Em busca de sua independ�ncia energ�tica e credibilidade ecol�gica, o Jap�o, sexto emissor de gases de efeito estufa, quer surpreender o mundo criando uma "sociedade do hidrog�nio", um sonho que deixa os especialistas c�ticos.
O pa�s decepcionou seus parceiros com o compromisso de reduzir as emiss�es em 26% entre 2013 e 2030, apresentado com vistas � confer�ncia internacional da ONU sobre o clima (COP21), que ser� celebrada em Paris entre 30 de novembro e 11 de dezembro.
No entanto, espera contribuir para o debate, gra�as ao seu avan�o tecnol�gico na �rea do hidrog�nio, que tem como vantagem n�o emitir durante sua combust�o nenhuma subst�ncia contaminante, apenas vapor d'�gua.
Esta � a nova obsess�o do Jap�o, que "construiu uma vis�o de sociedade baseada no hidrog�nio, integrando a dimens�o energia e transportes", resumiu Pierre-Etienne Franc, diretor de mercados e tecnologias avan�adas do grupo franc�s Air Liquide, muito envolvido no tema.
"O hidrog�nio � a energia do futuro", assegura o primeiro-ministro japon�s, Shinzo Abe, de olho em um mercado de n�o menos de um trilh�o de ienes (7,5 bilh�es de euros, 8,3 bilh�es de d�lares) anuais para o setor em 2030, com uma bela oportunidade de promo��o durante os Jogos Ol�mpicos de T�quio-2020.
O projeto ganhou import�ncia ap�s a cat�strofe de Fukushima, que privou todo o arquip�lago de energia nuclear durante dois anos.
Desde 2009, muitas casas s�o dotadas de c�lulas de combust�vel alimentadas com hidrog�nio, que produzem eletricidade desprendendo calor. O objetivo � chegar a equipar 1,4 milh�o de lares em 2020 e 5,3 milh�es em 2030.
Custo pode ser dissuasivo
A conquista � lenta e apenas cem mil casas s�o equipadas com estas c�lulas atualmente. Apesar das subven��es estatais e da ofensiva de empresas como Panasonic e Toshiba, estes sistemas ainda s�o caros - custam 2 milh�es de ienes (15 mil euros, 16,5 mil d�lares) cada.
No setor automotivo, o arquip�lago tamb�m leva vantagem � frente da Alemanha e dos Estados Unidos, gra�as ao lan�amento, no final de 2014, do "Mirai" (futuro em japon�s), da gigante Toyota. Do Jap�o, este "primeiro carro de s�rie no mundo" alimentado por hidrog�nio acaba de chegar a Europa e aos Estados Unidos.
Apesar do pre�o salgado (mais de 60 mil euros, 66 mil d�lares sem os impostos), h� demanda. Mas sua fabrica��o � delicada e � feita a conta-gotas e por isso apenas algumas centenas de modelos v�o circular este ano.
Suas vantagens? Zero emiss�es de CO2 em seu uso e "uma autonomia similar � de um carro com motor a gasolina para um tempo de reabastecimento entre tr�s e cinco minutos", antecipou a Toyota, que considera este �ltimo o grande diferencial com rela��o aos carros el�tricos.
"Os FCV (ve�culos 'fuel-cell') se revelam como os carros ecol�gicos ideais", avalia Hisashi Nakai, especialista do departamento de planejamento estrat�gico do grupo. "O principal problema � o custo, acabamos de come�ar, isto n�o se consegue de um dia para o outro", justifica.
Consultado sobre os temores dos usu�rios a respeito dos riscos deste g�s altamente inflam�vel, respondeu: o dep�sito pode resistir a qualquer choque, realizamos centenas de testes. Inclusive se levar disparos (de arma de fogo), n�o explode".
A Toyota n�o est� s�. A Honda pretende lan�ar em mar�o seu pr�prio carro com c�lula de combust�vel e a Nissan tem sido inserida pelo governo nesta aventura, apesar das retic�ncias da empresa pelo baixo n�mero de infraestruturas - em todo o Jap�o h� apenas algumas dezenas de postos de abastecimento especializados.
Hidrog�nio 'verde' para quando?
"Nesta ambi��o magn�fica, o Jap�o peca por sua estrat�gia de regulamenta��o extremamente limitante", lamentou o encarregado da Air Liquide, que fala de "obriga��es de seguran�a" muito estritas para evitar o menor vazamento deste g�s incolor e inodoro. Assim, seu pre�o de custo � "entre duas e tr�s vezes maior" do que em outros lugares e beira os tr�s milh�es de euros (3,3 mil d�lares) por posto.
Outra desvantagem importante: atualmente, o hidrog�nio � produzido essencialmente a partir de hidrocarbonetos, que emitem gases de efeito estufa. "Vender a economia do hidrog�nio sem mudar sua estrutura de produ��o � uma heresia!", admitiu Franc.
O Jap�o espera conseguir a m�dio prazo um hidrog�nio "verde", simplesmente mediante um processo de eletr�lise da �gua no qual a eletricidade proveria de fontes limpas, como e�lica, solar ou hidr�ulica.
Para Hubert de Mestier, ex-delegado-geral do grupo Total para o norte da �sia, a ambi��o japonesa relativa ao hidrog�nio � "um sonho" ainda longe da realidade. "A tecnologia n�o est� totalmente pronta, ser�o necess�rios sem d�vida v�rios anos antes de alcan�ar uma produ��o em massa", avaliou.
"O Jap�o erra de prioridade", disse, por sua vez, Ai Kashiwagi, da organiza��o ambientalista Greenpeace. "Se quer se comprometer com o desenvolvimento sustent�vel, que invista mais em energias limpas. Depois, chegar� o momento de pensar no hidrog�nio".