Sem mudan�as, o mundo ir� mergulhar numa crise h�drica que pode ser incapacitante para os pa�ses quentes e secos - alertou a Organiza��o das Na��es Unidas nesta sexta-feira.
Em um relat�rio anual, a ONU afirmou que o desperd�cio de �gua � t�o grande atualmente, que o mundo ir� enfrentar um "d�ficit global da �gua" de 40% em 2030 - a diferen�a entre a demanda e a reposi��o da �gua.
"O fato � que h� �gua suficiente para satisfazer as necessidades do mundo, mas n�o sem mudar drasticamente a forma como a �gua � utilizada, gerenciada e compartilhada", disse a ONU em seu relat�rio anual sobre o Desenvolvimento Mundial da �gua.
"Mensurabilidade, acompanhamento e execu��o" s�o urgentemente necess�rias para fazer uso sustent�vel da �gua, afirmou Michel Jarraud, chefe da Organiza��o Meteorol�gica Mundial (OMM), ag�ncia da ONU para a �gua.
O crescimento desenfreado da popula��o � um dos maiores impulsionadores da futura crise, disse o relat�rio.
O atual n�mero de cerca de 7,3 bilh�es de seres humanos da Terra aumenta por volta de 80 milh�es ao ano, atingindo a prov�vel marca de 9,1 bilh�es at� 2050.
Para alimentar essas bocas a mais, a agricultura, que j� responde por cerca de 70 por cento de todas as retiradas de �gua, ter� de aumentar a produ��o em cerca de 60 por cento.
A mudan�a do clima - que ir� depender de quando, onde e como a chuva vier no nosso caminho - e a urbaniza��o ir�o impulsionar a futura crise.
O relat�rio apontou para uma longa lista de abusos atuais, da contamina��o da �gua por pesticidas � polui��o industrial, passando pelo escoamento de esgoto n�o tratado, a super-explora��o, principalmente para irriga��o.
Mais da metade da popula��o do mundo obt�m abastecimento pot�vel a partir de �guas subterr�neas, que tamb�m fornecem 43 por cento de toda a �gua utilizada para a irriga��o.
Cerca de 20 por cento destes aqu�feros est�o sofrendo uma super-explora��o perigosa, disse o relat�rio.
Tanta �gua doce tem sido sugada da rocha esponjosa, o que resulta na subsid�ncia, ou seja, a intrus�o salina na �gua doce em zonas costeiras.
Em 2050, a demanda mundial de �gua deve aumentar 55 por cento, principalmente em resposta ao crescimento urbano.
"As cidades ter�o de ir mais longe ou cavar mais fundo para terem acesso � �gua, ou ter�o que depender de solu��es inovadoras e de alta tecnologia para atender �s suas demandas de �gua", prev� o relat�rio.
O panorama, que deve ser lan�ado em Nova D�lhi, re�ne dados de 31 ag�ncias do sistema ONU e 37 parceiros da ONU-�gua.
O documento coloca os holofotes sobre regi�es quentes, secas e sedentos que j� est�o lutando contra a demanda implac�vel.
Na plan�cie norte da China, a irriga��o intensiva fez com que o len�ol fre�tico diminu�sse mais de 40 metros em alguns lugares, segundo o relat�rio.
Na �ndia, o n�mero de chamados de po�os artesianos, puxando �gua subterr�nea para a superf�cie, passou de menos de um milh�o em 1960 para quase 19 milh�es 40 anos mais tarde.
"Esta revolu��o tecnol�gica tem desempenhado um papel importante nos esfor�os do pa�s para combater a pobreza, mas o desenvolvimento da irriga��o que se seguiu tem, por sua vez, resultado em estresse h�drico significativo em algumas regi�es do pa�s, como Maharashtra e o Rajast�o", ressalta o relat�rio.
Torneiras vazias e reservat�rios secos
O especialista em �gua Richard Connor, principal autor do relat�rio, afirmou que a perspectiva � desoladora para algumas �reas.
"Partes de China, �ndia e Estados Unidos, bem como do Oriente M�dio, foram contando com a extra��o subterr�nea insustent�vel para atender �s demandas de �gua existentes", disse Connor � AFP.
"Na minha opini�o pessoal este �, na melhor das hip�teses, um plano B m�ope. Na medida em que esses recursos de �gua subterr�nea forem se esgotando, n�o haver� plano C, e algumas dessas �reas pode de fato tornar-se inabit�veis", prosseguiu.
No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC), vencedor do pr�mio Nobel, estimou que cerca de 80 por cento da popula��o do mundo "j� sofre s�rias amea�as � sua seguran�a h�drica, medida por indicadores como disponibilidade de �gua, demanda por �gua e polui��o".
"A mudan�a clim�tica pode alterar a disponibilidade de �gua e, portanto, amea�ar a seguran�a da �gua", alertou o IPCC.
Corrigir os problemas - e atender �s necessidades dos 748 milh�es de pessoas sem �gua pot�vel melhorada e dos 2,5 bilh�es sem rede de esgoto - exige intelig�ncia e agilidade dos governos, pontuou o novo relat�rio da ONU.
Em termos reais, isto significa colocar juntos regras e incentivos para reduzir os res�duos, puni��o � polui��o, incentivo � inova��o e fomento de h�bitats que proporcionam para�sos para a biodiversidade e �gua para os seres humanos.
Significa, tamb�m, aprender a neutralizar poss�veis conflitos por �gua - j� que diversos grupos disputam um recurso precioso e cada vez mais escasso.
"As tarifas de �gua praticadas atualmente s�o, em geral, muito baixas para realmente coibir o uso excessivo de �gua pelas fam�lias ricas ou pela ind�stria", observou o relat�rio, que alerta para uma futura revis�o de pre�os.
Mas o documento pondera: "o uso respons�vel �s vezes pode ser mais eficazmente promovido atrav�s de a��es de sensibiliza��o e apelando para o bem comum" do que somente pelo bolso.