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Estado de Minas

Costa do Marfim cria abrigo para as chamadas 'crian�as malditas'


postado em 21/12/2016 18:31

G�rard, um menino de 8 anos com cabelo raspado, come tranquilamente em um refeit�rio de uma casa coletiva na Costa do Marfim. Estar vivo, no caso dele, � um milagre: em sua etnia, quando as m�es morrem no parto, os beb�s s�o afogados.

Este � o destino reservado aos beb�s da etnia taghana, ao norte do pa�s, que se encontram nessa situa��o.

O centro foi criado pelo abade Germain Coulibaly Kalari, de 54 anos, e � mantido financeiramente atrav�s de doa��es. Nele vivem 17 crian�as entre 3 e 14 anos, duas delas soropositivas. A iniciativa � a �nica no pa�s africano.

"As crian�as cujas m�es morrem dando � luz ou que nascem com alguma defici�ncia (normalmente) s�o eliminadas. Como s�o consideradas respons�veis, as eliminam fisicamente", explica esse sacerdote, que h� aproximadamente oito anos luta pela sobreviv�ncia destes pequenos.

Acreditam que s�o "uma maldi��o" para a fam�lia e para toda a comunidade, e assim surge a necessidade de se livrar deles, ressalta.

Esse tipo de cren�a existe em outros pa�ses africanos, como por exemplo em algumas regi�es de Madag�scar quando nascem g�meos. � um sinal de "m� sorte", pensam. Antes os matavam, hoje em dia apenas os abandonam.

'Afogamento no banheiro'

"Vi muitos casos. Isso me incentivou a tomar uma atitude para salvar essas crian�as da morte", conta o padre Kalari, sentado na varanda que serve por vezes de refeit�rio ou local de estudo para as crian�as.

G�rard, com um olhar alegre, foi o primeiro a ser salvo pelo padre Kalari. Salvou-se por pouco. Deve a vida �s parteiras que o entregaram ao padre.

Quanto aos deficientes, "ao perceberem que as crian�as t�m uma defici�ncia incur�vel, as afogam no banheiro", conta o sacerdote.

"S� de pensar, o sangue gela", complementa, em voz baixa.

H� casos em que as crian�as vivem alguns anos sem que ningu�m perceba a defici�ncia, e logo o fato de n�o poderem falar ou caminhar significa morte certa. Nestes casos, �s vezes usam produtos t�xicos.

- 'Encaminhar' como eufemismo para matar -

Em todos os casos nunca se utiliza a palavra matar. A f�rmula empregada � "encaminhar as crian�as aos seus verdadeiros pais, os g�nios, ou seja, seres sobrenaturais", afirma C�line, aproximadamente 40 anos, vendedora no mercado de Katiola.

Antes de realizar o ato, os que executam essa miss�o (frequentemente pessoas idosas ou curandeiros) fazem os familiares acreditarem que um esp�rito maligno interveio durante a concep��o da crian�a, motivo pelo qual n�o seria humana e devem ser "vigiadas".

As autoridades pro�bem todas essas pr�ticas e aplicam san��es a elas, mas na realidade acompanham os casos discretamente com a cumplicidade de parentes e sem process�-las.

"N�o encontrar� nenhum deficiente em nossa regi�o", certifica o abade Kalari, que aproveita os serm�es durante a missa para pedir o fim desses costumes.

Para o soci�logo Vincent Morif�, essa rejei��o pode ocorrer devido ao "estigma" que essas crian�as provocam em uma sociedade que "n�o tem um conhecimento real" do que � a invalidez.

"Ser� dif�cil para as nossas fam�lias renunciar a essa pr�tica", argumenta Abiba Kon�, respons�vel pelo centro h� cinco anos. "Se voc� possui um filho deficiente, voc� precisa dar toda a aten��o a eles, quando na verdade os pais passam muito tempo trabalhando no campo", adverte. "Como isso parece para eles uma perda de tempo, preferem eliminar a crian�a".

- Rejeitados em qualquer idade -

Com a ajuda de uma cozinheira, uma lavadeira e uma bab�, essa mulher se ocupa diariamente de um centro que sobrevive com doa��es de "pessoas bondosas, de ONGs e da vizinhan�a".

Al�m da zona privativa que pertence ao padre Kalari, a casa conta com um quarto para as meninas, ber�os para os beb�s, e outro espa�o para os meninos.

Em cada dormit�rio existem tr�s camas grandes com beliches e um arm�rio para a roupa.

A sala de estar abriga centenas de livros doados e uma televis�o pequena para as crian�as.

A rotina di�ria come�a com uma ora��o; depois tomam caf�-da-manh� e v�o ao col�gio. Os menores permanecem brincando.

O que mais preocupa ao sacerdote � o fato de que quando os menores completam 15 anos, devem deixar o centro. Assim lhe recomendou uma ministra.

"Os que voltam para as suas fam�lias sofrem de rejei��o, passam fome... Por�m, n�o podemos mant�-los aqui quando completam 15 anos", lamenta.


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