Em uma favela no Rio, um professor ensina badminton para 200 crian�as ao ritmo do samba, um m�todo que ele inventou e patenteou para facilitar a aprendizagem: seu filho ser� o primeiro jogador de badminton brasileiro a participar dos Jogos Ol�mpicos.
A cada fim de tarde, raquete na m�o, essas crian�as e adolescentes sobem a rua �ngreme que leva ao grande gin�sio azul da favela da Chacrinha, na Pra�a Seca, bairro da zona oeste do Rio, onde seus 5.000 habitantes vivem atormentados pelo tr�fico de drogas.
Durante duas horas, jogam badminton ao som de samba, ensaiando os passos como em uma pista de dan�a, fazendo girar seus corpos ao ritmo da m�sica, em uma esp�cie de bal�.
"Eles ret�m mais facilmente os movimentos dan�ando e se chateiam menos. E o ritmo do samba, um, dois, tr�s, � perfeito para o jogo de p�s no badminton", explica � AFP Sebasti�o Dias de Oliveira, de 51 anos, que desenvolveu esta metodologia "Bamon" h� quinze anos.
Fundador do projeto social Miratus 20 anos atr�s, no qual investiu todas as suas economias, Sebasti�o descobriu na batucada do pandeiro um forte potencial para o desenvolvimento das t�cnicas de badminton.
Ritmo, concentra��o, coordena��o
"As pessoas acham que todos os cariocas sabem sambar, mas n�o � verdade, a maioria das crian�as que v�m aqui n�o sabem. Elas aprendem o ritmo, a concentra��o e a coordena��o", diz ele.
O treinamento termina com partidas em que os alunos observam uns aos outros.
"Eu n�o posso explicar o que eu sinto, � s� emo��o, eu estou feliz, sinto-me importante", declara ao final da aula, com sorriso largo, Pedro Vinicius, de 10 anos, campe�o brasileiro de sua categoria.
Este treinamento original parece estar funcionando. A Chacrinha � hoje a maior f�brica de campe�es de badminton do Brasil. Quase 60% dos medalhistas juniores passaram por aqui.
Nos Jogos Ol�mpicos Rio 2016, Ygor Coelho, o filho de 19 anos de Sebasti�o, tamb�m poderia se apresentar como um campe�o origin�rio da favela, � imagem da judoca Rafaela Silva, 24 anos, primeira medalhista de ouro do Brasil, da favela Cidade de Deus.
"Eu n�o acho que o meu filho tem uma chance de medalha. Mas sair de um projeto social, de uma favela, isso j� � uma vit�ria, uma medalha", afirma Sebasti�o.
Do lixo para a raquete
E ele sabe do que fala. Seu desejo de criar Miratus veio de sua hist�ria pessoal, o seu desejo de trabalhar para a "inclus�o social".
Ele sabe que nem todos v�o se tornar atletas, mas ter�o aprendido os valores do esporte. Outras atividades s�o realizadas no gin�sio, como refor�o escolar.
Sebasti�o conta que sua m�e, uma empregada dom�stica, trabalhou para um ministro que n�o queria crian�as em sua casa e que usou sua influ�ncia para intern�-lo na FUNABEM, mesmo nunca tendo feito nada de errado. "Ele me excluiu", lamenta Sebasti�o.
Ele viveu na FUNABEM dos 7 aos 18 anos, tendo revisto sua m�e pela primeira vez ap�s 12 anos. "Ela deixou o emprego e conseguiu alugar uma pequena barraca nos sub�rbios".
"Para ajudar a minha m�e tive que trabalhar no lix�o do bairro, coletava tudo o que podia ser vendido e at� mesmo comida para comer", relembra.
"Eu poderia ter ido pra dire��o errada, ca�do no tr�fico de drogas, mas um educador da FUNABEM me estendeu a m�o quando eu tinha 16 anos e me ajudou a pegar o caminho certo. Eu quero fazer isso hoje", acrescenta.
Um dos instrutores, Aleksander Silva, de 32 anos, confessa que conseguiu escapar do tr�fico de drogas por meio do badminton. "Isso foi o que me salvou, eu teria sido pego pelo tr�fego e poderia at� estar morto hoje", afirma.