O grupo radical isl�mico Boko Haram, que instensificou seus ataques nas �ltimas semanas na Nig�ria e reivindicou o recente sequestro de mais de 200 estudantes, nasceu de uma seita que atraiu a juventude do norte do pa�s com um discurso cr�tico em rela��o ao regime nigeriano corrupto.
Uma seita contra a educa��o ocidental
Boko Haram significa "a educa��o ocidental � pecaminosa" em haussa, a l�ngua mais falada no norte da Nig�ria.
Pregando um Isl� radical e rigoroso, Mohammed Yusuf, o fundador, acusava os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores brit�nicos, de serem a fonte todos os males sofridos pelo pa�s.
Tamb�m atraiu a juventude de Maiduguri, capital do estado de Borno, com um discurso agressivo contra o governo.
De acordo com Mohammed Yusuf, "um Estado laico n�o pode implementar corretamente a lei isl�mica. O objetivo, portanto, � estabelecer uma rep�blica isl�mica", segundo o pesquisador franc�s Marc-Antoine P�rouse de Montclos.
O grupo recruta novos membros principalmente entre os "almajirai", os estudantes cor�nicos itinerantes, que n�o tiveram acesso a uma educa��o de qualidade por serem. Tamb�m recebe apoio de intelectuais que consideram que a educa��o ocidental corrompe o Isl� tradicional.
As prega��es de Yusuf na mesquita de Maiduguri come�aram a atrair cada vez mais seguidores a partir da d�cada de 1990, de acordo com um recente relat�rio do International Crisis Group. Mas o Boko Haram nasceu, de fato, em 2002, quando come�ou a atrair a aten��o das autoridades.
A repress�o militar
Em 2009, eclodiram confrontos entre a pol�cia e o Boko Haram em Maiduguri.
Em uma grande opera��o, o Ex�rcito matou 700 pessoas e capturou Mohamed Yusuf, que depois foi executado.
O movimento passou a agir na ilegalidade. Alguns de seus integrantes fugiram para o exterior. "� neste momento que eles s�o influenciados por um movimento jihadista internacional que os convence da inutilidade do protesto pac�fico", indica Montclos.
Os l�deres do Boko Haram passaram a um n�vel superior. N�o trata-se apenas de impor a lei isl�mica na Nig�ria, mas desestabilizar o Estado com uma estrat�gia terrorista de medo e p�nico.
Abubakar Shekau, que era o bra�o direito do l�der executado, assumiu o comando do Boko Haram.
A partir de ent�o, o que se seguiu foi uma escalada da viol�ncia, com dezenas de ataques a escolas, igrejas, mesquitas e s�mbolos do Estado e das for�as de ordem, deixando milhares de mortos.
Entre os atos terroristas, est� o ataque � sede da ONU que matou 23 pessoas na capital, Abuja, em agosto de 2011.
Recentemente, dois ataques que atingiram a mesma rodovi�ria na periferia de Abuja em um intervalo de menos de tr�s semanas, causando 90 mortes, lembraram a grave amea�a representada pelo Boko Haram em todo o pa�s.
Shekau: um terrorista mundial
Considerado um "terrorista global" pelos Estados Unidos, Abubakar Muhammad Shekau foi dado duas vezes como morto pela pol�cia nigeriana, antes de reaparecer em v�deos.
"Na �poca de Yusuf o grupo tinha um discurso estruturado, hoje, Shekau, mistura o Isl� com pr�ticas 'pouco ortodoxas'", considera o pesquisador Gilles Yabi.
O recente sequestro de mais de 200 estudantes do ensino m�dio em Chibok, no estado de Borno, "mostra que Shekau n�o tem limites", acrescenta Yabi.
La�os com o exterior
De acordo com diplomatas, membros do Boko Haram foram treinados pela AQMI (Al-Qaeda no Magrebe Isl�mico) no norte do Mali entre 2012 e 2013. Washington tamb�m acredita que existam liga��es entre as duas organiza��es.
Al�m disso, "a presen�a do Boko Haram em N�ger, Chade e Camar�es, n�o � uma novidade", segundo Yabi.
As fronteiras entre esses pa�ses � muito porosa porque s�o muito pouco controladas. "Sabemos que, principalmente, o N�ger e Camar�es servem de bases para o Boko Haram", diz.
Mas as a��es do Boko Haram, que nunca reivindicou sequestros de estrangeiros, permanecem bastante focadas na Nig�ria. A �nica exce��o foi o sequestro da fam�lia francesa Moulin-Fournier, em fevereiro de 2013. As v�timas foram libertadas dois meses depois.
Em termos de financiamento, o Boko Haram recebe o apoio de fi�is nas mesquitas e organiza assaltos a bancos. N�o h� evid�ncia de movimenta��es de recursos do exterior.
Por que este surto de viol�ncia?
A viol�ncia que atinge tanto mu�ulmanos como crist�os aumentou vertiginosamente nos tr�s estados do nordeste do pa�s, desde o estabelecimento do estado de emerg�ncia, em maio de 2013, e da brutal ofensiva do Ex�rcito, considerado respons�vel por massacres em aldeias suspeitas de abrigar o Boko Haram.
Em resposta, a seita destr�i aldeias inteiras suspeitas de colaborar com o Ex�rcito.
Em seu �ltimo ataque, o grupo destruiu completamente a localidade de Gamboru Ngala, atirando em pessoas que tentavam fugir para Camar�es.