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Estado de Minas

Morre Fidel, o guerrilheiro e ditador que desafiou o gigante do norte


postado em 26/11/2016 10:43

S�o Paulo, 26 - Ap�s anos recluso e distante dos holofotes, o ex-l�der de Cuba Fidel Castro morreu na noite de sexta-feira no pa�s, madrugada deste s�bado no Brasil. Ele lutava contra uma doen�a intestinal h� uma d�cada e sua sa�de vinha se deteriorando. Em sua �ltima apari��o p�blica, para celebrar seu anivers�rio de 90 anos em agosto, demonstrava uma apar�ncia fr�gil.

O presidente de Cuba, Ra�l Castro, comunicou em rede nacional de televis�o a morte de seu irm�o mais velho. O governo cubano declarou nove dias de luto nacional, per�odo que deve se encerrar com o funeral, no dia 4 de dezembro.

Fidel Castro foi uma das figuras mais pol�micas do s�culo passado e tamb�m do come�o deste s�culo, depois de ter liderado um golpe no pa�s em janeiro de 1959.

Naqueles dias euf�ricos, centenas de milhares de cubanos sa�ram pelas ruas e campos do pa�s gritando liberdade, enquanto um novo governo formado por guerrilheiros barbudos, que haviam lutado durante tr�s anos nas serras contra o ditador Fulg�ncio Batista, tomava o poder no pa�s. Nos meses seguintes, cresceu a confronta��o entre o l�der da revolu��o, Fidel Castro, e o governo americano. Os Estados Unidos deixavam de comprar quase todo o a��car produzido pela ilha, praticamente seu �nico produto de exporta��o; as refinarias americanas na ilha paravam, ao n�o receber o petr�leo das matrizes nos EUA para a produ��o; e o pa�s entrou em uma crise profunda.

Mas os cubanos viram algo novo no pa�s: a abertura de escolas feitas por volunt�rios para combater o analfabetismo, que afligia pelo menos metade da popula��o; o fechamento dos cassinos e bord�is controlados pela m�fia �talo-americana da Costa Leste dos EUA e por partid�rios de Batista em Havana e em Santiago; a reforma agr�ria, com a reparti��o dos enormes latif�ndios de cana-de-a��car e a entrega de t�tulos de posse a milhares de camponeses miser�veis. Al�m disso, centenas de ex-militares e policiais do regime de Batista, acusados de torturas e assassinatos, foram levados a julgamentos p�blicos e punidos.

Era o clima da Guerra Fria. Tudo isso enfureceu os EUA, que armaram a invas�o de Playa Giron (ou da Ba�a dos Porcos, como ficou conhecida no mundo): 1.500 exilados cubanos, armados pela CIA, que partiram da Nicar�gua para derrubar o regime liderado por Fidel. Os cubanos, no entanto, apoiaram Fidel em massa. "Fidel Castro n�o � um comunista, mas a press�o dos Estados Unidos dever� transform�-lo em um comunista em dois ou tr�s anos," disse o l�der sovi�tico Nikita Kruchev em 1960.

Ap�s terem sido cercados na praia por mil�cias populares e for�as leais do Ex�rcito cubano, os invasores se renderam, depois de deixarem mais de cem mortos no combate. Muitos historiadores coincidem: a vit�ria de Playa Giron e a dura��o do regime comandado por Fidel s� foram poss�veis pela enorme popularidade do l�der e por grandes avan�os sociais que realmente ocorreram em Cuba, pelo menos nas d�cadas de 1960 e 1970.

O escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), um dos maiores cr�ticos da ditadura de Fidel, viveu no ex�lio em Londres a partir de 1965. Cabrera Infante destilou grande parte das cr�ticas � ditadura de Fidel em seu livro

Mea Cuba

, de 1992, no qual contou como o Partido Comunista cubano conseguiu transformar uma revolu��o popular em uma ditadura que estrangulou os dissidentes do regime.

O l�der cubano nasceu no dia 13 de agosto de 1927, na fazenda de cana-de-a��car de seu pai, perto de Bir�n, no litoral da prov�ncia cubana de Oriente. O pai de Fidel, Angel Castro, nascido na Gal�cia (Espanha) foi para Cuba com o ex�rcito espanhol, durante a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos (1898). Com o fim da guerra, Angel, como v�rios espanh�is, preferiu tentar a sorte em Cuba, e seu primeiro emprego foi como trabalhador bra�al para a

United Fruit

, empresa americana.

