Parentes e amigos de Nelson Mandela acompanharam neste domingo o enterro do l�der sul-africano, no vilarejo em que Madiba passou a inf�ncia, ap�s 10 dias de luto e homenagens a um personagem vital do s�culo XX.
O caix�o com o corpo de Mandela foi sepultado em Qunu, na prov�ncia de Cabo Oriental, como era seu desejo.
Vinte e uma salvas de canh�o e o voo de uma esquadrilha de avi�es militares saudaram o traslado do corpo de Mandela para o local do enterro.
O funeral e o enterro na fazenda da fam�lia Mandela foram marcados por um car�ter de Estado: o caix�o estava envolvido com a bandeira sul-africana e recebeu a prote��o de militares.
O sepultamento aconteceu em uma cerim�nia privada, de acordo com os rituais da etnia xhosa.
Antes, um funeral foi celebrado em uma grande tenda instalada na fazenda Mandela com a presen�a de 4.500 convidados.
Uma grande foto de Madiba estava na tribuna, com 95 velas diante da imagem dispostas em duas fileiras.
"Recordo o homem alto, saud�vel, forte, o boxeador", afirmou aos presentes seu amigo Ahmed Kathrada, que passou 18 anos na pris�o de Robben Island ao lado de Mandela e fez um discurso emocionado.
"Caminhamos lado a lado pelo vale da morte, sempre nos apoiando. Perdi um irm�o, n�o sei com quem vou falar".
A neta Nani falou sobre os momentos de intimidade familiar e revelou que o av� era um "grande narrador de hist�rias", que tamb�m recordava a todos sobre as obriga��es, "para nos prepararmos para sermos melhores na vida".
O presidente sul-africano Jacob Zuma incentivou os compatriotas a "perpetuar a heran�a" de Nelson Mandela, ao pronunciar o elogio f�nebre do her�i da luta contra o apartheid.
"O seu longo caminho para a liberdade terminou, no sentido f�sico do termo. Mas nossa pr�pria viagem continua. Devemos seguir construindo a sociedade pela qual voc� trabalhou. Devemos perpetuar a heran�a", disse Zuma.
"A �frica do Sul vai continuar crescendo, porque n�o podemos decepcion�-lo", completou Zuma.
"Hoje prometemos continuar promovendo a toler�ncia e uma sociedade multirracial em nosso pa�s e construir uma �frica do Sul que perten�a realmente a todos", declarou o presidente sul-africano.
A cerim�nia come�ou com o hino nacional e as can��es "Lizalis idinga khalo" ("Cumpre tua promessa") e "Jerusalem likhaya lami".
Entre os presentes estavam o arcebispo e Nobel da Paz Desmond Tutu, velho amigo de Mandela, que no s�bado afirmou n�o ter sido convidado, a vi�va Gra�a Machel, assim como Winnie Mandela, que foi a segunda esposa do l�der sul-africano.
Tamb�m estavam em Qunu o reverendo americano e ativista dos direitos civis Jesse Jackson, o magnata brit�nico Richard Branson, o ex-primeiro-ministro franc�s Lionel Jospin, o pol�tico norte-irland�s Gerry Adams, a apresentadora de televis�o americana Oprah Winfrey e os atores Forrest Whitaker e Idris Elba, que interpreta Mandela no cinema.
O l�der sul-africano, falecido em 5 de dezembro aos 95 anos, foi sepultado depois do funeral em uma cerim�nia �ntima sob o ritual da etnia xhosa, que incluiu o sacrif�cio de um boi.
A fam�lia, amigos, velhos companheiros de luta, militares e l�deres tribais caminharam at� o local da sepultura. No total, 450 pessoas estavam no grupo, incluindo Branson, Tutu e Winfrey.
Em todo o pa�s foram instalados tel�es para a transmiss�o da cerim�nia.
Pascal Moloi, de 52 anos, viajou de Johannesburgo por 10 horas para chegar a Qunu.
"Desde que morreu, eu queria fazer esta viagem com ele", afirmou no vilarejo de Qunu.
Moloi disse que preferia ficar ao lado dos moradores do que com as autoridades.
A fam�lia irlandesa Solan estava de f�rias na �frica do Sul e decidiu conhecer Qunu.
"� muito triste para mim porque na escola sempre aprendemos coisas sobre pessoas famosas e Madiba era o mais famoso", afirmou Luc Solan, de apenas nove anos.
Um grupo de curiosos se concentrou diante da barreira policial que dava acesso � propriedade dos Mandela, mas n�o conseguira se aproximar do local do funeral.
De volta para casa
H� quase 90 anos o menino Nelson Mandela corria pelas ruas e pela paisagem verde de Qunu.
Rolihlahla Mandela, seu nome original, viveu na localidade at� os nove anos, muito perto do local em que nasceu, Mvezo.
"O vilarejo de Qunu ficava em um vale verde, estreito. L� n�o viviam mais que algumas centenas de pessoas", relatou Mandela em suas mem�rias, "O Longo Caminho para a Liberdade".
Quando Mandela era crian�a, recebeu um nome europeu na escola, Nelson. "Talvez tivesse algo a ver com o grande almirante ingl�s", dizia Mandela.
Ap�s a morte de seu pai, a m�e de Mandela decidiu que seu futuro estava do outro lado e o enviou para ser criado pelo "regente" da tribo. Mais tarde passou por um p�riplo extraordin�rio: os anos de forma��o e trabalho em Johannesburgo, o ativismo pol�tico, a pris�o, a presid�ncia, as homenagens e a morte.
Mas Mandela nunca esqueceu Qunu e quando deixou a pris�o construiu uma casa na localidade, onde pediu para ser enterrado.
"Qunu era tudo o que conhecia e amava do modo incondicional que uma crian�a ama sua primeira casa", afirmou em suas mem�rias.
"Estava mais de luto pelo mundo que deixava para tr�s que por meu pai...", palavras que foram lembradas neste domingo no local que fecha um cap�tulo extraordin�rio da hist�ria da �frica do Sul.