E se ajud�ssemos os neur�nios a "reparar" os danos causados pela esclerose m�ltipla? Esta � a pista que est� sendo explorada por cientistas franceses para conter o avan�o dessa doen�a autoimune e degenerativa, para a qual ainda n�o h� cura.
"O desafio terap�utico na esclerose m�ltipla consiste em prevenir o avan�o das defici�ncias, e uma das vias para conseguir isso � a repara��o da mielina" (membrana que envolve as fibras nervosas respons�veis pela condu��o dos impulsos el�tricos), que � destru�da progressivamente pela doen�a, explica a professora de neurologia Catherine Lubetzki.
A esclerose m�ltipla, cujo dia mundial � comemorado nesta quarta-feira, afeta mais de dois milh�es de pessoas no mundo.
No Instituto do C�rebro e da Medula espinhal (ICM) de Paris, onde Lubetzki dirige uma equipe de pesquisa, v�rios estudos demonstraram a import�ncia deste processo de "remieliniza��o", ou regenera��o da mielina, para o estado de sa�de dos doentes.
Na sua forma mais frequente, a esclerose m�ltipla se caracteriza por surtos inflamat�rios do sistema nervoso central (c�rebro e medula espinhal), seguidos de fases de remiss�o nas quais a mielina se reconstr�i parcialmente.
Mas as novas t�cnicas de imagem desenvolvidas no instituto, mais precisas do que a resson�ncia magn�tica, demonstraram que este "potencial" de repara��o � "muito diferente em fun��o dos pacientes", explica Benedetta Bodini, neurologista do ICM.
- "Melhorar o progn�stico" -
"Em uma resson�ncia magn�tica convencional se v� as les�es cerebrais, mas n�o podemos ver o que acontece dentro das les�es", afirma.
Injetando um marcador espec�fico, que se fixa na mielina, antes de realizar uma tomografia por emiss�o de positr�es (PET scan, procedimento que usa um agente de contraste radioativo), "pode-se medir at� que grau a mielina se encontra afetada", detalha Bodini.
Comparando as imagens cerebrais de v�rios pacientes, tomadas com tr�s meses de intervalo, a equipe de pesquisadores percebeu que os que tinham uma boa capacidade de regenera��o da mielina evolu�am melhor que os demais e sofriam com menos defici�ncias, acrescenta.
"Isto quer dizer que no dia em que tivermos medicamentos remielinizantes � nossa disposi��o, poderemos melhorar o progn�stico dos pacientes", aponta Bodini.
Buscando alcan�ar este objetivo, outra equipe do ICM identificou uma mol�cula que � segregada em maiores quantidades em pacientes com baixa capacidade de remieliniza��o.
Esta mol�cula, batizada de CCL19, foi patentada em 2017. "� um alvo terap�utico interessante: se esta mol�cula for inibida, ser� poss�vel aumentar a repara��o", explicou � AFP Violetta Zujovic, outra pesquisadora do ICM.
- Testes 'in vivo' -
Sua equipe testa, al�m disso, "distintos anticorpos" para determinar qual � capaz de impedir a a��o da mol�cula CCL19 sem provocar demasiados efeitos colaterais.
Os testes por enquanto s�o 'in vivo', em culturas de c�lulas de pacientes; depois ser�o feitos em animais e, por �ltimo, em humanos, um protocolo que dura "em m�dia dez anos", aponta a pesquisadora.
Na esclerose m�ltipla, o sistema imunol�gico do doente se altera e ataca seu pr�prio sistema nervoso, causando sintomas como fraqueza muscular, problemas de equil�brio, de vis�o, de fala ou at� mesmo paralisia, que podem regredir.
No longo prazo, por�m, isto pode progredir at� uma defici�ncia irrevers�vel.
Os tratamentos descobertos nos �ltimos 20 anos reduzem a frequ�ncia dos surtos e melhoram a qualidade de vida dos pacientes, mas n�o conseguem frear o avan�o da doen�a.
Alguns medicamentos recentes, eficazes em pacientes que n�o reagiram aos tratamentos tradicionais, no entanto, apresentam riscos de efeitos colaterais graves.