Valpara�so, conhecida como "a Joia do Pac�fico" com seu centro declarado Patrim�nio da Humanidade, esconde tamb�m altos �ndices de pobreza e uma precariedade na urbaniza��o que complicaram mais o controle do inc�ndio que come�ou h� quatro dias. As chamas, que deixaram 15 mortos e 11.000 desabrigados, s�o um velho inimigo da cidade portu�ria.
Segundo Iv�n Poduje, professor de Urbanismo da Universidade Cat�lica, diante da falta de casas e do atraso nos planos do governo para constru�-las, as fam�lias ocuparam terrenos em �reas de risco, como encostas, muitas vezes abandonadas e sem servi�os b�sicos. A vegeta��o densa em algumas �reas aumenta o risco de inc�ndios. "Nas encostas, o vento se acelera e a propaga��o do fogo � muito r�pida. Al�m disso, as casas s�o feitas de material leve. � muito dif�cil chegar a esses locais, s�o muito �ngremes. Os acessos s�o complicados e � muito dif�cil controlar o fogo", considera.
A geografia complicou a gest�o desta cidade, que conta com poucos recursos e uma d�vida grande, equivalente � metade de seu or�amento anual. Faltam empregos para seus moradores, e o movimento econ�mico do importante porto da cidade n�o equivale a dinheiro nos cofres do munic�pio. "� inexplic�vel que o porto seja uma empresa aut�noma do estado que obt�m grandes receitas e nada paga ao munic�pio", comentou Poduje.
Desigualdade e pobreza
Milhares de imigrantes europeus chegaram a Valpara�so no seculo XIX para iniciar uma vida nova. Era uma passagem obrigat�ria nas rotas mar�timas antes da abertura do Canal do Panam�. Hoje, o porto recebe milhares de turistas atra�dos por esse antigo esplendor, em uma cidade que parece ter parado no tempo, com casas charmosas e coloridas.
Mas existe o outro lado da cidade. Seus n�veis de pobreza est�o dois pontos acima da m�dia nacional de 14,4%. Os problemas se acumulam: a �gua n�o recebe o tratamento adequado e o lixo se acumula em alguns pontos. "Valpara�so � muito bonita de longe. Mas quando voc� se aproxima, percebe a grande pobreza que est� exposta", explicou Poduje � AFP.
"� um exemplo absoluto de segrega��o urbana. Os turistas v�o �s partes mais bonitas, no litoral e em algumas partes altas, resqu�cios da �poca em que Valpara�so era a capital econ�mica do Chile", afirmou. Mas os recursos gerados pelo turismo est�o limitados a um setor muito limitado da cidade.
A oportunidade ap�s o desastre
At� esta trag�dia, por falta de recursos e vontade pol�tica, nenhuma autoridade impediu a forma��o e o aumento das comunidades carentes ou levou servi�os b�sicos a essa �reas. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, falou de um "plano" para a cidade, que garanta a seguran�a de seus moradores. "Esta � uma grande trag�dia, mas tamb�m uma grande oportunidade para fazermos bem as coisas", disse Bachelet nesta ter�a � r�dio Cooperativa.
"Honestamente, acho que temos que fazer algo mais, n�o basta reerguer casas e apoiar as fam�lias, temos que criar uma rede de prote��o", acrescentou.
No momento, a prioridade � a gest�o da emerg�ncia, com ajuda �s fam�lias que recebem os desabrigados e a forma��o de abrigos. Segundo Poduje, a reconstru��o de Valpara�so pode ser mais um elemento no plano para acabar com a desigualdade promovido pela presidente.
Em um comunicado, a Unesco manifestou sua disposi��o em ajudar a preservar esta rica regi�o, "eco de um importante per�odo da hist�ria do Chile e de seu desenvolvimento econ�mico e cultural no s�culo XIX".
