitos de Boston”, afirmou, referindo-se a Ruslan Tsami. Logo ap�s saber que os sobrinhos eram suspeitos do ataque � maratona, visivelmente nervoso, ele declarou a jornalistas que os irm�os n�o representavam a Chech�nia nem o isl� nem sua fam�lia, e chamou-os de “perdedores”, que n�o conseguiram "se acertar na vida".

Chenoweth explica que os lobos solit�rios n�o t�m liga��es diretas com a Al-Qaeda, mas buscam nela inspira��o ideol�gica ou, algumas vezes, assist�ncia operacional por meio de f�runs ou revistas. Respondendo aos interrogadores sobre a t�cnica do uso da panela de press�o vista em Boston, Dzhokhar afirmou ter aprendido em uma publica��o eletr�nica da Al-Qaeda do Magreb Isl�mico. A pr�tica � utilizada para potencializar os danos causados pelos explosivos. O analista franc�s Barah Mika�l, da Funda��o para as Rela��es Internacionais e o Di�logo, explicou que o m�todo � o mais eficiente, especialmente quando se quer chamar a aten��o e causar como��o sem necessariamente provocar milhares de v�timas.
