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Estado de Minas

Congoleses relembram luta de Ali em Kinshasa: 'ele nos enfeiti�ou'


postado em 04/06/2016 17:22

"Passamos toda nossa juventude pensando em Muhammad Ali, foi ele que nos fez". Em Kinshasa, Martino Kavuala relembra com emo��o a passagem do "maior campe�o de todos os tempos", na "luta do s�culo" contra George Foreman, em 1974.

"Na �poca, se voc� era jovem e n�o lutava boxe, voc� era um falso jovem, n�o tinha lugar na sociedade", conta o ex-pugilista amador de 63 anos, que trabalha hoje como corretor de im�veis.

Ali, que faleceu na sexta-feira, aos 74 anos de idade, "tinha estilo pr�prio. Quando ele estava no ringue, fazia aquela dan�a com os p�s. Isso nos enfeiti�ou", descreve.

Kavuala j� era f� do americano antes mesmo da viagem � Rep�blica do Congo, ent�o chamada de Zaire, quando ainda se chamava Cassius Clay.

No final da d�cada de 1960, em Kinshasa, "os jovens eram como c�es raivosos. Era melhor n�o chegar perto", lembra o sessent�o, �s gargalhadas. "T�nhamos gangues de bairros e para namorar com uma garota de outro bairro, era melhor saber de defender", justifica.

'Multid�o de boxeadores'

"Cada homem tinha que aprender a se defender e Ali era um modelo para n�s. Em Kinshasa, h� multid�es de boxeadores", explica.

"Tirando o futebol, o boxe era a m�e de todas as outras modalidades, e a cidade toda s� falava em Muhammad Ali", enfatiza. "Foi por isso que o 'presidente-marechal' Mobutu (ditador que ficou no poder de 1965 a 1997) achou bom organizar a luta do s�culo aqui".

O combate, que aconteceu no dia 30 de outubro de 1974, ganhou o apelido de 'Rumble in the jungle' (briga na selva).

Timba Kabwe 'Bougnol' viu tudo de perto. Hoje com 65 anos, depois de uma longa carreira de boxeador e treinador, Kabwe j� tinha fundado o Boxing Club de Gombe, no norte da capital congolesa, quando Ali desembarcou no pa�s.

Ele fez parte da numerosa equipe contratada para acompanhar o americano nas longas semanas que passou em solo africano antes da luta. Quando o dia enfim chegou, teve o privil�gio de assistir � vit�ria de Ali a poucos metros do ringue, no est�dio do dia 20 de maio (hoje chamado Tata-Rafa�l).

'Chuva de ben��os'

"Foreman era muito mais forte. Ele batia demais", relembra. "Mas no oitavo assalto, quando Ali sentiu que o advers�rio estava cansado, acertou dois socos no rosto, aqui e aqui", mostra Kabwe, apontando para o queixo e a t�mpora. "Foreman desabou".

Kavuala n�o teve a mesma sorte. Assistiu � luta pela televis�o, na escola de avia��o do Katanga, no sudeste do pa�s.

"Ficamos com medo, mas foi s� um susto. Sinceramente, se Ali tivesse sido derrotado aqui no Congo, todo o Zaire e a �frica inteira teriam ficado de luto", avisa.

O combate come�ou no meio da noite, para poder ser transmitido ao vivo em hor�rio nobre na TV americana. "Logo depois, caiu muita chuva, tudo estava molhado", recorda 'Bougnol'. "Parecia uma chuva de ben��os", concorda Kavuala.

Ambos, por�m, t�m a impress�o de ser os guardi�es de uma hist�ria esquecida pelos congoleses.

"Com a morte de Muhammad Ali, parte da nossa hist�ria est� enterrada", lamenta Kavuala.

Kabwe ainda se lembra da su�te presidencial que a lenda o boxe ocupou no Hotel Intercontinental. O estabelecimento mudou de nome e a jovem recepcionista diz nunca ter ouvido falar em Muhammad Ali.

Th�ophile Kisoto, gari em Kinshasa, tinha 17 anos em 1974. Nos arredores do est�dio, ele lembra ter esperado "at� 3 horas da manh�" nas arquibancadas para ver os boxeadores entrarem no ringue.

"Havia muitos refletores, um monte", descreve. Hoje, � preciso usar telefone celular para enxergar nos corredores do est�dio, que est�o sem luz.

Ren� Mipendo, encarregado pela administra��o do espa�o, recebeu a visita da filha de Ali h� alguns anos. A �nica coisa que guarda do encontro � a lembran�a amarga de um apoio financeiro que nunca veio.


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