Ondas que podem chegar aos 10 metros, ventos gelados com for�a de furac�o: estamos em pleno Mar de Drake, entre a Terra do Fogo e a Ant�rtica, uma das rotas de navega��o mais temidas e perigosas do mundo, caminho obrigat�rio para os navios que t�m como destino o continente gelado.
Ap�s 43 horas de navega��o por um mar bravio, que mareia at� os navegadores mais experientes, tripulantes e jornalistas a bordo do navio de apoio oceanogr�fico da Marinha brasileira Ary Rongel recebem a recompensa.
� come�o de noite e sob um c�u ainda claro, imponentes montanhas cobertas de neve e maci�os glaciares azuis despontam no horizonte, revelando os primeiros contornos da ilha Rei George, onde fica a esta��o brasileira Comandante Ferraz.
"� uma emo��o muito grande. A paisagem � fant�stica, respira-se um ar muito puro, a gente v� animais diferentes como pinguins e focas. � fant�stico, gratificante. Isto compensa a saudade da fam�lia, a travessia", diz � AFP o primeiro sargento Adilson Pinheiro, com 25 anos de Marinha.
O navio transporta pessoal, carga e provis�es para a base, que concentra os esfor�os cient�ficos do Programa Ant�rtico Brasileiro.
A base, inaugurada em 1984, est� instalada atualmente em m�dulos de emerg�ncia at� a constru��o da nova esta��o, prevista para 2016, ap�s um inc�ndio que destruiu completamente o pr�dio principal e deixou dois mortos, em fevereiro de 2012.
- Natureza bela e hostil -
Com aproximadamente 1.000 km de extens�o, o Mar de Drake corresponde a tr�s quartos da viagem da cidade de Punta Arenas, no sul do Chile, � Ant�rtica.
"A travessia do Drake � temida porque � um dos piores, sen�o o pior mar do mundo. De oeste para leste, recebe muitos ventos, muitas frentes frias, sem barreiras f�sicas para interromper as ondas que no ver�o [como agora] podem chegar a 8 ou 10 metros. Mas bons mares nunca forjaram bons marinheiros", explica � AFP o capit�o-tenente Ricardo Magalh�es, 31 anos, especialista em navega��o h� 14 anos na Marinha.
Foi justamente um hom�nimo seu, o portugu�s Fern�o de Magalh�es, o primeiro a realizar a fa�anha em 1520, completando a travessia entre o Atl�ntico e o Pac�fico, em uma expedi��o financiada pela coroa espanhola, em busca de uma nova rota comercial.
Depois de v�rias noites mal dormidas, muitos comprimidos contra enjoo e alguns objetos quebrados no vai-e-vem do navio, uma revoada de petr�is-do-cabo d� as boas-vindas aos passageiros do "Ary Rongel".
O trajeto mar�timo da Patag�nia chilena at� a Ant�rtica, que leva quatro dias, revela uma natureza ao mesmo tempo bela e hostil.
A princ�pio, navega-se por �guas tranquilas. O navio passa pelo Estreito de Magalh�es e avan�a mais ao sul pelos canais chilenos, em um trajeto de 600 km que leva 30 horas para ser percorrido.
O corredor tamb�m � conhecido como Avenida dos Glaciares (ou "ventisqueros" como preferem os chilenos), devido �s enormes massas de gelo que, apesar do derretimento, ainda se acumulam nas montanhas neste fim de ver�o patag�nico.
Dali, o Ary Rongel segue para a passagem Richmond at� chegar ao Mar ou Passagem de Drake, um extenso trecho mar�timo que marca o encontro entre os oceanos Atl�ntico e Pac�fico.
- Rotina militar -
O dia-a-dia a bordo do navio Ary Rongel, carinhosamente apelidado de "Gigante Vermelho" por seus tripulantes, � marcada pela rotina militar. O dia come�a com a alvorada, �s 07h00, seguida da primeira das quatro refei��es do dia, sempre em hor�rios marcados.
Os comunicados, atividades e informa��es, como temperatura e tempo de vida do homem no mar em caso de queda s�o transmitidos pelo sistema de �udio.
A tripula��o � composta por 82 militares entre oficiais e suboficiais, com fun��es diversas, como cozinheiro, mergulhador, piloto, mec�nico, capel�o, comandante. Vinte e tr�s civis (cientistas, imprensa, etc) costumam ocupar as vagas restantes do navio, com capacidade para transportar 105 pessoas.
Em cada opera��o log�stica de apoio ao programa cient�fico brasileiro na Ant�rtica (Proantar), os militares ficam a bordo do navio de outubro a abril e costumam fazer cinco viagens � Ant�rtica (10 no total, considerado a ida e a volta entre Punta Arenas e o continente gelado) neste per�odo.
Al�m do "Ary Rongel", o navio "Almirante Maximiano", tamb�m da Marinha brasileira, oferece suporte log�stico �s pesquisas realizadas tanto na esta��o brasileira quanto em outros pontos da Ant�rtica, levando provis�es e equipamentos e trazendo de volta o lixo produzido.
Avi�es H�rcules C130, da For�a A�rea Brasileira, tamb�m oferecem apoio log�stico com voos programados saindo e chegando � base de Frei, do Chile, dotada de uma pista de pouso que falta � esta��o brasileira.