Os corpos mutilados de nove trabalhadores rurais foram enterrados esta semana na mesma terra avermelhada sobre a qual suaram por anos, mas isso n�o encerra a luta longa e violenta que se trava no cora��o agr�cola do Brasil.
O massacre dos agricultores seria um esc�ndalo em alguns lugares do mundo, mas no Brasil, onde h� cerca de 60.000 assassinatos ao ano, n�o ganhou o destaque que merecia.
Em parte porque ocorreu em uma zona remota do Mato Grosso, na localidade de Taquaru�u do Norte, onde sequer h� sinal telef�nico.
Quando os primeiros relatos da chacina vieram � tona, na semana passada, a pol�cia se viu for�ada a fazer uma complicada opera��o para poder chegar � cidade mais pr�xima, Colniza.
Os jornalistas, mesmo os dos maiores ve�culos de comunica��o, tiveram ainda mais dificuldade para chegar ao lugar. Os poucos que conseguiram encontraram uma cena arrepiante.
Nas fotos tiradas pelo pequeno site local, O Popular de Colniza, �s quais a AFP teve acesso, os corpos aparecem espalhados pelo terreno, com marcas de balas ou facadas. Um deles ainda tinha um machado cravado nas costas. Um outro homem aparece ca�do ao lado de uma moto, como se tivesse tentado fugir.
Lobby poderoso
Uma semana depois do crime b�rbaro, a pol�cia ainda n�o anunciou qualquer pista das motiva��es ou informou sobre qualquer pris�o ligada ao caso e o assunto praticamente desapareceu da m�dia brasileira.
O motivo principal, dizem os cr�ticos, � muito mais obscuro que os meros problemas de dist�ncia ou comunica��o.
A cena do crime fica no cora��o agr�cola brasileiro, onde reina a gigantesca e lucrativa ind�stria do agroneg�cio, e onde h� anos se testemunha o roubo de terras, o desmatamento ilegal e pol�ticas de destrui��o ambiental.
Protegidos pela bancada ruralista, com forte presen�a no Congresso, os latifundi�rios imp�em sua pr�pria lei em regi�es quilom�tricas, que �s vezes s� podem ser percorridas em avi�es.
Os pequenos agricultores se convertem, assim, em um obst�culo para a expans�o dos ricos fazendeiros e donos de madeireiras, e isso pode ter um pre�o alto, como aconteceu com as nove v�timas de Taquaru�u do Norte.
A Comiss�o Pastoral da Terra (CPT), vinculada � Igreja cat�lica, contabilizou 61 assassinatos em conflitos rurais em 2016 no Brasil, a cifra mais elevada desde 2003.
Crime inevit�vel
"A chacina se deu com requintes de crueldade inimagin�veis. N�o � um fato isolado. Acontece numa regi�o de fronteira agr�cola e de muitos conflitos, com outras �reas em tens�o", relata a Pastores do Campo, uma organiza��o que agrupa v�rios movimentos religiosos.
A ONG inscreve esta recente matan�a na expuls�o, em 2004, de 185 fam�lias que cultivavam terras nessa �rea.
A press�o � grande desde ent�o, com assassinatos, torturas e pris�es ilegais, apesar de centenas de pessoas continuarem vivendo e trabalhando nessas terras em disputa.
Antonio Neto, da ONG Justi�a Global, considera este �ltimo epis�dio como "inevit�vel".
"Os agricultores entram em conflito com os interesses de gente que quer esses peda�os de terra para aumentar seu poder. Geralmente, tentam cortar madeira nobre para depois plantar soja para exporta��o", explica Neto.
"Na maioria das vezes, os crimes n�o s�o investigados. N�o h� respons�veis pelos crimes e a impunidade os faz se sentirem livres para continuar fazendo esse tipo de coisa", conclui o ativista.