Ultraconservadores americanos acusam o papa Francisco de ser "marxista", mas especialistas rejeitam essa interpreta��o das ideias do pont�fice argentino, alegando que elas s�o coerentes com a doutrina social da Igreja.
Em sua primeira exorta��o de papa, chamada "Evangelii gaudium" e divulgada no final de novembro, Francisco criticou a "ditadura da economia sem um rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano", assim como a "cultura do 'descarte'", que marginaliza povos inteiros.
Sem defender a revolu��o, ou sequer mencionar o marxismo, o sumo pont�fice afirmou com clareza: "Estou longe de propor um populismo irrespons�vel, mas a economia j� n�o pode recorrer a rem�dios que s�o um novo veneno, como quando se pretende aumentar o lucro, reduzindo o mercado de trabalho e criando, assim, novos exclu�dos".
Essas e outras declara��es levaram o locutor de r�dio americano e conservador Rush Limbaugh a classificar as frases do papa como "marxismo puro". J� Jonathon Moseley, do "Tea Party", considerou necess�rio esclarecer que "Jesus era um capitalista que preconizava a responsabilidade pessoal, e n�o um socialista".
Outro comentarista do canal conservador Fox, Stuart Varney, acusou o papa de defender o "neo-socialismo".
A Conservadora Confer�ncia de Bispos Cat�licos saudou as declara��es de Francisco. Para o bispo David L. Ricken, trata-se de "um exemplo vivo da nova Evangeliza��o".
O arcebispo da cidade francesa de Clermont Ferrand (centro), Hippolyte Simon, tamb�m considerou que Francisco se mant�m "fiel � mais cl�ssica doutrina social da Igreja, ou seja, que o mercado n�o pode bastar para assumir o bem comum. O Estado tem de participar dessa tarefa", comentou.
Em conversa com a AFP, o especialista em temas do Vaticano do jornal italiano "La Stampa", Andrea Tornielli, disse n�o ficar surpreso com as "acusa��es".
"N�o me surpreende essa cr�tica, j� que vem de ambientes que transformaram o Cristianismo em uma ideologia que serve para justificar certas pol�ticas. Os que acusam Francisco de ser marxista explicam que (...) Jesus era capitalista", ironizou.
Para Marco Politi, do jornal de esquerda "Il Fatto Quotidiano", considerar Francisco marxista � "rid�culo". O papa est� "em plena sintonia com Bento XVI e Jo�o Paulo II".
"Na realidade, sua den�ncia das crescentes desigualdades revela a resist�ncia ferrenha dos que n�o aceitam que a economia e o sistema financeiro tenham de se adaptar" a regras que levem em conta a realidade social, acrescentou.