Quatro variedades de uvas ca�das em esquecimento da regi�o de Champagne ressurgem nesta �rea do nordeste da Fran�a, dominada por pinot noir e chardonnay, gra�as - em parte - ao aquecimento global.
Elas se chamam arbane, petit meslier, fromentot e blanc vrai: quatro variedades ancestrais de uvas brancas autorizadas pela denomina��o de origem controlada (AOC) Champagne, mas deixadas de lado pelos viticultores que preferiram pinot noir, pinot meunier e chardonnay, mais constantes em termos de qualidade e rendimento.
Depois que a filoxera e a Primeira Guerra Mundial dizimaram os vinhedos de Champagne, as esp�cies mais adaptadas se impuseram. Das vinhas hist�ricas de matura��o tardia e rendimentos incertos das variedades minorit�rias, restaram apenas algumas parcelas, que ocupam 0,3% dos 34.000 hectares que produzem as uvas do "vinho dos reis".
"Se estas variedades foram esquecidas, n�o foi � toa. � verdade que s�o fr�geis e que ficam verdes um ano de cada cinco, mas � meu dever manter este patrim�nio, preservar a biodiversidade e tratar de tirar o melhor destas uvas", afirma Michel Drappier, viticultor em Urville, que reserva algumas zonas privilegiadas para estas uvas.
Enquanto a colheita de 2015 se anuncia excepcional ap�s um ver�o escaldante, seus 50 acres de arbane produzir�o o equivalente a 5.000 quilos por hectare - tr�s vezes menos do que o rendimento m�dio do pinot noir.
A cepa arbane foi "provavelmente trazida pelos romanos. Mas sua origem continua sendo um mist�rio, j� que o estudo de seu genoma n�o revelou sua filia��o", nota o viticultor, que confessa ter uma queda por essa variedade.
A cada ano, ele re�ne os melhores vinho de arbane, de petit meslier e de blanc vrai com o cl�ssico chardonnay para produzir cerca de 3.000 garrafas de seu "Quattuor", cujos sabores tensos e minerais evocam perfumes de flores brancas e c�tricos.
- 'Totalmente ben�fico' -
As casas Moutard ou ainda Tarlant tamb�m elaboram "cuv�es" com estas variedades hist�ricas. Um mercado aned�tico para estes vinhos com sabores de outrora, mas que tende a se desenvolver entre os amantes de produtos "aut�nticos", � imagem do entusiasmo pelas variedades de tub�rculos antigos e esquecidos.
"A vinha � uma planta mediterr�nea, precisa de calor e a alta das temperaturas devido ao aquecimento global em Champagne melhora a qualidade de nossos vinhos, inclu�do os que v�m de antigas cepas caprichosas, que talvez por isso t�m um bom futuro", explica Michel Drappier.
Segundo ele, os ver�es escaldantes e secos beneficiam a cepa arbane e a petit meslier, que precisam do m�ximo poss�vel de sol para concentrar seus a��cares.
O Comit� Interprofissional do Vinho de Champagne (CIVC) vigia de perto os efeitos do aquecimento global nos vinhedos, e constata que "at� o momento, � totalmente ben�fico" - � o que diz Dominique Moncomble, diretor t�cnico do CIVC.
"Desde os anos 1990, observamos uma precocidade da flora��o e das safras de cerca de duas semanas", ressaltou.
Os cachos de uvas ficam maiores, mais rechonchudos, mais saud�veis e com taxas de �lcool em progress�o de quase um grau em favor da matura��o escalonada dos dias estivais mais longos. Os n�veis mais altos de CO2 na atmosfera tamb�m melhora a efic�cia da fotoss�ntese.
"Elaboramos cen�rios para o futuro levando em conta as poss�veis evolu��es do clima. Neste contexto, as cepas 'esquecidas', para al�m do lado patrimonial, merecem toda nossa aten��o", estima Moncomble.