Angel era um trabalhador resistente e econ�mico. Em 1926, ele comprou mais de 9.300 hectares de terra, sua primeira fazenda de cana-de-a��car. Em seu primeiro casamento, com uma professora cubana, teve dois filhos. Ele mantinha um romance com uma cozinheira cubana que trabalhava para a fam�lia, Lina Ruiz Gonz�lez. Ap�s a morte da primeira mulher, Angel se casou com Lina, que j� lhe havia dado tr�s filhos: Angela, Ram�n e Fidel. O casal teve mais tr�s filhas e um filho, Ra�l.

Fidel teve uma inf�ncia despreocupada. Ele entrou na escola p�blica local aos 6 anos e em 1942, aos 15 anos, come�ou o curso secund�rio em Havana. Tornou-se um orador brilhante e l�der estudantil. Em 1945, ingressou no curso de Direito da Universidade de Havana.

O primeiro ano marcante para Fidel foi 1948, quando ele visitou Bogot�, capital da Col�mbia. Ali participou de uma confer�ncia de estudantes, mas o clima na cidade deteriorou-se rapidamente quando um pol�tico colombiano foi assassinado por um fan�tico. O crime foi seguido por tumultos nos quais milhares de pessoas morreram. Fidel e seus colegas, suspeitos de tentar provocar um levante esquerdista no pa�s, foram retirados da Col�mbia em um avi�o de carga, arrumado pelo embaixador cubano.

"Os acontecimentos em Bogot� causaram profunda impress�o em Fidel. Ele jamais esqueceria o que esses fatos evidenciaram: a incr�vel viol�ncia que subjaz � superf�cie pac�fica da sociedade latino-americana," escreveu um dos seus bi�grafos, o escritor americano John J. Vail, professor de pol�tica na Universidade Rutgers (Nova Jersey).

Em 1953, Fidel e seus colegas planejaram a derrubada do ditador Fulgencio Batista. Com 79 companheiros, eles atacaram em 26 de julho o Quartel Moncada, o maior de Santiago de Cuba, em Oriente. O ataque fracassou. Apenas tr�s rebeldes morreram no assalto, mas 80 foram capturados. A maioria dos prisioneiros foi torturada e executada.

Fidel foi sentenciado a 15 anos de pris�o, mas acabou libertado em uma anistia dois anos depois, quando partiu para o ex�lio no M�xico. Com o apoio de v�rios companheiros, entre eles o m�dico argentino Ernesto "Che" Guevara, Fidel planejou a volta a Cuba. Em 2 de dezembro, a bordo do velho iate Granma, eles desembarcaram em uma praia. "Podemos afirmar que nossa revolu��o come�ou em condi��es inacredit�veis," disse Fidel em discurso de 1966.

Delatados, Fidel e os guerrilheiros sobreviventes fugiram para a Sierra Maestra, onde come�aram uma guerra de guerrilhas contra Batista. Em 2 de janeiro de 1959, Ernesto Guevara e Camilo Cienfuegos ocuparam Havana. Batista fugiu e o poder em Cuba foi posto repentinamente nas m�os de jovens revolucion�rios.

Apesar dos avan�os sociais observados pela popula��o, a partir de 1991, com o fim da Uni�o Sovi�tica e da ajuda financeira de Moscou a Havana, o regime cubano tornou-se isolado de quase todo o mundo. O pa�s enfrentou s�rias crises econ�micas e o regime precisou usar a for�a para calar opositores e dissidentes - um tra�o que se mostrou j� no final de 1959, quando Fidel, seu irm�o Ra�l e Ernesto "Che" Guevara julgaram o comandante guerrilheiro Huber Matos - um companheiro e dissidente que n�o aceitou a implanta��o do marxismo na ilha. Matos passou vinte anos preso na Isla de Pinos e depois partiu para o ex�lio em Miami.

Em fevereiro de 2006, doente, Fidel passou a presid�ncia de Cuba ao seu irm�o Ra�l Castro. Em 2011, renunciou ao secretariado geral do Partido Comunista de Cuba. Depois disso ele apareceu poucas vezes publicamente e se manteve afastado mesmo depois de o governo norte-americano de Barack Obama anunciar, em dezembro de 2014, que os dois governos decidiram restabelecer as rela��es diplom�ticas rompidas desde 1961 e adotar uma s�rie de mudan�as que ampliar�o o com�rcio e o fluxo de pessoas entre os dois pa�ses.

Questionado pelo jornalista italiano Gianni Min�, em entrevista de 1986, se estava satisfeito com seu papel hist�rico, Fidel respondeu: "Sim, estou plenamente satisfeito com a obra pela qual dediquei minha vida, sem deixar de ter um esp�rito cr�tico, sem deixar de ter uma insatisfa��o no sentido de que devo analisar o que fizemos e de que o que fizemos poderia ter sido feito melhor." (Equipe AE)


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