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Estado de Minas

Canoniza��o re�ne fato incomum com quatro papas no Vaticano

Igreja Cat�lica vive hoje um dia incomum em sua sede com a canoniza��o de dois papas em processos que instigam a reflex�o de fi�is sobre as mudan�as adotadas por Francisco


postado em 27/04/2014 00:12 / atualizado em 27/04/2014 09:09

Cidade do Vaticano – A dupla canoniza��o de hoje, com a presen�a confirmada de Bento XVI e de milhares de peregrinos, pode representar importantes mudan�as no conceito de santidade pregado pela Igreja Cat�lica. Ao promover Jo�o XXIII e Jo�o Paulo II, ap�s processos can�nicos controversos, o papa Francisco instiga a reflex�o sobre um h�bito arraigado entre cat�licos e um dos pontos mais sens�veis de divis�o entre os crist�os: o culto e a devo��o aos santos, com direito a rezas espec�ficas e imagens em altar.

Os dois papas contemplados na cerim�nia n�o realizaram grandes milagres aos olhos humanos. N�o sofreram mart�rio, n�o receberam as chagas de Cristo nem mesmo levitaram, como consta em relatos da Igreja sobre a vida de outras divindades de carne e osso. O processo de canoniza��o de Jo�o Paulo II come�ou e terminou, em tese, antes do prazo considerado necess�rio. O de Jo�o XXIII, ao contr�rio, se arrastou e acabou conclu�do sem a comprova��o de um segundo milagre. Afinal, o que faz a Igreja rotular algu�m de santo?

No Brasil, ainda o maior pa�s cat�lico do mundo, a devo��o aos padroeiros � uma tradi��o, mais do que qualquer quest�o de f�. Sobretudo no interior do pa�s, a religiosidade e a cren�a no poder divino de grandes homens e mulheres fazem fi�is se curvarem diante de imagens, acender velas, pagar promessas e implorarem gra�as. Isso serve de combust�vel para cr�ticas agressivas de evang�licos, que encaram a euforia cat�lica como idolatria, pr�tica abomin�vel segundo a B�blia, de ambas as religi�es.

Ao elevar � gl�ria dos altares homens simples e pr�ximos do povo, embora tenham sido pont�fices, a Igreja de Francisco busca amenizar o peso de um estere�tipo, avaliam vaticanistas, al�m de resgatar a ess�ncia da santidade. “Os santos costumam ser invocados em momentos de dificuldades. Tudo bem, mas n�o � isso. Santo � algu�m para ser imitado”, diz, em tom de corre��o, dom Raymundo Damasceno, presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, em Roma.

Evitando o termo idolatria, o representante da Igreja no Brasil, amigo de Francisco, lembra aos cat�licos que “quem faz o milagre � sempre Deus, n�o o santo”. Caminhando pela Pra�a de S�o Pedro na manh� de ontem, j� tomada por gente do mundo inteiro, o cardeal-arcebispo de S�o Paulo, dom Odilo Scherer, refor�ou o argumento de que os santificados precisam ser encarados pelo rebanho, acima de tudo, como “testemunhas de f� e do evangelho”, para al�m de venera��es, mandingas e rezas.

PARA CONSUMO
Descolado dessa teoria, o com�rcio de lembrancinhas dos dois novos papas vai muito bem, obrigado, nestes dias, em Roma, gra�as aos pr�prios santos e � multid�o de fi�is. As imagens do polon�s Jo�o Paulo II e a do italiano Jo�o XXIII – um desconhecido, para muitos – sorriem nas vitrines de lojas e em bancas de camel�s, estampadas em grandes cartazes, embalagens de ter�os, chaveiros, �m�s de geladeira. Nos arredores do Vaticano, imigrantes africanos vendem at� len�os de cabe�a com as fotos das santidades do momento.

O altar da casa do engenheiro civil Marcelo Lima Almeida, de 55 anos, em Teresina (PI), ganhar� uma pequena estatueta de Jo�o Paulo II na volta de mais uma viagem com a fam�lia ao cora��o da Igreja. Disposto a passar na Pra�a de S�o Pedro a noite que antecederia a cerim�nia, ele dizia n�o ver problema algum em venerar imagens. “� uma lembran�a di�ria, algo concreto para que eu olhe e me recorde de que aquela pessoa existiu e pode, de alguma forma, servir de modelo. Nada mais do que isso”, tenta explicar um dos milhares de brasileiros presentes no Vaticano.
Estudantes da Universidade de Bras�lia (UnB), onde organizam missas di�rias, Arthur D’Almeida, de 26, e Laura Almeida, de 21, s�o namorados e querem ser santos como Jo�o XXIII e Jo�o Paulo II – mesmo que jamais venham a ser reconhecidos assim pela Igreja. “Santo � uma pessoa que viveu, sofreu, chorou, passou por alegrias, por momentos dif�ceis, mas n�o perdeu de vista as virtudes crist�s”, define ela. “Podemos falar com eles, porque est�o mais perto de Deus”, emenda ele, com a bandeira do Brasil nas costas.

No mesmo grupo de brasilienses, Joice Ventura, de 28, entra na conversa sobre santos e conta que reza diretamente para a madrinha, que morreu em 2003, v�tima de c�ncer. “Tenho certeza de que ela foi uma santa e intercede por mim”, justifica a jovem. “Podemos vener�-los, mas n�o � adora��o. Imagem � como a foto de algu�m querido que guardamos como lembran�a”, acrescentou a universit�ria paulistana Maria Isabel Gon�alves, de 19, reconhecendo que – “infelizmente”, segundo ela – nem todos os cat�licos pensam dessa forma.


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