Quatro d�cadas depois de sua estreia, o programa criado pelo falecido comediante Roberto G�mez Bola�os, mais conhecido como "Chaves", continua sendo exibido em canais de toda a Am�rica Latina, apesar da acirrada concorr�ncia de produtos novos e mais sofisticados.
Por que ainda existe quem se coloque � frente da televis�o para ver quadros de com�dia ing�nua e qualidade t�cnica question�vel e que n�o tem epis�dios novos desde 1980?
No Brasil, "Chaves" - ou "El Chavo" no original - � exibido continuamente desde os anos 80 e � um dos programas de maior audi�ncia do SBT. Exibido em mais de 25 pa�ses, foi dublado em mais de 50 idiomas e acompanhou o crescimento de um p�blico que, muitas vezes sem admitir, continua a assistir a produ��o mesmo na idade adulta, junto com seus filhos ou n�o.
"Os programas infantis atuais s�o voltados para o cinismo. � delirante ou grosseiro como 'Bob Esponja', ou t�m muita viol�ncia, e 'Chaves' continua sendo puro, leve, ing�nuo, que s�o os valores de uma crian�a que o mundo p�e a perder depois", explica � AFP Jos� Antonio Vald�s, cr�tico de cinema e Tv mexicano.
Pobreza compartilhada
Situada numa humilde vila da Cidade do M�xico, a s�rie narra atrav�s da com�dia o dia a dia de uma s�rie de personagens liderados por Chaves, um menino �rf�o e pobre que vive dentro de um barril e sempre sonha com um sandu�che de presunto como gente rica como o seu Barriga, o dono das casas, pode fazer.
Na vila, o menino vivido por Bola�os convive com gente comum como seu Madruga, um desempregado pregui�oso que finge procurar trabalho; a filha de seu Madruga, Chiquinha, a melhor amiga de Chaves; dona Florinda, m�e solteira que, junto a seu filho mimado Quico, acredita ser superior a pessoas a quem chama de "gentalha".
"O impacto da s�rie se d� principalmente na Am�rica Latina, onde os n�veis de pobreza s�o altos, e as pessoas se identificam, por isso 'Chaves' � universal", afirma Vald�s.
A personagem mais famosa de Bola�os apareceu pela primeira vez em 1970 em cenas do programa "Chespirito" (brincadeira com o nome Shakespeare), mas, por causa de seu sucesso, a rede Televisa decidiu produzir, a partir de 1971, uma s�rie que teve 290 epis�dios at� sua �ltima transmiss�o em janeiro de 1980.
"Bola�os entendeu que a com�dia tem a ver com profundidade, tem a ver com a cr�tica social (...) e, se analisarmos os roteiros de 'Chaves', podemos encontrar c�digos bem interessantes, que falam da nossa pobreza de nossas car�ncias, da import�ncia da fam�lia, do papel da m�e. Ele realmente � o nosso Moli�re", opina �lvaro Cuesta, tamb�m cr�tico de tv.
Amado, mas criticado
Como outra personagem c�mica universal do M�xico, 'Cantinflas', "Chaves" tamb�m teve pessoas que criticam seu humor f�cil e de pastel�o ou a transmiss�o de valores conservadores e discriminat�rios.
Para o soci�logo e pesquisador da Universidade Nacional Aut�noma do M�xico (UNAM), Ra�l Rojas Soriano, as piadas que Quico fazia sobre a pobreza de Chaves, sobre a obesidade de Nhonho ou o descaso em rela��o � Bruxa do 71 exaltam comportamentos preconceituosos e machistas.
"As situa��es que acontecem envolvendo as personagens podem parecer piada, mas, na realidade, s�o um reflexo grave da sociedade e o programa n�o d� solu��es para melhorar a vida social dos habitantes da vila. Ao contr�rio, eles s�o cada vez mais denegridos", considera o acad�mico.
Mas nenhuma cr�tica parece importar para f�s devotados, que agora choram a morte de um criador que marcou sua inf�ncia e, j� adultos, passaram a admirar um programa que, apesar de datado, virou um verdadeiro cult.