
Minas Gerais, onde vivem 900 franceses, tamb�m sentiu a dor pelo ataque � reda��o da revista Charlie Hebdo, em Paris, na manh� de ontem. Mesmo � dist�ncia, a comunidade do pa�s europeu sente o clima de consterna��o, compartilha sofrimento e pede mais toler�ncia. O c�nsul honor�rio da Fran�a em Belo Horizonte, Manoel Bernardes, lamenta que esse crime tenha ocorrido num pa�s que sempre se posicionou como um “basti�o da liberdade”.
“Os franceses levam a s�rio a igualdade e se preocupam em enfrentar as dificuldades de integra��o. H� v�rios programas para promover essa integra��o e proibir a discrimina��o religiosa. A Fran�a � um dos pa�ses com maior popula��o imigrante e tem se sa�do bem nessa pol�tica”, afirma Bernardes. Com a maior comunidade mu�ulmana da Europa, estimada em 6 milh�es de pessoas, o c�nsul n�o tem d�vidas de que a Fran�a conseguir� tirar frutos dessa trag�dia. “Haver� uma coes�o maior contra o terrorismo e a xenofobia”, ressalta.
Ao saber do atentado terrorista em Paris, os olhos do franc�s Pierre Alfarroba, de 35 anos, encheram-se de l�grimas. H� dois meses, ele se mudou com a fam�lia da capital francesa para dirigir a unidade da Alian�a Francesa, em Belo Horizonte. “� um drama absoluto, um ataque contra uma das liberdades fundamentais, que � a liberdade de express�o e de informa��o”, diz Pierre, que cresceu lendo a revista Charlie Hebdo.
Nascido na periferia parisiense, em ambiente de diversidade cultural e religiosa, Pierre teme que a popula��o mu�ulmana se torne, junto da liberdade de express�o, v�tima desse ataque. “� uma porta aberta � cr�tica ao Isl�, e isso � muito perigoso. H� uma tend�ncia forte de se generalizar. Somente uma minoria mu�ulmana � extremista”, refor�a o franc�s.
Pierre ressalta que seus amigos mu�ulmanos est�o muito abalados. Para ele, o momento deve tamb�m servir como uma forma de combater a “isl�mofobia”, ou seja, o preconceito em rela��o aos mu�ulmanos. “� muito importante que todo o pa�s e o presidente da Rep�blica se posicione contra todo tipo de extremismo”, afirma Pierre, que convive em casa com a diversidade – a esposa � nigeriana, a filha nasceu no Egito e o filho nasceu h� tr�s semanas em BH. “Se estivesse em Paris, seria parte desse grupo de milhares de pessoas que est�o protestando contra o extremismo”, diz.
Ataque ao sonho
H� um ano morando em Belo Horizonte, a francesa Christine Chueire, de 49, conta que, na hora em que soube do ataque, sentiu “muita tristeza” e precisou se concentrar para conseguir cumprir com as obriga��es do dia. “� um ataque ao sonho de conviver nos princ�pios da Rep�blica, em harmonia. � um caso de fanatismo”, afirma. A primeira rea��o de Christine foi procurar o m�ximo de informa��es pela internet e, a cada mat�ria lida, a triste conclus�o: “A vida das pessoas tem pouca import�ncia para os outros”, diz.
Natural do Norte da Fran�a, Christine torce para que o ataque em Paris seja um recado para toda a sociedade. “Temos que criar animosidade pela paz, pela compreens�o do outro para evitar o crescimento desses extremismos. A Fran�a tem a particularidade de ser um pa�s muito laico e ter uma postura de grande toler�ncia tanto em rela��o �queles que t�m religi�o quanto aos que n�o t�m”, afirma Christine, que lamenta muito as mortes. “Eles todos tiveram um papel importante na implanta��o desse jornalismo mais cr�tico”, refor�a.