O presidente da Venezuela, Nicol�s Maduro, presta nesta sexta-feira contas sobre sua gest�o da grave crise econ�mica que asfixia o pa�s e ante um parlamento de maioria opositora, que tenta tir�-lo do poder.
Seu esperado discurso, programado para as 17H00 local (19H30 de Bras�lia) e que, segundo a Constitui��o, deve ser feito no mais tardar no dia 15 de janeiro, acontece em plena crise institucional desatada ap�s a tomada de posse h� dez dias da nova Assembleia Nacional, dominada pela oposi��o.
O calor do debate nas �ltimas duas semanas chegou ao ponto de o presidente do Parlamento, o radical antichavista Henry Ramos Allup, ter precisado enviar a Maduro uma mensagem atrav�s de sua esposa Cilia Flores.
"N�s o receberemos com serenidade e respeito", prometeu. Maduro entrar� na C�mara para se dirigir pela primeira vez a uma bancada opositora que desde o dia em que tomou o controle do Parlamento anunciou que buscar� uma via legal para "mudar o governo", e � qual Maduro acusa de planejar dar um "golpe de Estado" contra seu governo.
Seu comparecimento se tornou incerto depois que o Tribunal Supremo de Justi�a (TSJ) declarou na segunda-feira o Parlamento em desacato e anulou suas decis�es por ter juramentado tr�s deputados opositores que, acusados pelo governismo, est�o suspensos enquanto s�o investigados por suposta fraude eleitoral.
Mas a oposi��o precisou retroceder na quarta-feira, acatando a decis�o do TSJ de desvincular os legisladores questionados, e o Tribunal, acusado pela oposi��o de servir ao chavismo, levantou na quinta-feira o desacato e a decis�o de nulidade, tornando poss�vel ao presidente prestar contas ante a Assembleia.
Este primeiro cap�tulo da s�rie de confrontos de poderes deixa os venezuelanos preocupados. "Eu de verdade j� n�o sei o que vai acontecer aqui", declarou � AFP Juan Molina, um vigia de 44 anos.
No olho da tempestade econ�mica
A expectativa est� concentrada nas informa��es que o presidente dar� sobre o que admitiu chamar de "emerg�ncia econ�mica", devido � qual anunciar� em breve um plano com medidas de impulso � produ��o diante da depend�ncia quase total do petr�leo - fonte de 96% de divisas - num momento em que o pre�o est� no ch�o.
De antem�o, Ramos Allup desacreditou o "decreto de emerg�ncia econ�mica", ao afirmar que "a crise n�o � super�vel com este governo".
"� um modelo fracassado", disse o legislador, que coloca entre as prioridades da agenda opositora uma anistia para presos pol�ticos e reformas econ�micas.
O pa�s com as maiores reservas do mundo tamb�m tem, segundo consultoras privadas, a infla��o mais alta do mundo, superior a 200%, e sofre uma escassez aguda de alimentos e rem�dios, que geram longas filas que irritam os venezuelanos.
"Aos que est�o nas filas, aos que t�m problemas para ter acesso �s coisas, estamos trabalhando para eles. Para isso temos diferentes planos que estamos desenvolvendo, j� estamos trabalhando", disse na v�spera o soci�logo Luis Salas, novo ministro da Economia, considerado da ala radical de esquerda.
Maduro sustenta que o pa�s est� em uma tempestade econ�mica da qual s� � poss�vel sair com mais socialismo, diante de um Parlamento burgu�s aliado com os Estados Unidos que busca impor seu modelo neoliberal de privatiza��es e acabar com as conquistas sociais da revolu��o.
"Se o discurso � o mesmo (guerra econ�mica, imperialismo, controles, amea�as), a �nica diferen�a nos resultados... � que sejam piores", advertiu o economista Luis Vicente Le�n, presidente do Datan�lisis.
Analistas independentes recomendam a unifica��o das tr�s taxas de c�mbio - mais a do mercado negro, 125 vezes maior que a taxa mais baixa oficial -, a elimina��o do controle de pre�os, aumentar o pre�o da gasolina, que � quase gratuita neste pa�s, est�mulo ao investimento privado e redu��o dos gastos p�blicos.
"Este � um governo imprevis�vel. O presidente tem que fazer ajustes, mas n�o isolados, tomar decis�es sobre como vai resolver o d�ficit de 22%. Neste ano a contra��o econ�mica deve estar em 6,8% e pode ser pior", afirmou o economista Jos� Casique.
Os analistas temem que o confrontos dos poderes adie a aten��o para a crise, prioridade dos venezuelanos. S�mbolo do confronto � o Parlamento, agora sem os retratos de Hugo Ch�vez, que Ramos Allup mandou retirar.