A seguir alguns trechos da primeira enc�clica do papa Francisco "Lumen Fidei" (A luz da f�), publicada nesta sexta-feira pelo Vaticano.
"Urge recuperar o car�ter de luz que � pr�prio da f�, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam tamb�m por perder o seu vigor. De fato, a luz da f� possui um car�ter singular, sendo capaz de iluminar toda a exist�ncia do homem. Ora, para que uma luz seja t�o poderosa, n�o pode emanar de n�s mesmos; tem de vir de uma fonte mais origin�ria, deve porvir em �ltima an�lise de Deus. A f� nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos nos apoiar para construir solidamente a vida".
"A Igreja nunca d� por descontada a f�, pois sabe que este dom de Deus deve ser nutrido e revigorado sem cessar para continuar a orientar o caminho dela. O Conc�lio Vaticano II fez brilhar a f� no �mbito da experi�ncia humana, percorrendo assim os caminhos do homem contempor�neo. Desta forma, se viu como a f� enriquece a exist�ncia humana em todas as suas dimens�es".
"Estas considera��es sobre a f� - em continuidade com tudo o que o magist�rio da Igreja pronunciou acerca desta virtude teologal [7] - pretendem juntar-se a tudo aquilo que Bento XVI escreveu nas cartas enc�clicas sobre a caridade e a esperan�a. Ele j� tinha quase conclu�do um primeiro esbo�o desta carta enc�clica sobre a f�. Estou-lhe profundamente agradecido e, na fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto qualquer nova contribui��o".
"A maior prova da confiabilidade do amor de Cristo encontra-se na sua morte pelo homem. Se dar a vida pelos amigos � a maior prova de amor (cf. Jo 15, 13), Jesus ofereceu a sua vida por todos, mesmo por aqueles que eram inimigos, para transformar o cora��o".
"A nossa cultura perdeu a no��o desta presen�a concreta de Deus, da sua a��o no mundo; pensamos que Deus Se encontra s� no al�m, noutro n�vel de realidade, separado das nossas rela��es concretas. Mas, se fosse assim, isto �, se Deus fosse incapaz de agir no mundo, o seu amor n�o seria verdadeiramente poderoso, verdadeiramente real e, por conseguinte, n�o seria sequer verdadeiro amor, capaz de cumprir a felicidade que promete. E, ent�o, seria completamente indiferente crer ou n�o crer n'Ele".
"O homem precisa de conhecimento, precisa de verdade, porque sem ela n�o se mant�m de p�, n�o caminha. Sem verdade, a f� n�o salva, n�o torna seguros os nossos passos".
"Lembrar esta liga��o da f� com a verdade � hoje mais necess�rio do que nunca, precisamente por causa da crise de verdade em que vivemos. Na cultura contempor�nea, tende-se frequentemente a aceitar como verdade apenas a da tecnologia: � verdadeiro aquilo que o homem consegue construir e medir com a sua ci�ncia; � verdadeiro porque funciona, e assim torna a vida mais c�moda e apraz�vel".
"Porventura n�o foi esta - perguntam-se - a verdade pretendida pelos grandes totalitarismos do s�culo passado, uma verdade que impunha a pr�pria concep��o global para esmagar a hist�ria concreta do indiv�duo? No fim, resta apenas um relativismo, no qual a quest�o sobre a verdade de tudo - que, no fundo, � tamb�m a quest�o de Deus - j� n�o interessa. Nesta perspectiva, � l�gico que se pretenda eliminar a liga��o da religi�o com a verdade, porque esta associa��o estaria na raiz do fanatismo, que quer emudecer quem n�o partilha da cren�a pr�pria".
"A luz da f� � a luz de um Rosto, no qual se v� o Pai. De fato, no quarto Evangelho, a verdade que a f� apreende � a manifesta��o do Pai no Filho, na sua carne e nas suas obras terrenas; verdade essa, que se pode definir como a 'vida luminosa' de Jesus. Isto significa que o conhecimento da f� n�o nos convida a olhar uma verdade puramente interior; a verdade que a f� nos abre � uma verdade centrada no encontro com Cristo, na contempla��o da sua vida, na percep��o da sua presen�a".
"A f� crist�, enquanto anuncia a verdade do amor total de Deus e abre para a for�a deste amor, chega ao centro mais profundo da experi�ncia de cada homem, que vem � luz gra�as ao amor e � chamado ao amor para permanecer na luz. Movidos pelo desejo de iluminar a realidade inteira a partir do amor de Deus manifestado em Jesus e procurando amar com este mesmo amor, os primeiros crist�os encontraram no mundo grego, na sua fome de verdade, um parceiro id�neo para o di�logo. O encontro da mensagem evang�lica com o pensamento filos�fico do mundo antigo constituiu uma passagem decisiva para o Evangelho chegar a todos os povos e favoreceu uma fecunda sinergia entre f� e raz�o, que se foi desenvolvendo no decurso dos s�culos at� aos nossos dias".
"N�o deixemos que nos roubem a esperan�a, nem permitamos que esta seja anulada por solu��es e propostas imediatas que nos bloqueiam no caminho, que 'fragmentam' o tempo transformando-o em espa�o. O tempo � sempre superior ao espa�o: o espa�o cristaliza os processos, ao passo que o tempo projeta para o futuro e impele a caminhar na esperan�a".