(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Igreja muda o tom sobre homossexuais

Documento elaborado durante o s�nodo sustenta que gays t�m %u2018dons e qualidades%u2019 a oferecer para a comunidade crist�


postado em 14/10/2014 06:00 / atualizado em 14/10/2014 06:53

Rodrigo Craveiro

Bras�lia – Muitos consideraram o documento um terremoto que abalou as estruturas conservadoras da Igreja. Depois de oito dias do S�nodo Extraordin�rio da Fam�lia, que reuniu 200 bispos na Cidade do Vaticano, a Santa S� divulgou o chamado relatio post disceptationem. O texto de 12 p�ginas, um resumo das discuss�es dos religiosos, sinaliza uma mudan�a radical na ret�rica do catolicismo em rela��o a temas pol�micos e defende toler�ncia para com os gays e o div�rcio, apesar de seguir n�o apoiando o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Os homossexuais t�m dons e qualidades a oferecer para a comunidade crist�: n�s somos capazes de acolher essas pessoas, garantindo a elas um espa�o fraterno em nossas comunidades? Muitas vezes, elas desejam encontrar uma Igreja que lhes ofere�a um lar acolhedor”, afirma, em um das passagens que simbolizam a abertura da Igreja.

Al�m de considerar aspectos positivos do casamento civil e oferecer uma abordagem mais benevolente em rela��o �s uni�es est�veis, o documento prega um discernimento espiritual sobre os divorciados. “Compete � Igreja reconhecer essas sementes do Verbo dispersas para al�m de suas fronteiras vis�veis e sacramentais”, diz o texto. “Ao seguir o amplo olhar de Cristo, cuja luz ilumina a todos os homens, a Igreja se dirige com respeito a aqueles que participam na sua vida de modo incompleto e imperfeito, apreciando mais os valores positivos que possuem”, acrescenta. Tamb�m orienta os pastores a tratarem esses fi�is com respeito, evitando o preconceito. Pela primeira vez, a Igreja parece procurar seguir a dire��o determinada pelo papa Francisco nos 18 meses de pontificado. De acordo com o relato, a Igreja se reveste de “nova sensibilidade” para buscar entender “a realidade positiva do casamento civil e, dadas as diferen�as, o concubinato”.

“� parte da virada ‘jesu�ta' da Igreja, uma ordem sempre pronta a identificar as necessidades de marketing da institui��o”, explica Luiz Felipe Pond�, fil�sofo e professor de ci�ncias da religi�o pela Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (PUC-SP). “No uso de uma linguagem acolhedora e afetiva, a Igreja demonstra estar em movimento para abra�ar a causa dos homossexuais. Quanto a mudan�as concretas, � um come�o, sem d�vida. Em religi�o, com o tempo, se faz tudo o que for necess�rio para n�o se perder mercado.”

O documento causou rea��es acaloradas e fortes cr�ticas de alguns religiosos, principalmente da �frica. O arcebispo Bruno Forte, secret�rio especial do S�nodo, resumiu a t�nica do texto. “Em vez de proferir sim-sim e n�o-n�o, pr�-julgamentos, trata-se de compreender a complexidade das realidades das fam�lias”, declarou.

DOUTRINA

O vaticanista John Thavis, autor de The Vatican diaries (Os di�rios do Vaticano), acredita que a Igreja n�o est� mudando a posi��o doutrin�ria em rela��o � homossexualidade. “No entanto, parece estar deixando de lado a linguagem que alienou tantas pessoas, incluindo a palavra ‘desordenado’, que sempre foi usada para descrever o padr�o da orienta��o homossexual”, afirmou � reportagem, por e-mail. Ele concorda com Pond� no que diz respeito � inclina��o da Santa S� em dire��o a uma postura mais flex�vel sobre antigos dogmas. “O s�nodo reconhece que, para evangelizar e para obter a audi�ncia de pessoas modernas, a f�rmula antiga n�o mais funcionar�”, observa.

Ex-aluno do papa em�rito Bento XVI, o te�logo norte-americano Joseph Fessio lembra que o “relatio” n�o � uma declara��o oficial da Igreja. “Ainda n�o houve uma discuss�o formal dos temas, mas uma s�rie de apresenta��es, frequentemente desconectadas uma das outras. O documento ser� a base para o debate atual que ocorrer� em pequenos grupos (circuli minores) durante a segunda e �ltima semana do s�nodo”, comenta. Ao comentar o trecho mais marcante do documento, Fessio faz uso da ironia. “� verdade que os homossexuais t�m dons e qualidades a oferecer � comunidade crist�. Isso tamb�m vale para muitos membros da m�fia que doam contribui��es generosas � Igreja. Um banqueiro desonesto tamb�m pode ser um pai bondoso”, exemplifica, ao classificar a declara��o de “verdadeira no abstrato, mas amb�gua e confusa”. “Somos todos pecadores. Todos temos ‘dons e qualidades a oferecer’. Mas nossos pecados n�o s�o dons. Nada pode mudar o fato de que rela��es homossexuais s�o, objetivamente, um grave pecado”, opinou.

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)