
N�o s�o tolerados desvios. No pa�s mais herm�tico do planeta, qualquer sinal de contesta��o � punido com trabalho for�ado, pris�o e execu��o. Especialista em nacional-socialismo e na doutrina��o implementada pelo Terceiro Reich de Adolf Hitler, o historiador e soci�logo Michael H. Kater – docente da York University, em Toronto, Canad� – explica ao Estado de Minas que os professores da Coreia do Norte s�o treinados para acreditar na omnisci�ncia de Kim Jong-Un. “As crian�as se veem compelidas a regurgitar o que lhes � dito. Quaisquer obje��es s�o punidas pelo pr�prio mestre ou pela organiza��o juvenil nacional. Fotografias do ditador est�o penduradas em cada sala de aula. O Estado organiza eventos em que professores e jovens t�m a obriga��o entoar cantos, em honra ao l�der.”
Kater explica que o regime usa dois instrumentos para se certificar de que os cidad�os fazem a linha do Partido Comunista: os campos de concentra��o, espalhados por todo o pa�s e a amea�a de execu��o. “Os presos, incluindo crian�as, podem ser mortos pelos guardas sem motivo aparente. Espi�es vigiam toda a popula��o”.
Capit�o desertor do Ex�rcito da Coreia do Norte, Kim Joo-Il (Veja entrevista) conta ao EM que o regime come�ou a construir e a integrar os campos de pris�o pol�tica em 1947, que mant�m 154 mil detidos. “Hoje, h� seis dessas instala��es, uma vers�o moderna dos campos de concentra��o nazistas, al�m de centenas de campos correcionais de trabalho e centros de deten��o”, diz.
A vigil�ncia sobre a sociedade � fortalecida por meio de ag�ncias de informa��o e de controle. “O regime adota um desumano sistema de crime por associa��o. As puni��es se estendem n�o apenas ao transgressor, mas ao primo de terceira gera��o. Em resumo, a Coreia do Norte perpetua um sistema pol�tico assassino que cria um medo psicol�gico desumano”, conclui Joo-Il. Os norte-coreanos seguem a m�xima “Se eu aguentar, minha fam�lia pode viver” – uma forte influ�ncia do confucionismo.
Kater afirma que, ao contr�rio da ditadura militar no Brasil, Pyongyang “� um regime totalit�rio com ideologia comunista p�s-stalinista”. “A face p�blica desta ideologia � a dinastia ditatorial da fam�lia Kim. Mas ela n�o passa de uma tirania pessoal apoiada pelos servi�os policiais e pelo Ex�rcito”, lembra, ao frisar que o pr�prio Kim Jong-Un sofre de um medo letal dos militares e ordena execu��es em altas patentes, a fim de afastar o risco de golpe.
ARMAS E MIS�RIA O governo aplica 25% do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em US$ 40 bilh�es, nas For�as Armadas e no programa nuclear, e condena sua popula��o � mis�ria e � fome. Como o sistema de racionamento da economia e a produ��o tiveram perdas de at� 80% na d�cada de 1990, o regime enviou 46 mil pessoas para 40 na��es, a fim de captarem moedas estrangeiras.
Consideradas 'escravas no exterior', elas enviam at� US$ 1,3 bilh�o por ano a Pyongyang”, observa Kim Joo-Il. Ele relata que cada trabalhador do pa�s tem direito a um sal�rio mensal de US$ 120 (R$ 480, aproximadamente), mas recebe somente 10%. O restante costuma ser repassado ao chamado Escrit�rio 39, uma esp�cie de verbas de suborno para o ditador.
ENTREVISTA
Kim Joo-Il, ex-capit�o do Ex�rcito, desertor, asilado no Reino Unido
Um grito de liberdade
Com a patente de capit�o, ele gozava de respeito e de admira��o no Ex�rcito da Coreia do Norte. Em 1997, viu a irm� de 4 anos definhar, com fome, at� a morte – em tr�s anos, 3 milh�es de pessoas sucumbiram � falta de alimentos. At� que, em 26 de agosto de 2005, desertou, abandonou o pa�s e escapou rumo � China, ao atravessar a nado o Rio Dooman. Em 2007, com a ajuda de uma ONG, foi para o Reino Unido. Aos 43 anos, casado e pai de duas garotas, Kim Joo-Il vive como asilado nos arredores de Londres, onde dirige a Associa��o Internacional para Direitos Humanos e Democracia para os Norte-Coreanos (INKAHRD). Em entrevista exclusiva ao EM, Kim Joo-Il acusa o regime de Kim Jong-Un de violar direitos humanos b�sicos da popula��o.
Como a Coreia do Norte costuma doutrinar as crian�as para se tornarem obedientes ao regime?
Os norte-coreanos recebem uma lavagem cerebral do momento em que nascem at� sua morte. A primeira express�o que as crian�as do jardim de inf�ncia aprendem, aos 5 ou 6 anos, � “Obrigado, l�der querido”. Desde ent�o, at� a entrada na universidade, a educa��o escolar se foca na idolatria e na diviniza��o do ditador, temas presentes em 30% do curr�culo. A meta final � nutrir indiv�duos que sejam capazes de se engajar em atentados suicidas, se for desejo do ditador.
O senhor poderia citar exemplos de desrespeito aos direitos humanos?
A liberdade de religi�o � gravemente violada na Coreia do Norte. O regime torturou, massacrou e prendeu religiosos em campos de trabalho for�ado, sob as ordens de Kim Il-Sung, em 1962. Mulheres e crian�as s�o vulner�veis �s viola��es dos direitos humanos, experimentam aborto for�ado, tr�fico humano e outros tratamentos desumanos. O regime considera deficientes f�sicos como uma desgra�a, algo que mancha a reputa��o do pa�s. E eles s�o usados como cobaias em testes m�dicos. As viola��es dos direitos humanos atingem todos os aspectos da sociedade. Por n�o podermos ignorar tal realidade, criei no Reino Unido uma organiza��o n�o governamental e editamos um jornal. S�o esfor�os para permitir que o mundo saiba sobre a situa��o de direitos humanos na Coreia do Norte.